Demon Slayer - A história não contada

24

Já na casa percebo que estou sozinha na companhia de um ser que minutos atrás quase aniquilou um dos seus servos. Agora ele está sentado no sofá da sala, me olhando atentamente.

- Ainda está com medo de mim?

- Um pouco - suspiro dando a volta no sofá, indo me sentar a sua frente. - E mesmo sentindo medo não pense que irei me humilhar como seus servos.

- E o que tem em mente ?

Agora ele esta com um sorriso mínimo em seus lábios, esperando minha resposta com as sobrancelhas levantadas.

- Ainda não pensei sobre isso mas sei que você precisa de mim para ter acesso ao lírio da Aranha azul, então ainda não pode se livrar de mim, o que me dá uma vantagem sobre você.

Seu sorriso se abre, dessa vez sem tentar disfarçar. Ele se levanta calmamente, vindo se sentar ao meu lado, o que me deixa em estado alerta.

- Você quer mesmo jogar esse jogo comigo?

Seu olhar se mantém preso ao meu, e a medida que ele fala minha garganta se seca e minhas pernas tremem, sorte que eu já estou sentada. Não irei voltar atrás agora e parecer uma boba na sua frente .

- O jogo começou desde o momento em que você me trouxe pra cá "mestre" - fiz as aspas com a mão.

Seu rosto se aproximou do meu e seus olhos vermelhos ficaram ainda mais lindos. Era como um rubi que precisava ser lapidado. A medida que meus pensamentos se acelerava ele se aproximava mais e mais.

- O que pensa que está fazendo?

- O que acha ? - seu rosto fica a milímetros do meu - Tendo certeza de que não esta blefando.

Me afasto de seu rosto e respirando com mais liberdade volto meu olhar em sua direção.

- E chegou a que conclusão?

- De que eu vou adorar jogar esse jogo com você, mesmo que já saiba qual será o final e quem será o vencedor.

- Bom, não tenha tanta confiança. De nós dois, só eu posso ver o futuro.

Seu sorriso se alarga ainda mais. Como não tive tempo para me alimentar, meu estômago começa a dar sinais de vida, o que faz com que ele me guie até a cozinha, pegando alguns itens nos armários.

- Você vai cozinhar pra nós?

- Cozinharia se soubesse - seu tom é de diversão - Você poderia ?

- Claro.

Indo em sua direção, olho pras coisas disponíveis na despensa e depois de pensar no que farei, arregaço as mangas do vestido, prendo meu cabelo em um coque e pego as panelas. Enquanto começo os preparos ele se senta, até eu lhe entregar uma faca, o mandando cortar os legumes. Me espanto vendo ele aderir ao meu pedido sem reclamar, e ele poderia, afinal, é ele quem pode acabar com tudo se quiser.

Foco minha atenção no preparo dos alimentos e quase uma hora depois estamos provando a sopa que nós preparamos, confesso que não é algo extraordinário, mas pelo menos não morrerei de fome. Quando finalmente terminamos de comer, arrumo as coisas sabendo que ele esta me observando. Incomodada com isso tento mudar de assunto.

- Eu previ a destruição de uma cidade iluminada, meus olhos gravaram o caos deixado por uma batalha intensa.

Ele ficou quieto por um tempo analisando o que eu acabara de dizer, pra depois responder sem rodeios.

- Sim, você previu a batalha dos caçadores com o lua superior seis no distrito do entretenimento.

Silêncio. Começo a pensar no tamanho da destruição causado por essa luta e temo, será que algum caçador havia morrido? Tento afastar meus pensamentos mas é impossível, uma luta daquela magnitude só pode ser obra de um Hashira. Imediatamente os rostos dos meus ex colegas passam pela minha mente até eu pensar nele.

Meu coração dispara mas tento fingir que estou bem, mesmo que por dentro me pergunte se ele esta a salvo. Muzan por outro lado parece irritado por algo que eu desconheço, talvez por lembrar da derrota. Sem avisos ele se levanta bravo e sai da cozinha, me deixando perdida em pensamentos, não irei questiona-lo.

Assim que termino tudo, subo para meu quarto, não sem antes olhar para a porta oposta do outro lado do corredor, provavelmente o quarto de Muzan. Suspiro fundo e vou para meu quarto. A exaustão me invade e eu apago assim que coloco minha camisola.

Estava na mansão borboleta, tudo estava tão calmo e silencioso, era madrugada. Ando pelos corredores tentando entender o porquê de eu estar aqui até ver a luz acessa de um dos quartos. Me aproximo da porta e a deslizo para abri-la, vejo Shinobu em cima de Tomioka, que está sem suas roupas. A cena era tão íntima e a atmosfera era tão intensa que não consigo permanecer ali.

Está tudo escuro, só ouço as batidas do meu coração. Tento me acalmar até perceber que agora estou em outro lugar.

Estava no distrito do entretenimento e as ruas estavam cheias. Muitos homens, mulheres e cortesãs desfilavam pela rua principal, até ver a minha frente um homem elegante. Pelo comprimento do cabelo e a pela clara sabia que era Muzan, que entrou em uma das casas de acompanhantes.

Segui ele tentando ocultar minha presença, até ver ele entrar em uma ala reservada. Continuei seguindo ele até escutar a sua voz.

- Sentiu saudades ?

- Sim mestre.

A voz manhosa da mulher que estava com ele me enojava. Um longo silêncio se fez presente até ouvir algo horrível, o mesmo barulho de Shinobu e Tomioka. Precisava ver com meus próprios olhos o que acontecia ali e abrindo uma fresta da porta, confirmei minhas suspeitas.

Agora estava em uma casa, Muzan entra pela porta da frente e quem o recebe é uma linda mulher. Ela não é uma Oni, ela é humana. Quando ela o vê, ela corre até ele e o abraça, tentando desatar os botões de sua camisa, querendo não ver o fecho da cena, apenas tento acordar, mas a cena se repete quatro vezes, mudando apenas as mulheres e as casas.

Meu coração que já estava acelerado agora está dilacerado, e quando acordo, estou chorando, com Muzan me olhando preocupado.

- Você está bem ?

Era nítido a preocupação em sua voz, ele me olhava assustado, procurando o causador das minhas lágrimas.

- Eu ... - as lembranças da visão me atingem e eu não suporto olhá-lo - Saia por favor.