Capítulo 22

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🍫🍒


Deixar a loja do Wonka destruída para trás faz com que eu me lembre rapidamente do meu próprio emprego. Eu não deveria me preocupar com tal detalhe agora — e não estou preocupada de fato ou mudando de ideia sobre a minha decisão anterior. Minha cabeça parece estar por um fio de entrar em uma espécie de pane. Lembrar de algo comum ainda é um bom sinal.

É noite. Está mais frio também. Tudo o que preciso fazer é juntar algumas coisas para partir.

— Pegue o meu casaco. Não gosto que passe frio e vou gostar muito menos se ficar doente. — Willy começa a tirar a peça de roupa que me foi oferecida. O vapor que escapa de seus lábios apenas confirma o óbvio a respeito do clima.

— Me sinto bem. Obrigada — minto e recuso por educação. Sinto-me péssima, mas não por esse assunto.

— Eu insisto, por favor. — Ele está passando o bastão que lembrou de trazer de uma mão para a outra até conseguir se livrar do casaco enorme.

Já do lado de fora da Galeria Gourmet e com uma modesta iluminação externa, Willy, de forma um pouquinho desajeitada e adorável, me cobre como consegue, e eu termino de me vestir apropriadamente.

Agradeço uma segunda vez, envolvida pelo tecido confortável e pelo perfume do próprio Willy nele. Não perdi a noção da realidade que nos assombra, mas minha memória olfativa me transporta de volta à primeira noite que passamos juntos na loja, quando prestei atenção e me encantei pelo perfume de Willy. Eu nem poderia ter imaginado quantas vezes mais tal situação voltaria a se repetir depois disso.

Willy está olhando para mim com seu sorriso discreto e entristecido. Ele tira a cartola, suspirando suavemente, e mais ar condensado ao frio se espalha próximo de seu nariz um pouco avermelhado. Apesar de tudo o que tem acontecido, estarmos um com o outro é o que mais importa, e ele está tão lindo diante de mim que quero perguntar no que estaria pensando.

— Lembra quando disse que eu seria como uma raspadinha de cereja por ficar exposta ao frio? — comento isso ao invés do que havia pensado.

Consigo arrancar uma risada muito breve dele. Ao menos uma coisa boa.

— Perdão. Eu não devia ter dito aquilo naquela noite. Até porque, quase aconteceu o mesmo comigo quando cheguei nessa cidade. — Ele dá de ombros nessa última parte. — Um picolé de chocolate quente.

Minha vez de rir um pouquinho, fechando mais o casaco contra o peito com as duas mãos.

Irônico constatar que conseguimos ter mais paz num momento como esse e no frio do que na maioria dos outros lugares em que estivemos. Porém, nada disso é um conto de fadas. Assim como eu, é evidente que Willy está se remoendo por dentro.

Concordamos em prosseguir o caminho. Antes de qualquer coisa, Willy me faz um carinho com o indicador, descendo da maçã do rosto e indo na direção da lateral do queixo. O meu coração ainda bate forte por ele, e meus lábios recebem um beijo breve, mas que nos aquece debaixo da pouca neve que cai.

Quando nos afastamos após o beijo, tenho a estranha sensação de que ele deixou um toque de despedida nele, assim como no modo que me fitava.

É verdade que não tínhamos tanto tempo sobrando para organizar nossos pertences e partir, mas Willy me lembrou de que ele mesmo mal possuía o que carregar consigo além de sua maleta que faz chocolates e uma bolsa mediana com roupas.

— Tudo o que tenho — diz ele, deixando meu coração apertado.

— Vamos pegar. — Afago o ombro dele e ele concorda.

Chocolate com Cereja - Willy WonkaOnde histórias criam vida. Descubra agora