Capítulo 2

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Phillip

Parece ontem que me formei em botânica na universidade e estava prestes a sair pelo mundo em minhas pesquisas, livre de qualquer obrigação, usufruindo do benefício de ser o segundo filho. Sempre me dei bem com George, mas também sabia que a responsabilidade pelo título de baronete e as posses herdadas por meu pai pertenciam a ele. A mim cabia a minha própria vida, a minha própria maneira. Sempre fui fascinado por plantas e pela ciência. Queria fazer minhas próprias descobertas e ter meus próprios feitos. Mal sabia eu que meu destino mudaria drasticamente.

De repente, meu irmão morre. Fiquei desolado, pois a partir desse momento eu me tornei o Sir Crane e recebi as responsabilidades correspondentes. Porém, seria apenas eu. Nunca estive certo sobre o casamento, podia acontecer ou não, quando estivesse mais velho, depois que houvesse conquistado o mundo, o mundo que me interessava, evidente. Estava me preparando para voltar a minha casa e pensando em como organizaria minha vida, quando outra notícia me pega de surpresa e vira meus planos ao avesso.

A senhorita Marina Thompson surge, grávida de meu irmão, desamparada e precisando de proteção, a proteção que apenas um marido pode proporcionar. Eu já a conhecia por nome, George mencionou que estava apaixonado e se casaria em breve. Mas nada foi como ele planejou. Nada foi como eu planejei.

Sou um homem íntegro e de maneira nenhuma deixaria a mulher que se tornou minha responsabilidade em apuros. Tomar o lugar de meu irmão foi além de um título, também tomei posse de sua futura esposa e de seus futuros filhos. Tudo a um único preço: abrir mão de mim e de meus sonhos pessoais.

A busquei da casa de Lady Featherington e na mesma semana nos casamos. Marina era muito bonita, uma mulher atraente, exceto pelo vazio que existia em seu olhar. Parecia que alguma coisa faltava. Um vazio que logo percebi ser incapaz de preencher. Não esperava que ela me amasse, tampouco que eu a amasse, porém uma relação de respeito e cumplicidade era o mínimo esperado. Não tenho fantasias amorosas, a vida me ensinou desde jovem como funciona a realidade e ela não é nada doce.

A deixei à vontade, afinal ela estava desolada com a morte de meu irmão e grávida. Cheia de enjoos e mal- estares infinitos. Cada um de nós tinha um quarto. Nunca entrei no quarto dela até o nascimento dos meninos. Nossa convivência não ia além do básico. Eu até tentei uma aproximação, tentei conversar para nos conhecermos melhor, mas Marina parecia tão fechada em si mesma que um muro nos separava. Um muro invisível que eu nunca tentei atravessar.

Dois bebês nasceram e de repente eu era pai. Meus sobrinhos se tornaram meus filhos e pensei que talvez, passado o período da gravidez e o luto, Marina melhoraria seu humor e teríamos uma relação melhor. Entretanto, nada mudou, ela ainda era esquiva, mesmo com minhas tentativas de aproximação.

Não esperava amor, porém de forma alguma imaginei que seriamos tão frios e distantes. A cada dia que passávamos juntos, tinha mais certeza de que nunca teria um casamento convencional. E me conformei. Muitos diriam que eu deveria procurar mulheres na rua, já que não tinha uma esposa de verdade. Mas não sou assim, mesmo que não tenhamos um relacionamento de nenhuma natureza, não seria capaz de traí-la. Resignei-me a minha realidade e mergulhei profundamente no trabalho, praticamente vivia na estufa, fazia as refeições por lá e saía apenas para dormir ou em casos realmente necessários.

Até que um dia aconteceu algo diferente. Colin Bridgerton nos visitou. Qualquer homem normal se sentiria desconfortável recebendo o ex-noivo da esposa em casa, mas eu achei fascinante. Tivemos uma conversa muito agradável e por mim nos tornaríamos amigos. Minha vida é tão comum e rotineira que qualquer acontecimento se torna importante. Uma pena que Marina pareceu desconfortável com a visita. Uma pena.

— Deveríamos convidá-lo para jantar um dia, não acha? Ele é um bom homem, muito agradável — perguntei a Marina, depois que Colin foi embora.

Marina me encarou com impaciência. — Não, de forma alguma, se tem algum respeito por mim não se aproxime mais dele.

— Posso saber a razão?

 — Porque ele não veio aqui para te ver e sim para me ver e o que aconteceu entre nós já se encerrou. Não quero vê-lo novamente, muito menos que se tornem amigos. Revisitar o passado fará mal a ele e nós dois. 

Ela disse e deu as costas indo até o quarto de Amanda, que chorava. Apenas atendi seu pedido, Marina não pedia muitas coisas e não queria aborrecê-la.

O tempo passou e quando percebi Marina não era a mesma pessoa. Não saía do quarto, não dava atenção aos filhos, nem mesmo jantávamos juntos. Parecia que o fiapo de vida que a mantinha havia rompido e eu não sabia como lidar com essa situação. Até que um dia voltando da estufa a encontrei no lago prestes a se afogar. Prontamente a salvei, mas a friagem ou a falta de vontade de viver a deixaram doente e nem mesmo o médico e os meus chás medicinais foram capazes de salvá-la.

Embora nosso relacionamento fosse distante, senti muito sua perda. Sei o quanto ela sofria pela perda do meu irmão e nada do que fiz foi capaz de suprir sua falta. O que mais me doeu foi perceber que  Amanda e Oliver, meus filhos, estariam órfãos de mãe. Apesar de serem meus sobrinhos, considerando nossos laços sanguíneos, em meu coração os tenho como filhos. São crianças pequenas, mas já correm pela casa, sabem falar embora confundam algumas palavras e perceberam a ausência da mãe. Eu disse que ela está em um lugar melhor. Honestamente, eu espero que esteja.

Mandei cartas para os Featheringtons e resolvi avisar Colin Bridgerton também, afinal ele parecia se importar muito com ela. Estava em meu escritório olhando distraidamente para um livro, quando meu mordomo apareceu. 

— Sir Phillip?

— O que foi? — respondi.

— Chegou uma carta, senhor. — Ele se aproximou e me entregou o envelope. — De Londres. 

Olhei o envelope, curioso. Quase não recebo correspondências de Londres. A letra no envelope é bonita e muito minuciosa. Rompi o lacre da carta onde havia uma folha de papel. 

Sir Phillip Crane

Escrevo para lhe expressar minhas condolências pela perda de sua esposa. Sei que contatou meu irmão, Colin Bridgerton, porém ele está em uma viagem e não tem previsão de retorno. Pensei que seria de bom tom respondê-lo em nome dele e de minha família. Os acontecimentos desagradáveis entre Marina e minha família são águas passadas e sentimos muito por sua perda. Entristeceu-me seu falecimento e sinto muito por seus filhos.

Por favor, não hesite em me escrever se puder fazer algo para ajudá-lo neste difícil momento.

Sinceramente,

Senhorita Eloise Bridgerton

Então Colin ainda não sabe. Mesmo assim achei muito atencioso da parte da srta. Bridgerton me responder. Poucas pessoas me mandaram cartas de condolências, nenhuma sequer me visitou. Devo respondê-la, agradecendo por sua consideração.

Subi para meu escritório e me pus a escrever.

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Eu mudei um pouco a personalidade do Phillip em comparação ao livro, ele está mais gentil e suave.

Com amor, EloiseOnde histórias criam vida. Descubra agora