Capítulo 14

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🍫🍒


O pouco fôlego que Willy recupera em um suspiro assim que para bem na minha frente não é somente pela breve corrida que demos. Ele está aliviado, sentindo-se menos sufocado com a conversa calorosa e a onda de pessimismo que começou a tomar conta do outro cômodo. Eu sei disso porque conheço a natureza de seus detalhes há algum tempo, e ninguém mais no mundo tem essa faísca de esperança no olhar que parece que nunca se apaga. Meu momento de paralisia anterior só reforçava isso, e Willy queria me ajudar.

Não só a discussão, mas o ambiente ao redor também parecia ainda mais quente. Entre as máquinas e os demais utensílios para uma lavagem eficiente das roupas, tanques enormes emanavam vapor, causando essa sensação de estar abafado. Tanto que pude me esquecer de que havia alguma neve lá fora, e o lenço verde-chá que optei por amarrar no pescoço antes de qualquer outra coisa estava aumentando o calor, me obrigando a afrouxá-lo por dentro e em volta com os dedos.

Não sei ao certo, mas ficando aqui por muito mais tempo, talvez uma ponta ou outra dos cabelos enrolados e adoráveis de Willy comece a colar na fina camada de umidade que se forma em sua testa.

O silêncio reconfortante permanece. Os olhos verdes que tanto me admiram passam de algo doce para intenso e a mistura disso é perfeita. Meu coração palpita quando Willy muda o foco para a minha boca por um segundo, deixando evidente que quer me beijar, mas consigo me surpreender com o seu último ato silencioso de se certificar que estou mesmo bem para tal enquanto sua mão direita acompanha o contorno do meu rosto, partindo do maxilar e chegando ao queixo. Em meio ao calor, nosso contato ainda é capaz de enviar arrepios à minha pele.

Eu adoro esse nosso jeito de tocarmos o rosto um do outro. É a calmaria que vem antes de ceder ao desejo.

Willy se aproxima para me beijar, e eu fecho os olhos, aproveitando o momento. Quero que esse beijo leve todos os meus pensamentos ruins embora — mesmo que por pouco tempo.

Sinto a mão dele se afastar do meu rosto e agarro com pouca força algum ponto de sua roupa de cima. Nosso beijo se mantém no mesmo ritmo, intenso, mas não desesperado. Willy segura um dos lados do meu quadril para me guiar gentilmente para trás, e minhas costas vão de encontro a uma parede que eu nem lembrava que existia numa hora dessa. O corpo dele está muito perto, e eu queimo por dentro quando sinto que ele se aproveita disso para me pressionar mais contra a parede.

A tentação dura mais alguns segundos e é cruelmente interrompida. Eu quase choramingo, mas olhar o rosto de Willy bem na minha frente também é muito bom. Suas bochechas estão coradas e os lábios entregam todos os detalhes de alguém que acabou de ser beijado. Tão lindo e inocente na maior parte do tempo, mas às vezes...

— Eu realmente senti saudade — ele fala comigo, afastando-se minimamente para conversar. — Mas agora tem um problema.

Oh, não. Mais problemas?

— Qual? — pergunto e quase engulo em seco.

— Ah. Vi que ficou preocupada. Desculpe. — Ele pisca algumas vezes. — Ia apenas dizer que, agora que você esteve aqui, vai ser difícil separar as lembranças.

Meu lado alerta se desmancha imediatamente, dando lugar à paixão.

— É fofo você me falar isso. Bem-vindo ao clube. Me sinto exatamente assim desde que você começou a frequentar a minha casa — respondo e sorrio.

As boas memórias atravessam a minha mente; especialmente a primeira noite em que Willy me visitou. Foi uma visita e tanto. Coisas assim jamais teriam sido possíveis se eu ainda morasse com os meus pais.

Chocolate com Cereja - Willy WonkaOnde histórias criam vida. Descubra agora