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Foi fácil até certo ponto enganar nossos pais, logo depois partimos para nossa casa. Meu sogro sendo meu médico sempre vinha para as visitas regulares, o que Yuri odiava mas aceitava quieta. Naquela tarde, ele chegou dizendo trazer boas notícias. Disse que o clã Mahōnochi era um clã especial, que tinha poderes místicos, algo que eu não dei muita importância. 

Já cansado de ouvir suas histórias fantasiosas, quase cuspi o chá que tomava quando ele proferiu as palavras que eu sonhei ouvir a vida toda: Encontrei um meio de te curar. Estava ansioso, finalmente poderia desfrutar de uma vida longa, saudável e feliz ao lado de Yuri, mas sua cura tinha um preço, o valor pedido era exorbitante, mas já havia negociado com meu pai.

Sabia que se tratava de um tratamento experimental, mas não tinha escolha, pois os remédios existentes não faziam mais efeito sobre minha doença. Yuri mesmo feliz pela possível cura também aparentava estar preocupada, já que o remédio feito pelo meu sogro me deixava brevemente fora de mim. Quase um ano e meio depois do início do tratamento, quando já havia perdido meu tempo e dinheiro, muito dinheiro, meu pai transtornado pela perda significativa dos bens de família entrou em minha casa e levou Yuri com ele, disse que ela  pagaria pelo prejuízo que sofrera. 

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Reviver essas memórias me fazem perder a noção do tempo e quando volto a realidade noto que já é madrugada. Fico observando ela mexendo no jardim esperando o nascer do sol ou ela cair exausta. De longe olhando para ela, sou invadido por vários fashs do passado, dos momentos que passei ao lado de Yuri.

Acho que não preciso dizer que fiquei extremamente feliz quando vi Sayuri entrar na biblioteca da casa, talvez ela seja realmente a encarnação da minha Yuri. Quando ela finalmente acaba de preparar o solo para começar o plantio, sinto uma vontade de ajudá-la já que ela está visivelmente cansada. Caminho em sua direção lendo seus pensamentos.

" Porque ele está vindo até mim? Será que fiz algo de errado?"

Tento não me importar com isso e me ajoelho a sua frente estendendo minha mão, esperando ela colocar algumas sementes de lírios para o plantio. Ela demora alguns minutos para perceber o que desejo e quando percebe, logo me entrega as sementes, indo em direção oposta para terminarmos o serviço pela metade do tempo. Ela tem mais experiência que eu, por isso termina muito mais rápido sua parte, e percebendo minha dificuldade, ela se aproxima com cuidado, sua mente esta um turbilhão.

" Ele está com dificuldades, será que devo libera-lo da ajuda ? E se ele se sentir ofendido ou pior e se ele sentir raiva e me matar ? "

Me viro em sua direção esperando que ela se decida, então ela segura minha mão e com delicadeza me mostra a maneira correta de colocar a semente no solo e depois cobri-las com a terra de forma rápida e eficaz . Nas primeiras tentativas sua mão segura a minha esperando que eu pegue o jeito. Seus pensamentos mais uma vez podem ser lidos por mim.

" Por que ele é tão habilidoso e lindo? Meu deus Sayuri, foco aqui, ele é um Oni."

Adorando ver seus pensamentos confusos, quis me divertir ainda mais.

- Estou fazendo da forma correta?

Foi a minha vez de segurar sua mão, acariciando com cuidado enquanto observava a lua refletida em seus olhos. Ela ficou vermelha e seus pensamentos ficaram mais rápidos.

" Aí meu coração, se concentra Sayuri, se concentra".

" Meu deus como eu adoro esse contraste da minha pele com a pele dele"

" E porque diabos ele sempre está tão bonito, elegante e cheiroso"

" Esse homem deveria ser impedido de sorrir dessa forma".

Sim, estou sorrindo pelos pensamentos dela, ainda esperando sua resposta. Sem aviso as pernas dela perdem o equilíbrio e ela quase vai ao chão, por sorte eu a seguro impedindo sua queda.

- De-desculpa, E-eu me desequilibrei.

- Isso não é um problema, você está bem ?

- Estou - em seus pensamentos "idiota, ele deve te achar uma burra, seja coerente e finja que está cansada" - Só fiquei um pouco cansada pelo trabalho.

- Tudo bem - sem aviso a pego no colo - Terminaremos isso amanhã, agora irei te levar até seu quarto.

" Coração, se controla"

- Não precisa mestre.

- Precisa sim, até porque essa não será a primeira vez que te levo até seus aposentos dessa forma.

A mente dela relembrou a noite anterior quando a coloquei sobre a cama. Sem perceber ela sorriu e ao ler seus pensamentos, também quis sorrir. " Talvez ele não seja o monstro que eu imaginei, Talvez ... "

Saber que sua opinião sobre mim já estava mudando me alegrou de muitas formas. Subo a escada observando ela fechar os olhos, como se desfrutasse do momento. Quando chego ao seu quarto, a coloco sobre a cama, com seu olhar preso ao meu. Desejo uma boa noite e me retiro, deixando ela descansar.

Em meu quarto me lembro do meu primeiro contato com ela no castelo infinito, da minha perplexidade ao notar a semelhança física dela com a mulher que eu amei. Quando a trouxe para minha casa, lembro da imagem dela na banheira, do seu gemido de prazer, que despertou em mim um desejo que nunca havia sentido nem mesmo com Yuri.

Quando percebo que ela está dormindo, volto até seu quarto para observa-la dormir. Ela esta deitada de lado, usando uma camisola longa que agora está franzida pelos movimentos, deixando sua coxa exposta. Com raiva saio do quarto, me sentindo um verme por estar traindo as memórias de Yuri, mesmo que ela seja a reencarnação da minha amada.

Mesmo com muitas semelhanças, também percebia as diferenças. Minha Yuri não era tão forte como essa mulher é, não era tão decidida e jamais me enfrentaria como essa faz. Mesmo sentindo medo de mim, ela se impõe e isso me deixa fascinado. Enquanto ela dorme, sinto algo incomum e sei que se trata dos luas superiores seis, Daki e Gyutaro estão mortos. Depois de um século os caçadores finalmente conseguem matar um lua superior e isso me irrita. A raiva que sinto, a lembrança daquele garoto me reconhecendo no meio da rua, tudo isso me faz sentir raiva, pois agora ele já sabe como eu sou e sabe que pode derrotar os luas superiores.

A lembrança de um século atrás do caçador com o brinco de hanafuda invadem minhas memórias. O tremor que senti ao ver ele se aproximando com a Katana nas mãos, o golpe certeiro que quase me dizimou da face da terra, eu não posso deixar que os caçadores me achem, não antes de conquistar o sol. É hora de reunir meus aliados.

Demon Slayer - A história não contadaOnde histórias criam vida. Descubra agora