Frosarla - Parte I

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ATO I (Zilevo)

A neve cobre o local como manto espesso e implacável, sinto cada floco gelado como uma lâmina contra minha pele. A cada minuto nesse local, minha respiração se torna cada vez mais fraca, os passos pesados e arrastados em direção a Frosarla. Da minha boca seca e congelada saindo somente a fumaça glacial, que se dissipa rapidamente no ar cortante.

Quanto mais próximo do objetivo, mais meu corpo parece se transformar em gelo puro.

Estou à procura da árvore primordial, mas meus olhos, já quase cegos pela forte nevasca que enfrento no caminho, só conseguem discernir o branco imaculado da neve.

Acho melhor voltar, não estou aguentando mais este frio — penso, sentindo a dor aguda do frio morde minha pele.

Indeciso, pondero se volto para meus irmãos ou se continuo à procura da possível existência da árvore forla. Até ouvir alto rugido, semelhante ao que escutei após ter me livrado da nevasca.

— GRRR-OU!

Desta vez, o som é mais alto e claramente mais próximo, como se a fonte do rugido estivesse ao meu lado. No entanto, meus olhos, embaçados e lacrimejantes pelo vento gelado, não observam nada de hostil no aberto campo de neve.

— GRRR-OU!! — O rugido se repete. Cada vez mais perto.

Não é o som estrondoso e penetrante que me assusta, mas sim o seu tom familiar, que ressoa em minha mente como eco distante.

Será que realmente é ele? — reflito, inundado por desesperada esperança. — HÓNKER! — grito, esquecendo os conselhos de Tanri. — SOU EU! ZILEVO! APAREÇA! NÃO TE MACHUCAREI!

— GRRR-OU!!!

O rugido dessa vez vindo do alto, como se estivesse reverberando sobre minha cabeça.

— HÓNKER! SOU EU...

Surpreendido por monstro humanoide assustadoramente grande que se ergue da neve como uma tempestade viva, socando meu torso com uma força brutal, arremessando-me para longe. Rolo severamente na neve, sentindo cada partícula gelada cortar minha pele enquanto sou enterrado sob o manto branco.

— Ow! O que um monstro desse faz fora de Salacrum?! — exclamo em minha mente, levantando-me aos poucos do chão, tirando a neve grudada em meu rosto, como areia molhada.

Analisando a criatura, percebo sua envergadura colossal, com quase o dobro do tamanho de Córpulus. Sua presença é quase sobrenatural, como se fosse uma manifestação do próprio inverno. A criatura veste armadura amarronzada que parece forjada a partir do próprio gelo, revestida por cristais de gelo que cintilam nos ombros, joelhos e costas, como estalactites pendendo de uma caverna gelada. Seu rosto é protegido por imponente elmo com dois chifres quebrados que sugerem batalhas anteriores, e através das aberturas do elmo, posso ver apenas seus olhos verde-escuro...

Esses olhos! Eu...

— GRRR-OU! — Ruge a colossal criatura, interrompendo-me com rugido tão ressonante que posso sentir em meus ossos.

Com agilidade surpreendente para seu tamanho ela corre em minha direção, saltando velozmente contra mim, mas com astúcia, esquivo, desembainho minha adaga rapidamente e a cravo no peitoral da criatura, escalando-a e perfurando sua carapaça.

Ela se golpeia furiosamente no peito na tentativa desesperada de me derrubar, mas retiro a adaga e me desprendo da criatura antes que seus golpes possam me atingir.

— HÓNKER, SOU EU! — exclamo, reconhecendo os olhos de esmeralda da criatura, levantando-me com os braços abertos, expondo-me de forma indefesa, torcendo para que Hónker se lembre de mim.

As Crônicas de Marum - O PrimordialOnde histórias criam vida. Descubra agora