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Por insistência de Shinobu eu estou na mansão da borboleta para um tratamento intenso, pois estou muito debilitada. Doí, não tanto quanto doeu confessar perante todos os Hashiras que eu era uma aberração, sim, eu sou, porém aprendi a me aceitar assim.

Antigamente esse adjetivo significava algo ruim pra mim, mas no tempo que passei com a senhora Tamayo aprendi a aceita-lo, o que pra mim era algo novo, mas estar diante daqueles onis fez com que eu me sentisse como eles, parte de um grupo mal visto.

Eles eram onis e nada do que fizessem mudaria isso, eu tinha essas visões e nada do que eu fizesse as impediriam de acontecer, eu só aprendi a me amar e a aceitar minhas qualidades e defeitos. Perdida nesses pensamentos, abraçada com Nezuko, nem noto que Shinobu entrou no quarto.

- Pensando no Tomioka?

- Porque pensaria nele ?

- Não se lembra que ele te carregou nas costas até a mansão?

- Ele é pago pra salvar vidas, mesmo me odiando.

Ela não diz muita coisa, apenas fica ao meu lado até que eu pegue no sono. Pela manhã estranho não ver Nezuko ao meu lado, mas entendo que ela havia ido pra caixa pra evitar o sol. Os meninos estão no quarto ao lado, lógico que o escandaloso do Zenitsu esta chorando por medo do remédio.

Rio da situação, eles são barulhentos mas divertidos. Já me sentindo um pouco disposta saio para ver o dia e acabo encontrando com ele nos portões da mansão, provavelmente esperando a Shinobu.

- Vou avisar que você está aqui - digo voltando para a casa.

- Vim falar com você.

Ao ouvir isso, fico sem reação. Sei que uma hora ou outra teremos que esclarecer as coisas, mas tenho medo de uma nova discussão, pois não tenho ânimo e saúde pra isso nesse momento.

- Acho melhor voltar em outra hora.

- Prometo que não vou demorar - Sem opções me viro em sua direção esperando que ele fale - Podemos dar uma volta ?

Entendo o que isso significa, as meninas da mansão estão curiosas escondidas, tentando ouvir algo, por esse motivo aceito o convite dele. Saímos em direção aos muros da mansão, caminhando calmamente.

- Com se sente ?

- Bem, obrigado.

Achava esse comportamento dele muito estranho, não lembrava a última vez que tivemos uma conversa pacífica como a de agora.

- Eu - paro de andar e o olho, esperando que ele continue. Com um longo suspiro ele prossegue - Acho que te devo um pedido formal de desculpas.

Não acredito no que estou ouvindo, ele realmente esta me pedindo desculpas?

- Eu te culpei por anos pela morte de Sabito, o que fez com que eu te odiasse.

- E o que mudou ?

- Naquela manhã, quando discutimos no túmulo dele, eu disse coisas horríveis e depois que você partiu, provei do sentimento de culpa que você sente. Eu me senti culpado por não conseguir evitar sua partida, culpado pelas coisas que disse, culpado por imaginar que a essa altura do campeonato você poderia estar morta ou pior, com Muzan.

- Você tinha motivos para me odiar, eu podia ter contado a Sabito sobre aquele Oni, mas sabia que se eu dissesse, que algo muito pior aconteceria.

- Eu acreditei por anos que você só estava encontrando uma maneira desse livrar da culpa quando dizia isso, até ver você se jogar sobre Tanjiro para evitar sua morte. Você sabia que ele poderia morrer e mesmo não contando para ele, dessa vez se arriscou para protege-lo.

- Como eu disse, não posso contar a pessoa sobre as visões que tenho ao seu respeito, mas posso estar lá, tentando protege-la de alguma forma.

- Então aceita minhas desculpas?

- Só se você aceitar as minhas em troca. Eu passei muito tempo odiando meu dom, me culpando pelos destinos que eu não pude controlar, mas aprendi nesses dois últimos anos a me aceitar dessa forma. Eu não vou mudar, eu sou estranha, meu dom é uma aberração, mas assim como a senhora Tamayo e Nezuko, eu escolhi usar isso pra algo bom. Eu quero me tornar alguém admirável.

- Você ja é.

Algo nessa simples declaração faz com que meu coração bata num ritmo acelerado. Estar diante de Tomioka é como voltar ao tempo, quando sentia um frio na barriga toda vez que ele estava por perto. Seu olhar voltou a ser compassivo, sem ódio ou rancor, suas falas não tem mais aquele tom de superioridade, aquele Tomioka que eu havia enterrado no fundo do meu peito estava agora diante de mim.

Diante de seu olhar profundo eu não sei o que fazer e como agir, até reparar que estamos em um lugar bastante conhecido por mim, o campo de glicínias, o mesmo campo onde vinha brincar com Sabito e Tomioka na infância. Caminho até a pedra grande seguida dele e juntos nos sentamos na pedra, em silêncio, lembrando de um tempo bom.

Sabito se estivesse aqui estaria sentado entre a gente, rindo e nos fazendo ficar desconfortáveis com seus comentários sobre como formávamos um belo casal. Sentia sua falta, sentia falta da sua companhia, da criança que éramos.

- Sente falta dele ? - pergunta.

- Sim, sinto falta de tudo daquele tempo e acho que você também sente.

- Eu sinto falta dele e dos seus comentários .

- O que acha que ele diria se nos visse aqui, 10 anos depois?

Imediatamente me arrependo da pergunta. Tomioka fica corado com a pergunta, ele sabe o que Sabito diria, por sorte sei que ele não falará em voz alta, pelo menos é o que eu pensava.

- Ele diria que formamos um belo casal - Ok, essa é a minha vez de ficar vermelha - E eu acho que ele tem razão, você não concorda?

As batidas do meu coração podem ser ouvidos a quilômetros de distância, o que é péssimo. Por sorte uma crise de tosse me atinge, o que me ajuda a evitar a resposta. Ele não insiste, apenas segura minha mão e caminha ao meu lado até a mansão das borboletas, pois ainda estou em tratamento. Quando chegamos nos portões Tomioka fica a minha frente e com um singelo abraço parte.

Demon Slayer - A história não contadaOnde histórias criam vida. Descubra agora