Capítulo 31

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🍫🍒


Eu não diria que estou prestes a ficar paralisada no lugar, pois tive oportunidades de sobra para aprender a não reagir mais dessa forma.

Sentindo uma fúria chegando aos poucos, respiro fundo uma vez. Talvez até o meu rosto esteja queimando de raiva, coisa que começa a se dissipar quando Willy afaga meu ombro direito. Não sei se chega a ser uma preocupação que Joseph possa ver alguma coisa de onde está. Ele deve estar tão bêbado que nem faria diferença.

— Lola! Lola...! — o infeliz continua gritando lá embaixo. Chega a ser irônico como ele só é capaz de me chamar pelo nome correto quando está fora de si.

— A bebida entra e a verdade sai — comenta Willy, praticamente acompanhando o meu último pensamento.

Acabo franzindo o cenho, mas não por irritação.

— De onde tirou isso? — Mostro um início de sorriso torto. Não estou julgando ele por ter dito. Simplesmente não estava esperando ouvir.

As sobrancelhas dele se movem para cima em uma surpresa recíproca pelo meu interesse.

— Velhos lobos do mar e os anos que passei navegando. Graças a dona Alva, não posso mais dizer que nunca coloquei uma gota de álcool na boca. — Ele faz uma breve careta com a lembrança.

Faz sentido. Willy não é do tipo que fica enchendo a cara por aí.

Nosso espaço continua sendo invadido e toda a inconveniência lá fora não me deixa esquecer disso, apesar de que ter Willy ao meu lado torna tudo um tanto mais fácil. Gostaria de poder conversar mais, fazer qualquer outra coisa.

A janela é do tipo dupla e destranco facilmente, empurrando com um simples toque para que abra. Joseph toma um gole da bebida marrom na garrafa, limpa a boca com o próprio cachecol enorme e cinzento que se apoia nos ombros e depois sorri ao perceber a minha presença aqui em cima. Não sei o que mais ele pode fazer, mas não esboço expressão alguma enquanto ele abre os braços para mim.

— Looola... — A voz dele se arrasta e Joseph leva a mão livre ao coração. — Você está aqui.

— Vá para casa — respondo seriamente.

— Não, por favor! — Joseph grita de volta, agora colocando a mesma mão na cabeça e parece querer literalmente arrancar os cabelos.

Willy chega mais perto para conseguir ver o que acontece, e eu fito seu rosto por um instante. Ele não aparenta estar impaciente e nem aborrecido agora, mas sei que há preocupação ali. Esses dois se encontraram nos piores momentos possíveis antes e Willy ainda não parece querer nutrir tantos sentimentos de ir às vias de fato.

— Fala comigo. Não me deixa aqui sozinho... — Joseph acaba caindo de joelhos onde está, sem soltar a garrafa de bebida. Acho que ele ainda não notou a presença de outra pessoa bem ao meu lado. Mais um que talvez acredite que está vendo um fantasma...

Me afasto apenas um pouco da janela. Willy segue meus mínimos movimentos com o olhar antes de dizer:

— Que decadência... Acredito que vimos o suficiente, mas com certeza não vou deixar que você vá ficar sozinha com esse cara. — Ele usa o indicador para apontar na direção da janela que continua aberta, soando sério e cuidadoso ao mesmo tempo.

Sua determinação discreta faz crescer o mesmo tipo de sentimento em mim para acabar logo com essa palhaçada. Também estou grata por Willy ser protetor a todo custo — algo nele tem aquela pontada a mais de amadurecimento desde que entramos juntos nessa maré de azar. Outro detalhe ruim é que ainda não expliquei que temos mais em comum sobre perder uma loja do que ele imagina, mas creio que muito em breve ele saberá.

Chocolate com Cereja - Willy WonkaOnde histórias criam vida. Descubra agora