ATO III
Após aquele treino no campo esverdeado, as sombras das árvores se alongam, acompanhando silenciosamente o avanço das estações. A grama, outrora marcada pelo embate feroz, agora se regenerou, uma metáfora sutil para a transformação que se operou em nós.
Nas manhãs frescas que seguem, Bucu e Gálidus emergem das névoas da alvorada com uma nova postura. Em seus olhares, a impetuosidade juvenil deu lugar a uma maturidade forjada na fornalha dos dias árduos de treinamento.
Nosso campo de batalha diário se tornou um lugar de silenciosa compreensão, onde cada movimento era um diálogo, cada golpe uma lição. Bucu, que outrora brandia seu chicote com uma fúria indomada, agora articula estratégias com a tranquilidade de um rio que conhece seu leito. Gálidus, cuja raiva era seu combustível, encontrou na calma um novo aliado, tornando-se uma tempestade contida, pronta para desabar com precisão.
As flores que assistiram nosso primeiro confronto agora são testemunhas da nossa evolução. Nesse ciclo de treinamento e reflexão, a natureza em nosso redor mudou sutilmente, seguindo o ritmo das estações. As rosas e orquídeas, que antes eram o palco de nossa brutalidade, agora abraçam nossa jornada com a suavidade de suas pétalas e o perfume de suas flores.
Com um misto de determinação e humildade, Bucu e Gálidus se preparam para a batalha iminente. Eles sabem que têm muito a provar, não apenas para mim, mas para si mesmos, que aprenderam a lição. A adrenalina nos envolvendo, enquanto o campo de batalha se torna palco no embate final.
Assumo uma postura imponente. Minha confiança transparece em meu olhar penetrante. Estou pronto para enfrentar meus adversários novamente, ansioso para testemunhar se eles serão capazes de superar suas falhas anteriores.
Bucu e Gálidus, cientes da minha força, trocam um olhar determinado, preparados para enfrentar juntos o que quer que venha a seguir.
Com uma explosão de violência, inicio o combate, desencadeando uma série de ataques poderosos com a kurasi, testando a resistência e a astúcia dos meus oponentes.
Bucu e Gálidus, agora mais refinados em suas técnicas, esquivam-se com uma destreza impressionante. Bucu, em particular, empunha seu chicote com maestria, lançando-o em minha direção. Desta vez, a velocidade vem acompanhada da precisão e não consigo esquivar.
O chicote se enrola em meu braço, a carapaça de ébano rasgando a armadura e a pele, levando um pouco de meu sangue junto com os pedaços arrancados da armadura.
Do outro lado, Gálidus, observando meu momento de vulnerabilidade, prepara-se para avançar. Suas manoplas transformadas em garras mortais, mirando meu torso. Cada golpe é desferido com uma fúria controlada. Consigo desviar da maioria, mas um deles me atinge em cheio no flanco. Sinto as garras rasgarem minha pele, um calor úmido e pegajoso se espalhando rapidamente pela minha cintura, o sangue fluindo livremente, uma assinatura vermelha da violência.
Com um grunhido de dor e fúria, reajo instintivamente, lançando um soco devastador em direção a Gálidus. Meu punho encontra seu rosto. O impacto é tão brutal que os ossos do rosto de Gálidus estalam, seus olhos se revirando enquanto seu corpo é arremessado no ar, girando descontroladamente antes de cair pesadamente no chão.
Volto-me para Bucu, minha respiração pesada. Sem demora, ele me ataca com uma série de chicotadas, cada uma mais rápida e letal que a anterior. Desvio, giro, salto, mas sou surpreendido por Gálidus que retoma mirando um soco em meu peito. O golpe é veloz, mas me esquivo desviando sua mão, porém essa fração de segundo de distração é tudo que Bucu precisa, me atingindo nas costas com o chicote, deixando um rastro ardente de sangue e carne rasgada.
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As Crônicas de Marum - O Primordial
FantasiaNeste fascinante épico mitológico, mergulhamos no início dos tempos, onde o Universo nasce de uma união transcendente, emergindo como uma entidade de poder e consciência absolutos. Em meio à vastidão do nada, ele enfrenta a solidão primordial, dando...