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O trem parece estremecer e vejo pela janela Inosuke e Tanjiro duelarem do lado de fora, acho que encontraram o Oni. Vejo pouca coisa e ainda sim o que vejo me assusta. Rengoku esta no mesmo vagão que eu , tentando proteger a vida dos passageiros desse e de outros quatro vagões com suas técnicas de respiração.

Tudo acontece tão rápido e ao mesmo tempo tão devagar que eu não sei quanto tempo já se passou, porém, com um grande impacto, o trem sai dos trilhos, fazendo com que a maioria dos passageiros se machuquem. Apago por um tempo e quando acordo sinto dores profundas, minha cabeça está girando e minhas pupilas estão embaçadas, meio avermelhadas. Demoro para perceber que estou sangrando.

Tento me mexer mas não consigo, tento entender o que está acontecendo comigo e percebo que minha perna está presa em um dos bancos soltos do trem. Tento localizar meus amigos para gritar por ajuda, mas não consigo achá-los. Desesperada o ar fica cada vez mais escasso, por sorte Rengoku aparece.

- Sinto muito pelo incidente - ele diz enquanto tira o banco pesado de cima das minhas pernas - Agora respire com calma, a luta acabou.

O alívio me fez retomar o controle da minha respiração. Puxo o ar lentamente, feliz por ter sobrevivido a este inferno. Já livre dos escombros do trem, eu com dificuldade me levanto e vejo Tanjiro machucado, caído poucos metros de nós.

- Eu vou ficar bem , vá ajudar Tanjiro.

Rengoku se afasta e vai ajudar o menino que aparenta estar muito mal, olho pro céu e percebo que falta pouco tempo para amanhecer. Lentamente caminho em direção a eles já que minha perna esta machucada. Quando estou a poucos passos de os alcançar, uma áurea intensa aparece a poucos metros de nós, numa cortina de fumaça e neblina. Rengoku imediatamente fica tenso e Tanjiro também.

Antes que eu perguntasse o porquê daquela reação, a poeira de abaixa e diante de nós um homem aparece. A primeira coisa que reparo é em seus olhos, com a inscrição "três superior" em um dos olhos. Com um ar superior ele analisa a cena até fixar seus olhos em mim, então percebo que ele é o Oni da minha visão.

Mal consigo entender o que acontece, quando ele já está diante de mim, preparado para me pegar. A poucos centímetros de mim, Rengoku usa a segunda forma da respiração das chamas e o impede. O Oni se afasta e em segundos seu braço afetado se regenera, o que me deixa ciente dos poderes dos onis.

- Bela técnica - ele elogia Rengoku com ironia enquanto lambe as gotas de sangue em seu braço - Vim atrás de um e encontro logo dois, acho que é meu dia de sorte.

- Porque tentar atacar os feridos enquanto eu estou bem aqui e posso te enfrentar? - o Hashira indaga.

- Porque odeio humanos, ainda mais os fracos. Os fracos devem morrer - ele olha para Tanjiro deitado no chão, então seu olhar volta em minha direção - Mas encontrei algo que tenho buscado a muitos anos, por isso não me atrapalhe novamente.

Rengoku desembainha sua katana, o que faz o Oni sorrir. Acho que nem preciso dizer que o desespero me consome, pois segundo o Oni, ele está me procurando a anos, então ele deve ser um Oni poderoso.

- Você parece ser forte, é um Hashira afinal, não é ? Tenho uma oferta para você, porque não se torna um Oni? Seu espírito de luta foi endurecido com um bom aço de qualidade. Qual seu nome?

- Sou Kyojuro Rengoku, o pilar das chamas.

- Vou ter que dizer que, apesar de ser um Hashira, sua força não é suficiente. Você é um mero humano destinado a envelhecer e morrer um dia. Torne-se um Oni Kyojuro , você poderá se aperfeiçoar em cem ou duzentos anos.

- Envelhecer e morrer são as coisas que fazem um ser humano ser belo. Isso pode parecer fraqueza pra você, mas nossas vidas são preciosas e honrosas por causa disso. A verdadeira força não se refere somente ao corpo físico. - Rengoku se vira para Tanjiro - E esse garoto não é fraco, não o ofenda. Vejo que nós dois nunca concordaremos, e sejam quais forem seus motivos distorcidos, eu não vou ceder.

- Entendi - o Oni se põe em posição de combate - Então, acho que vou ter que matá-lo.

A densidade do ar muda. Tanjiro está desesperado, pois tem uma profunda ferida em seu abdômen, o que o impede de lutar, eu estou com uma perna machucada, além da dor que sinto em meus pulmões, e mesmo que estivesse boa, o que poderia fazer ? Em que seria útil? Mal sei segurar uma katana.

Sem aviso ou anúncios os dois homens iniciam uma luta, mas não uma luta comum, eu não consigo acompanhar com meus olhos os ataques. A velocidade deles é tão alta que só vejo vultos e mal consigo identificar quem é quem ali, fora a poeira que atrapalha.

Tanjiro olha para o céu, contando os minutos, desejando que o Sol coloque um fim nesse confronto. Percebendo que Tanjiro está cogitando se esforçar além do que pode, me aproximo dele e ao seu lado fico, segurando sua mão, desejando que tudo isso seja um pesadelo.

Toda vez que o garoto ameaça se levantar eu o impeço, por sorte Inosuke se junta a nós. Nem caçadores como ele e Tanjiro conseguem ver com clareza a luta. Tanjiro insiste em ajudar, mas Inosuke diz que eles atrapalhariam, além de morrerem por não estarem a altura dos dois.

Tentando acalmar o menino, nem reparo que a velocidade da luta diminuí, uma grande poeira nos impede de enxergar o que acontece e quando Inosuke acha que a luta finalmente acabou, assim que conseguimos enxergar, vemos o pilar das chamas sangrando.

Meus olhos percorrem pelo corpo do Hashira tentando entender o que aconteceu, porque ele esta parado na luta, afinal, o Oni esta diante dele, esperando alguma ação dele que permanece imóvel.

- Já acabou? Você nunca vai chegar aos meus pés, olhe pra mim, os danos que me causou já não existem, você por outro lado, está com o olho esquerdo esmagado, costelas quebradas e órgãos prejudicados. Se fosse um oni se curaria num piscar de olhos. Meus ataques seriam apenas arranhões - ele ri - No fim, um humano jamais irá superar um Oni.

Quando acho que tudo está perdido, Rengoku do nada segura sua Katana com determinação. É como se sua áurea estivesse em chamas.

- Eu vou cumprir meu dever, custe o que custar, ninguém vai morrer aqui.

Em posição de luta, a potência de sua áurea, de sua determinação aumenta. Juro que posso ouvir o crepitar de chamas ao seu redor, ao redor do campo de batalha. Ao conjurar sua respiração e partir para atacar o Oni, uma densa poeira misturada com chamas pode ser vista, então o duelo recomeça, mas não dura muito, a luta novamente para e a nuvem de poeira se baixa, até eu ver o que esta acontecendo.

Rengoku corta parte do ombro do oni, enquanto o oni tem seu braço direito atravessando o corpo do Hashira. Mesmo ferido e cuspindo sangue, ele novamente tenta cortar o pescoço do oni.

Sua katana consegue rasgar uma pequena parte do pescoço do oni, que instintivamente, tenta golpea-lo com um soco, porém o pilar ainda segurando sua katana, também consegue impedir o soco do oni.

Por sorte o céu começa se abrir, pois o sol está prestes a nascer. O Oni tendo ciência do horário , percebendo que seus braços estão presos e que Tanjiro e Inosuke correm em sua direção para tentar cortar sua cabeça, ele se auto mutila e já livre, com uma velocidade sobrenatural, se aproxima de mim e me segurando, foge comigo pela floresta.

Refém daquele oni, presa em seus ombros, a última cena que vejo é Tanjiro gritando desesperado, jogando sua Katana na direção do oni, chamando o demônio de covarde . A katana com precisão atravessa o abdômen do oni que não para a sua corrida, muito pelo contrário, a katana mesmo presa em seu corpo não é capaz de matá-lo ou feri-lo. Percebendo que eu estava diante de um oni poderoso, um homem que sempre me procurou, eu desmaio.

Demon Slayer - A história não contadaOnde histórias criam vida. Descubra agora