Capítulo 21

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🍫🍒


Slugworth capta no ar o desgosto que cultivo por Joseph, não conseguindo conter um sorrisinho idiota.

Todos os quatro estão devidamente quentes e confortáveis em suas vestimentas de inverno — chapéus, sobretudos e até mesmo um guarda-chuva para lidar melhor com a neve. Por outro lado, Fickelgruber parece estremecer com o pouco de fuligem que cai sobre ele, limpando seu ombro direito com certo desgosto e segurando uma maleta preta com a outra mão.

Não quero responder nada ao Joseph, mas ele dá um passo na direção onde Willy e eu estamos. Meu corpo reage silenciosamente mal a essa simples iniciativa, e Willy percebe, guardando novamente aquilo que segurava com tanto carinho e colocando a cartola na cabeça.

Ficamos de pé sem muita vontade de fazê-lo, porém estar ao lado de Willy me fortalece para o que quer que venha.

— Imagino que sejam os responsáveis pelo o que aconteceu aqui — meu chocolateiro conclui de forma entristecida a eles.

— Nós? Não. Claro que não. Ou pelo menos... não diretamente — responde Slugworth em um tom irritante.

Ao fim da frase, Joseph volta a olhar para nós dois. Eu sei o que está por vir. É muito claro. Assim como deve ser a primeira vez que Willy e ele ficam frente a frente de verdade.

Tenho arrepios ao tentar imaginar as coisas que se passam pela cabeça desse cara. Enquanto eu tinha visto o menino fragilizado que Willy demonstrou ser, Joseph certamente o está encarando como se ele fosse um inseto que precisa ser eliminado imediatamente; seu eterno concorrente em uma briga que nunca existiu, porque a minha primeira e única opção é o Wonka. Sempre foi dessa forma. Joseph nunca me "perdeu" para ninguém.

— Pagamos a dona Alva para envenenar algumas de suas criações — Prodnose nos diz. Ele está quase imóvel em seu lugar desde que colocou os pés aqui dentro.

Slugworth agradece por ele ter sido tão direto, e eu tenho vontade de vomitar.

Eu paguei. Fiz questão de pagar — Joseph cospe suas palavras. — Dinheiro não é problema para mim. Uma mixaria para aquela mulher que te mantém preso de maneira humilhante.

Ele também espera humilhar Willy falando essas coisas. A tristeza do Wonka é tão profunda que ele apenas parece dividido entre aceitar as circunstâncias e quase reagir.

Diferente dele, meu sangue ferve ao ponto de me fazer ter coragem para dar um tapa rápido e forte na cara de Joseph. Willy não tentou impedir o que acabara de acontecer, mas colocou suas mãos em meus braços para que eu desse uns poucos passos para trás e junto dele.

— Temos que tentar ficar calmos. Apesar de tudo, temos que tentar — ele me aconselha, acariciando discretamente o que consegue da pele de um dos meus braços.

Mantendo a mão na área avermelhada onde bati, Joseph volta a exalar sua raiva enquanto assiste a cuidadosa interação entre Willy e eu.

— A conversa tomou um rumo meio agitado, não acham? Vamos falar de negócios. — Fickelgruber solta uma risadinha, depois coloca a maleta que esteve carregando esse tempo todo em um ponto destruído e mais elevado perto do chão, destravando-a antes de abrir de fato.

— Boa ideia — concorda Joseph, afastando a mão do rosto.

O quarteto se alinha lado a lado. Como era esperado, Slugworth toma a frente de tudo:

— Falemos de negócios, então, Sr. Wonka. Primeiro você. Depois ela — ele aponta para mim, e Willy não gosta disso.

Fickelgruber abre a maleta, revelando uma quantia absurda de dinheiro ali dentro. Maço após maço de notas sendo entregue ao Slugworth, nos é explicado que cada um deles tem o propósito de quitar as despesas de Willy e todos os outros na estalagem da Alva. Por último, mas não menos importante, Slugworth exibe o maior maço de todos, o que supostamente ajudaria a Noodle em tudo o que lhe fosse necessário.

— Você é quem possui o poder de encerrar de verdade esse ciclo. Mude a vida de todos eles, Sr. Wonka. Inclusive a desta pobre moça. — Ele dá batidinhas no topo da enorme torre de dinheiro em suas mãos e sorri.

Quando ouve a palavra "pobre", Fickelgruber dá a entender que está prestes a vomitar, cobrindo a boca e emitindo um som esquisito.

— Tão sensível, coitadinho — Prodnose exagera em sua observação.

Olho rapidamente para Willy. Com o coração despedaçado e pelo seu semblante, está prestes a ceder para aceitar qualquer acordo que seja benéfico aos amigos.

— O que eu devo fazer? — ele faz a pergunta mais temida.

Slugworth esboça um sorriso ainda maior.

— Deixar a cidade e nunca mais fazer chocolate outra vez.

Não. Não. Isso é demais para pedir, meu subconsciente entra em pânico. Admiti para mim mesma em outros dias que talvez fosse melhor Willy deixar para trás essa cidade que tanto lhe fez mal em várias oportunidades, mas não sou eu e nem ninguém além dele que deve impor isso.

— Deve ter outro jeito. Não o obriguem a algo assim, por favor — eu imploro. Lágrimas insistentes quase fazem os meus olhos transbordarem, mas eu as seco.

— Está tudo bem, Lola. Todos ficarão bem quando eu partir. — Willy me toca outra vez para que eu consiga fitar o seu rosto. Com a voz calma e triste, ele quer tentar me convencer disso, mesmo transmitindo através do olhar que jamais escolheria uma coisa dessa por vontade própria.

— Ninguém vai ficar bem. Eu... — as palavras morrem no meio do caminho. Não consigo imaginar os dias sem ele por aqui, mas nada disso é sobre mim. Ele está sendo o extremo oposto de egoísta e, mais uma vez, colocando o bem-estar de todos acima do dele.

— Não temos o dia todo — Slugworth nos interrompe. — Quanto a você... Como devo chamá-la? Sra. Wonka? Temos uma oferta para você também.

— O quê? — pergunto quando me viro para eles. A pergunta sai mais como um protesto ríspido para que todos do lado de lá calem a boca do que como uma curiosidade.

— Pensei melhor sobre o que você quer, Daisy. Sua loja dos sonhos. Diferente dele, eu posso dá-la a você. — Joseph fala, aponta para Willy e depois para todo o dinheiro que Slugworth continua segurando. — O dobro do que tem aqui. O triplo, que seja. Esquecemos que tudo isso aconteceu, e você será feliz.

Não sei se rio em plena crise de insanidade ou começo a chorar.

— É tudo sobre dinheiro. Vocês só se importam com dinheiro a todo tempo — digo a cada um deles. Estou me sentindo um trapo, e Willy também. Meu desejo mais profundo é que nos deixassem em paz, mas claramente não vai acontecer.

— Dinheiro transforma sonhos em realidade, Daisy. Me custa a acreditar que você recusaria essa oportunidade — Joseph insiste. Ele soa ridículo ao tentar manter a cautela para falar comigo.

Suspiro fundo o bastante para dar a minha resposta definitiva:

— Pois acredite. Estou recusando. Eu vou embora com Willy.

— Que garota mais teimosa você escolheu, meu amigo — Prodnose é o único a dizer alguma coisa enquanto os outros estão boquiabertos demais.

Tão surpreso quanto eles, Willy parece querer falar comigo, mas não para que todo mundo escute, então acaba assentindo, continuando ao meu lado e pegando a minha mão.

Do lugar onde está, Joseph se enfurece. Seu rosto fica mais vermelho do que o ponto em que recebeu o meu tapa. Espero que ele não abra a boca para dizer mais asneiras. Está feito.

— Bom, sendo assim... Há um barco que partirá pela meia-noite. Com todos tão decididos e pelo bem dos que não estão presentes aqui, é melhor que vocês dois se preparem para embarcar — Slugworth dá o que parece ser a sua última explicação.

Chocolate com Cereja - Willy WonkaOnde histórias criam vida. Descubra agora