14

53 5 2
                                    

Percebi que havia algo de errado naquela manhã que a vi pela última vez. Sabia que ela havia previsto algo ruim e cogitei até ser sobre mim, talvez a minha morte. Só não esperava saber que ela havia sido levada por um lua superior.

Quando soube da morte de Rengoku e dos acontecimentos daquela luta, meu peito se contorceu em raiva e ódio, ela havia sido tirada de mim, logo agora que estávamos bem novamente.

Ainda me lembro da minha crise existencial antes de ir vê-la mansão das borboletas, da surpresa dela quando soube que eu estava ali para vê-la. Enquanto caminhávamos, percebia pela sua respiração que ela estava nervosa, só não mais que eu.

Quando pedi desculpas a ela percebi que ela estava diferente. Nos dois anos que fiquei sem ela, ela finalmente cresceu, tanto intelectualmente quanto no quesito de se respeitar, de se amar e eu estava feliz por isso.

Quando nos sentamos na pedra grande do campo de glicínias, vi por seus gestos como ela sentia falta da nossa infância, da nossa amizade, do nosso amigo. Ainda sinto meu rosto vermelho pela pergunta que ela havia me feito:

- O que Sabito diria se nos visse aqui, agora, 10 anos depois ?

Não sei de onde tirei coragem para respondê-la em voz alta, mas eu consegui expressar o que também acreditava, que éramos um belo casal. A vontade de rir ao ver ela corada hoje dói, dói porque temo que a essa altura do campeonato ela já nem esteja viva.

Muzan a queria e ele tinha um motivo, talvez temesse que ela previsse seu ponto fraco, ou que ela previsse sua chegada, talvez por isso ele a queria, para evitar nos deixar ciente de seus passos. E dói pensar que ela não vive mais no mesmo mundo que eu.

Se soubesse que nosso momento de paz seria breve, eu teria falado mais, sorrido mais, amado mais e quem sabe, depois de me declarar beijá-la. Dói pensar que momentos como este jamais se realizarão.

Agora estou aqui, diante de seu túmulo, junto de todas as pessoas que eram importantes pra ela, celebrando uma despedida representativa já que não teremos a oportunidade de fazê-lo de fato.

A saúde do mestre Kagaya que já era frágil piorou depois de saber que sua filha do coração (porque era assim que ele a considerava) se foi, foi tirada de nós. Tanjiro se culpava por não ter sido forte o bastante para parar aquele Oni, para ter protegido Rengoku.

Tentei dizer a ele que não era sua culpa mas ele não quis saber, mas o que me espantou foi ver que a culpa além de para-lo, deu a ele ainda mais motivos para treinar, para ficar forte e melhorar.

Me despeço de todos aqui e vou até o campo de glicínias. Deito na grama como fazíamos quando éramos crianças e me pergunto porque todos os que eu amo são tirados de mim ? É uma maldição? A culpa é minha ?

- Ela adorava vir a este campo.

A voz serena do mestre Kagaya chama minha atenção.

- Eu sei, esse lugar era especial pra nós.

- Amane, deixe-me sozinho com Giyuu por favor.

A esposa do mestre se afasta e eu me coloco de pé para ajudá-lo. Quando finalmente nos sentamos na grande pedra o mestre me estende um caderno, pelo menos é o que parece.

- Fique com isto, ela sempre escrevia seus sentimentos mais profundos nesse caderno.

Ao segurá-lo tive que colocar meu autocontrole em prática para não chorar na frente do mestre, pois não quero parecer patético. O mestre notando meu silêncio se põe de pé e chamando a esposa se vai, me deixando sozinho para sofrer. Passo a tarde no campo, sendo inundado por memórias que irei guardar para sempre, até que ela se aproxima .

- Sabia que te encontraria aqui.

- O que quer ?

Shinobu sem permissão se senta ao meu lado e fica ali por um bom tempo em silêncio, apenas me fazendo companhia.

- O que quer ?

Repito a pergunta quando percebo que ela já havia ficado tempo demais.

- Estar ao seu lado neste momento. Sei que é frio e que faz isso para não mostrar suas fraquezas, mas eu sou sua amiga, eu te conheço.

- Não preciso de você aqui.

- Engraçado - ela diz rindo - Até dias atrás você dizia a mesma coisa pra mulher por quem está sofrendo agora.

- Me deixa em paz.

- Eu já vou - ela diz se colocando em pé - Mas lembre-se do que te disse dias atrás ... É hora de seguir em frente, de perdoar enquanto se tem tempo, de amar antes que seja tarde demais.

- Acredita mesmo que eu vou seguir em frente? Que vou esquecer dela? Que eu serei capaz de amar outro alguém?

- Sim - ela suspira - Eu estive ao seu lado em todos os momentos e sei dos seus sentimentos por ela, mas acho que ainda não percebeu que tem sentimentos por mim também, ou então não teríamos ...

- Por favor, prometemos esquecer ..

- Você prometeu, mas tudo bem - ela diz se esforçando pra sorrir - Só quero que sabia que eu não consigo esquecer o que houve porque eu te amo.

Depois de dizer essas palavras ela se vai e eu me sinto um lixo por magoa-la. Mesmo me esforçando para esquecer, ainda me lembrava daquela noite ... Eu havia acabado de me tornar um Hashira e estava voltando ferido de uma missão. O mestre Kagaya me mandou ficar em tratamento na mansão borboleta até estar apto pra uma nova missão. Naquela noite, sentindo muitas dores, Shinobu apareceu em meu quarto durante a madrugada, pois segundo as meninas que serviam na mansão, eu estava com febre.

Aoi fez questão de acordar Shinobu para vir tratar de mim pessoalmente, já que ela me acha desagradável. Shinobu abriu as ataduras que mantinham a ferida protegida para ver se ela havia infeccionado, por sorte estava tudo bem. Enquanto ela me examinava, cochilei, até sentir suas mãos tocando meu abdômen de uma forma diferente .

Tentei fingir que não estava ciente do que acontecia e permaneci de olhos fechados, mas sou homem, e como homem, chega um ponto que mesmo que quisesse, fingir já não é uma opção. Seu toque foi aumentando e o meu ritmo cardíaco também. Algumas partes específicas do meu corpo decidiram "acordar" para o meu desespero, o que me fez agir sem aviso, segurando suas mãos com firmeza enquanto rolava pela cama tentando disfarçar o que sentia.

Só não sabia que ao rolar pela cama, ela rolaria comigo, e que eu pararia exatamente em cima de si, ciente do contato do meu corpo com o corpo dela. Naquele momento de euforia, a razão e a lógica se foram e de repente éramos só nós, numa posição sugestiva, experimentando coisas novas.

Shinobu percebendo meu dilema interno entre me afastar ou ceder aos instintos, tomou a iniciativa de um beijo. Era bom, tão bom que meu corpo ganhou vida própria e no momento seguinte senti minhas mãos arrancando a roupa que ela usava.

Demon Slayer - A história não contadaOnde histórias criam vida. Descubra agora