Capítulo 2O

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🍫🍒


Como a boa amiga que é, Tiffany promete me acobertar e resolver qualquer problema em relação a mim no mesmíssimo minuto em que não deixo dúvidas de que iria à loja do Wonka. Em minha urgência, não agradeço tão bem quanto gostaria, ainda mais sabendo que ela estaria disposta a me acompanhar, mas não era possível, infelizmente.

Estou entorpecida durante todo o trajeto que faço praticamente correndo. Pedir um táxi poderia ter atrasado muito mais. Foi o melhor que pude fazer nesse momento.

Segundo após segundo e meus pensamentos eram direcionados ao desespero e a dúvida do bem-estar de quem quer que estivesse no local incendiado. Até mesmo o Oompa-Loompa poderia ter corrido perigo, Willy, Noodle. Todos. É como se eu também estivesse sufocando com a fumaça quando imagens horríveis surgem em minha mente sem que eu tenha controle de apagá-las.



Chego ao lugar dos sonhos de meu amado parecendo ser tarde demais. Não havia mais alvoroço nem sirenes. Poucos curiosos se compadecem em volta, mas sem fazer menção de sequer espiar a mistura de escuridão e cinzas lá dentro.

Minha mão vai parar no pescoço, talvez tentando desatar o nó imaginário que se forma na garganta, mas que, ainda assim, consigo sentir bem. Dói muito estar de frente para essa entrada sem vida, sem as cores alegres de todo dia, tal qual o criador de cada pedacinho de chocolate que foi vendido aqui. Se quase nada estava sendo capaz de abalar a estrutura emocional de Willy antes, a pior das certezas é de que um ato de crueldade desse fará isso.

Um calafrio percorre a minha espinha enquanto estou próxima de atravessar a entrada. O pesadelo que tive hoje pela manhã com Joseph e os policiais invadindo a minha casa volta a me atormentar neste instante. "O tempo de vocês já se esgotou", ele dizia. Fui alertada em sonho e na realidade a respeito disso, mas não é justo que Willy tenha que pagar dessa forma — ou de forma nenhuma. Ele simplesmente não devia nada a ninguém pelo lado justo da história.

Mantenho a mão direita apoiada no batente da porta, absorvendo o ar pesado e encarando os estragos espalhados por todos os lados. Em contraste com os flocos de neve que às vezes caíam do céu, fuligem flutuava lentamente de encontro ao chão cinzento da loja. Tudo estava cinza, e vestígios de fumaça criavam um clima ainda mais triste e macabro próximo do tronco e galhos contorcidos do que havia sobrado da bela cerejeira no centro.

Sinto meus olhos marejados com o cenário diante de mim. De repente, como se fosse um espectro que surge do nada, Willy dá a volta por trás da base dos restos da árvore, larga o seu bastão no chão e vem até mim com a expressão mais desolada do mundo. Em pouco tempo que ele me olha, percebo que é óbvio que ele havia chorado, e esse detalhe termina de me destruir completamente por dentro.

Sem dizer uma palavra, Willy se aproxima mais e me abraça forte, tanto que a cartola cai de sua cabeça e por trás de mim. O único som que ele emite por cima do meu ombro é um suspiro triste e pesado, e eu imediatamente envolvo o corpo dele de volta com os braços, pressionando os dedos com uma força moderada, pois estou fraquejando.

Eu quero chorar. Chego a secar uma lágrima em meu próprio rosto, mas também quero poder ser forte para apoiar Willy. Ele sempre fez isso por mim — de maneira alguma seria como uma dívida —, porém é a hora em que ele está mais vulnerável e repleto de pessimismos, eu imagino. Muito infelizmente conseguiram derrubar aquele que eu pensava que jamais seria derrubado.

Afago o cabelo dele com a mão direita, e ele retribui o carinho de alguma forma aninhando-se mais contra o meu ombro. Estou tão imersa nesse momento com Willy que só depois percebo as demais presenças amigáveis movendo-se desconfortavelmente em pontos pouco iluminados pelo ambiente.

Chocolate com Cereja - Willy WonkaOnde histórias criam vida. Descubra agora