Conclave Divino (Ózis) - Parte II

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ATO III

Diante da visão espetacular do oceano, sinto uma mistura de admiração e apreensão. Meus olhos se fixam no oceano cintilante, perdendo-se em sua imensidão. - Que este oceano seja o berço de novas divindades, que dê nascimento a forças que possam se juntar a nós nesta luta - suplico ao além.

- Mas de que vale um exército de novos deuses se nos faltam as armas para equipá-los? - constata Zilevo olhando para mim como se entendesse meus pensamentos. Ele questiona, com um tom de voz ligeiramente amargo, marcado pela realidade prática. Seus olhos refletindo uma preocupação latente, revelando a profundidade de seu raciocínio estratégico. Zilevo cruza os braços, inclinando a cabeça ligeiramente, um gesto que sublinha a seriedade de suas palavras.

Eu encontro o olhar de Zilevo, percebendo a profundidade de sua análise. Sua declaração ressoa com uma verdade desconfortável, e sinto um peso se formando em meu peito. - Zilevo tem razão - penso, um reconhecimento relutante se formando em minha mente. Seu comentário não apenas desafia a euforia do momento, mas também destaca a necessidade crítica de nos prepararmos mais adequadamente para o confronto que se aproxima.

Tanri, com um olhar calculista, começa a conjurar pequenas partículas de água entre suas mãos habilidosas. - Arcríris é excelente, se o objetivo for arrumar materiais. Lá, encontraremos recursos abundantes para forjar armas e armaduras - ele diz, sua voz soando como um eco de possibilidades estratégicas. A água dança em suas palmas, refletindo seu controle e conhecimento.

Theos, acompanhando o pensamento de Tanri, acrescenta com uma convicção firme. - Exatamente. Arcríris é um tesouro de cristais, perfeitos para serem forjados em armas letais, capazes de ferir e até mesmo matar Máterum. - Suas palavras são ditas com um toque de resolução, enquanto a esfera incolor em sua mão desaparece gradualmente, como se suas ideias estivessem se dissipando no ar.

A palavra "matar" ressoa em minha mente, ecoando com uma intensidade desconfortável. Paro por um momento, perdido em reflexões. - Matar? - repito para mim mesmo, uma agitação mental em meu íntimo. - Talvez, isso seja muito exagerado. Será que realmente precisamos chegar a tal extremo? - Pondero silenciosamente, sentindo um conflito interior. - Ele errou em nos aprisionar em Salacrum, mas matá-lo por esse único erro é um absurdo. - A lembrança de Máterum como um pai bondoso e gentil surge em meus pensamentos, contrastando fortemente com a ideia de sua morte. - Apesar de seus erros, ele sempre nos guiou com bondade - murmuro em meus pensamentos.
Minha expressão, perdida em conflito, revela a batalha interna que enfrento - o dever para com meus irmãos e o amor por um pai que, apesar de seus erros, sempre foi uma figura de bondade em nossa existência.

Zilevo quebra o silêncio, suas mãos tremendo vagarosamente de forma aleatória, um gesto que se tornou frequente desde nossa fuga de Salacrum. - Quem irá até Arcríris para pegar os cristais? - Ele pergunta, sua voz levemente tremula, refletindo o movimento involuntário de suas mãos. O movimento sugere um trauma não discutido, uma cicatriz invisível da nossa experiência em Salacrum, mas nenhum de nós jamais abordou o assunto abertamente.

Sem hesitar, me coloco à frente. - Eu! - respondo, sentindo uma urgência em contribuir ativamente para nossa causa e, enfim, ser útil nesta guerra.

Zilevo, ainda tremendo, olha para mim com uma expressão séria. - Não vá sozinho. É arriscado demais. Leve reforços com você - ele ordena, a preocupação evidente em sua voz e na continuidade de seu tremor.

Theos, participando da discussão, senta-se no tronco, sua postura refletindo uma cautela calculada. - Zilevo está certo - ele diz, olhando em volta como se buscasse algo. - Esta missão é perigosa demais para ir sozinho.

As Crônicas de Marum - O PrimordialOnde histórias criam vida. Descubra agora