Capítulo 22

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Muitos meses atrás

Phillip 

Eu trabalhava tranquilamente, embora minha vida fosse tudo, menos satisfatória, digamos que aprendi a me adaptar. Marina me preocupava, especialmente depois da visita de Colin Bridgerton, tive a impressão de que a realidade caiu em suas costas como um banho de água fria e ela se tornou mais esquiva e exigente em relação a mim. Eu sei que ela preferia estar casada com ele, ou qualquer homem que não lembrasse meu irmão, infelizmente para ela eu e George temos semelhanças físicas e há quadros dele por toda casa, mas eu também escolheria uma esposa, na verdade, uma vida muito diferente.

As crianças eram nosso único laço, o único assunto que nos mantinha em uma conversa por mais de dez minutos. Eu entendo porque ela se apaixonou por George, pois tudo que gosto não a interessava e vice-versa. Uma vez fiquei uma semana fora, precisei viajar longe atrás de uma rara espécie de flor ( mesmo que não fosse rara, eu só precisava de uma desculpa para sair de casa), quando voltei não a encontrei.

— Onde está a Lady Crane? — perguntei a um criado.

— Ela pediu que levassem todas as refeições no quarto, Sir.

Achei que ela estava doente e fui vê-la. A encontrei deitada e olhando para o teto, um olhar vago e perdido.

— Marina? Está bem?

— Sim, não vê? — disse sem humor.

— Por que pediu que trouxessem sua refeição aqui?

— Porque quero. — Ela me olhou irritada. — Será que nem isso posso escolher?

— Pode escolher o que quiser.

— Não, eu não posso.

— Creio que não tenha percebido, mas eu também não tenho esse poder.

— Um dia ficará viúvo e poderá se casar de novo, não se preocupe. Por ora, é melhor que cada um viva sua vida da forma que bem entender, não acha?

— Viverá muitos anos.

— Quer mesmo que eu viva? Nosso casamento é uma mentira, uma mera formalidade. Minha morte seria um alívio, poderia começar de novo. Ser feliz.

Engoli em seco. Eu não me sentiria confortável com a ideia de ser feliz às custas da morte alheia. Nunca desejei isso. Às vezes eu tinha até esperança de sermos amigos, ao menos. Aproximei-me da cama e sentei-me a beira.

— Não desejo isso, de maneira alguma. Quero que viva, que também seja feliz. Eu faria qualquer coisa para vê-la feliz.

— Pode ressuscitar uma pessoa? Pode mudar o passado? — Ela deu um leve sorriso carregado de ironia.

Olhei para baixo. — Sabe que não.

— Então me deixe em paz. Já me faria muito contente respeitando meu espaço.

E eu o fiz. Saí do quarto e a deixei viver da maneira que queria, fosse trancada dentro de um quarto isolada, o que mais eu poderia fazer? Mas eu não conseguia evitar a culpa. Por mais que soubesse que estávamos presos pelo destino, eu ainda me sentia culpado por não ser capaz de fazer nada para ajudá-la.

Até que aconteceu. Era fim de inverno. O vento gelado arranhava minha face quando tarde da noite eu voltava para casa. Eu nunca olhava em direção ao lago, mesmo ficando tão próximo. Mas naquele dia eu olhei. E o que vi me encheu de desespero. Marina andava em linha reta em direção ao lago, continuei observando, ninguém em sã consciência nadaria à noite no inverno. Só se desejasse morrer.

Quando vi seu corpo submergindo dentro da água minha única reação foi correr o máximo que minhas pernas permitiam. Quando me aproximei do lago, não havia sinal nenhum dela.

Com amor, EloiseOnde histórias criam vida. Descubra agora