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Abro meus olhos com dificuldade, tento entender onde estou e quando recordo dos últimos momentos de consciência antes de apagar, lembro da luta no trem. Imediatamente meu coração começa a palpitar e tenho a sensação de estar sendo vigiada.

Mesmo com dificuldade, eu inclino minha cabeça para os lados, até perceber uma presença num canto do quarto em que eu estou, é uma mulher que está sentada, com uma biwa em suas mãos. Olhando atentamente para ela, percebo que ela é uma Oni. Sua pele pálida, sua áurea sombria, tudo nela me dá medo.

Faço um esforço para me levantar e por milagre ela não se move. Esse detalhe me intriga de muitas formas, pois ela devensaber que eu vou tentar fugir, mas ela não parece preocupada com isso, mesmo assim, o medo e a preocupação não me deixam. Já de pé, começo a andar com dificuldade procurando uma saída, mas com apenas um toque em sua biwa, o lugar que estou se transforma.

Não consigo descrevê-lo com precisão. As paredes do cômodo em que estou somem e já não há mais teto, parece que estou em uma plataforma que se move com rapidez. Essa plataforma sobe como se fosse uma torre muito alta, cercada andares e mais andares com várias outras torres distantes. Ao meu redor tudo está iluminado. Não há um céu, apenas mais andares que descem do teto, o que me assusta, pois percebo que estou provavelmente em uma outra dimensão, a mesma dimensão do meu sonho com o rei dos onis.

Ainda admirada com o lugar surreal, a biwa toca novamente e a sensação de movimento da "plataforma" para. Olho na direção da oni que permanece imóvel e do nada sinto uma presença opressora. Nenhuma das inúmeras crises de medo que já tive na vida se compara ao que estou sentindo agora. Até a oni que estava imóvel parece sentir medo dessa presença poderosa. Finalmente entendo que minha visão sobre o Oni rei está acontecendo.

Sinto aquela presença singular ficar mais próxima, bem atrás de mim. A áurea desse ser é tão intensa, poderosa e maligna que acredito estar diante de um demônio, o próprio capeta. Meu corpo mesmo se estivesse bom e sem machucados não conseguiria se mover diante dessa presença, mesmo que minha consciência me mandasse correr sem parar.

Tentando fazer meu corpo reagir, noto que a presença se move, me cercando até estar diante de mim. O medo e o pavor me fazem olhar para os meus pés, pois diante de um ser tão poderoso, é como se eu fosse indigna de olhá-lo de igual para igual.

- A última sobrevivente do clã Mahōnochi, que honra conhecê-la.

Por mais poderoso e assustador que ele seja, sua voz grave tem uma leve pitada de diversão, como se estivesse de bom humor. Mesmo não o olhando diretamente, sinto o peso de seus olhos sob mim, me estudando. Me sinto nua diante de um olhar tão intenso. Um longo silêncio se faz presente até a biwa tocar novamente. Do nada, uma outra pessoa se junta a nós.

- Mestre .

Pela voz consigo identificar quem acaba de chegar, é ele, o Oni que me trouxe para cá.

- Não consegui concluir a missão de matar o caçador com os brincos de hanafuda, peço perdão.

Hanafuda? A imagem de Tanjiro aparece em minha mente. Não acredito que esse Oni queria matar o garoto, um simples menino. Temo pela vida de Kamado, pois sei que ele e nem ninguém é páreo para o mestre dos onis nesse momento.

- Você falhou, mas trouxe algo mais precioso, pode se retirar.

Não, por favor, não vá! Por mais desprezível que seja, prefiro ter a presença desse Oni aqui do que ficar diante do mestre sozinha. Assim como o Oni apareceu, com o toque da biwa ele desaparece. Mesmo com medo começo a entender o padrão, parece que a biwa está diretamente conectado a quem entra e sai desse lugar. Antes que possa aprofundar meus pensamentos nessa teoria, o ser supremo fala com a oni.

- Minha casa.

A biwa toca e do nada, como mágica saio do lugar estranho e surreal. Num piscar de olhos me encontro junto a eles no que parece ser um casa, bastante comum para alguém poderoso como ele.

- Nakime, a deixarei sob seus cuidados.

Dizendo isso ele se afasta e some. Sem a presença opressora dele, consigo respirar com mais facilidade, até que a oni toca novamente a biwa, nos teleportando para um quarto luxuoso, depois a oni desaparece me deixando sozinha naquele cômodo. Olho com atenção tudo o que tem aqui, até observar a porta, caminho até ela e tento abri-la, mas ela está trancada, olho então para as enormes janelas do cômodo e me aproximando, percebo que a casa é isolada, e que o quarto em que estou é um cômodo muito alto. As janelas possuem grades, e mesmo que não tivessem, não teria coragem de pular dessa altura, certamente morreria na queda.

Meu corpo dói e por mais que deseje fugir, percebo que debilitada não conseguirei ir muito longe, então observo uma outra porta no cômodo, o banheiro. Resolvo tomar um banho já que estou ferida e suja por conta do sangue. Olho para o lugar com atenção e vejo toalhas e uma grande banheira.

Sem demora tiro minhas roupas enquanto a banheira se enche e depois de nua, desfruto de um relaxante banho. É como se a água pudesse tirar toda a sujeira, o stress e o pânico que estou sentindo. O cansaço e o vapor da água me deixam sonolenta, então acabo cochilando. Meus músculos relaxam e a sensação é tão boa que arranca de mim um gemido de prazer. Ao emitir o som, um suspiro pesado me fez acordar. Olho ao meu redor mas não há ninguém, então o medo volta a tona, por isso encerro o banho. Pensando no que vou vestir, vou em direção ao quarto e em cima da cama encontro uma linda yukata de seda. O tecido fino, a delicadeza, tudo nele me encanta. Sem demora o coloco e antes que pudesse deitar, a biwa toca e Nakime aparece no quarto com o que deveria ser uma comida. O aspecto horrível e o cheiro desagradável me faz recusar o alimento e mesmo com fome me deito.

A oni percebendo minha dificuldade em apagar, acho que por pena ou por milagre, começa a tocar sua biwa de forma diferente. Uma linda melodia inunda o ambiente, e assim adormeço, mesmo com medo de um ataque durante a madrugada.

Demon Slayer - A história não contadaOnde histórias criam vida. Descubra agora