Hipernova - Parte III

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ATO III (Lésnar)

As lágrimas, como pequenos rios de dor e arrependimento, traçam caminhos salgados por minha face, marcando a pele com o peso da decisão. Cada gota que escapa dos meus olhos é um lembrete pungente da escolha que fiz: deixar minha irmã, Réslar, entregue à sua sorte cruel. A força gravitacional do meu coração parece me puxar para trás, para ela, mas cada fibra do meu ser sabe que não posso, não devo olhar para trás. Virar-se significaria enfrentar a realidade esmagadora da minha ação: abandonar minha própria carne e sangue em um momento de desespero mortal.

O sol, impiedoso em sua jornada pelo céu, verte raios inclementes sobre mim, como se cada um fosse um julgamento ardente pelos meus atos. O calor onipresente torna-se um reflexo tangível do conflito que arde dentro de mim, um lembrete constante de Réslar, apesar de sua coragem, estando sozinha e vulnerável. Meu corpo, exausto e superaquecido, clama por descanso, uma pausa na tormenta emocional e física que me consome.

Em meio ao terreno hostil, meus olhos cansados avistam uma salvação temporária: uma entrada estreita, quase oculta, conduzindo a um buraco que promete um breve alívio. Com movimentos arrastados, cada passo uma batalha contra a exaustão, me arrasto em direção a essa promessa de refúgio. A entrada do buraco, escura e convidativa, é como um portal para outro mundo, um onde talvez eu possa escapar, mesmo que momentaneamente, do peso das minhas escolhas.

A umidade do interior do buraco me envolve em um abraço frio. A escuridão, no entanto, é mais do que a ausência de luz; é um véu que cobre meus pensamentos, uma cortina pesada que separa a realidade da ilusão de paz.

Neste refúgio úmido e sombrio, permito-me desabar, meu corpo encontrando o chão com uma resignação cansada. A terra fria e úmida sob mim é um leito improvisado, mas bem-vindo. Enquanto me encolho, abraçando meus joelhos contra o peito em um gesto de autoproteção, as emoções que eu luto para conter começam a emergir. A solidão, o medo, a tristeza: todas se manifestam em um chuva que ameaça me afogar.

Cada respiração é pesada com o peso do que eu fiz, e o que ainda preciso fazer. Na escuridão daquele buraco, sou ao mesmo tempo a caçadora e a caça, perseguindo a redenção e fugindo dos fantasmas do meu passado recente. Aqui, na solidão dessa escuridão, tenho que encontrar a força para continuar, para enfrentar o que virá a seguir.

Envolvida na quietude do esconderijo úmido, a urgência de uma missão crucial permeia meus pensamentos. - Preciso avisar os outros - murmuro para mim mesma, minhas mãos, trêmulas, vasculham a bolsa em busca de materiais para um meio de comunicação improvisado. Encontro uma estaca robusta e algumas pedras de areia, e começo a compor uma mensagem.

A estaca, agora transformada em um suporte para minha missiva, é cuidadosamente posicionada diante de mim. Cada grão de areia que coloco sobre ela moldando uma carta crítica para Theos. "Theos, suas suspeitas estavam certas," escrevo, a areia aderindo à estaca como se compreendesse a gravidade da mensagem. "Máterum planeja um ataque contra nós," continuo, minha escrita se tornando cada vez mais apressada à medida que escrevo.

"Alguns seres desconhecidos atacarão Zaranler em breve," adiciono, sentindo um arrepio de medo ao pensar nas criaturas e na ameaça que representam. "Nossas posições foram comprometidas; logo, informações são escassas, mas prometo enviar mais assim que possível." escrevo.

A carta, agora quase completa, é um testamento da nossa vulnerabilidade. "Quando esta mensagem lhe alcançar, é provável que tanto Réslar quanto eu estejamos nas mãos de Máterum." admito. "Mas imploro, não se detenha por nós." imploro com tinta invisível, "Priorize a segurança de Zilevo e dos demais. E por favor, seja cauteloso!"

As Crônicas de Marum - O PrimordialOnde histórias criam vida. Descubra agora