Muitos meses atrás
Phillip
Eu trabalhava tranquilamente, embora minha vida fosse tudo, menos satisfatória, digamos que aprendi a me adaptar. Marina me preocupava, especialmente depois da visita de Colin Bridgerton, tive a impressão de que a realidade caiu em suas costas como um banho de água fria e ela se tornou mais esquiva e exigente em relação a mim. Eu sei que ela preferia estar casada com ele, ou qualquer homem que não lembrasse meu irmão, infelizmente para ela eu e George temos semelhanças físicas e há quadros dele por toda casa, mas eu também escolheria uma esposa, na verdade, uma vida muito diferente.
As crianças eram nosso único laço, o único assunto que nos mantinha em uma conversa por mais de dez minutos. Eu entendo porque ela se apaixonou por George, pois tudo que gosto não a interessava e vice-versa. Uma vez fiquei uma semana fora, precisei viajar longe atrás de uma rara espécie de flor ( mesmo que não fosse rara, eu só precisava de uma desculpa para sair de casa), quando voltei não a encontrei.
— Onde está a Lady Crane? — perguntei a um criado.
— Ela pediu que levassem todas as refeições no quarto, Sir.
Achei que ela estava doente e fui vê-la. A encontrei deitada e olhando para o teto, um olhar vago e perdido.
— Marina? Está bem?
— Sim, não vê? — disse sem humor.
— Por que pediu que trouxessem sua refeição aqui?
— Porque quero. — Ela me olhou irritada. — Será que nem isso posso escolher?
— Pode escolher o que quiser.
— Não, eu não posso.
— Creio que não tenha percebido, mas eu também não tenho esse poder.
— Um dia ficará viúvo e poderá se casar de novo, não se preocupe. Por ora, é melhor que cada um viva sua vida da forma que bem entender, não acha?
— Viverá muitos anos.
— Quer mesmo que eu viva? Nosso casamento é uma mentira, uma mera formalidade. Minha morte seria um alívio, poderia começar de novo. Ser feliz.
Engoli em seco. Eu não me sentiria confortável com a ideia de ser feliz às custas da morte alheia. Nunca desejei isso. Às vezes eu tinha até esperança de sermos amigos, ao menos. Aproximei-me da cama e sentei-me a beira.
— Não desejo isso, de maneira alguma. Quero que viva, que também seja feliz. Eu faria qualquer coisa para vê-la feliz.
— Pode ressuscitar uma pessoa? Pode mudar o passado? — Ela deu um leve sorriso carregado de ironia.
Olhei para baixo. — Sabe que não.
— Então me deixe em paz. Já me faria muito contente respeitando meu espaço.
E eu o fiz. Saí do quarto e a deixei viver da maneira que queria, fosse trancada dentro de um quarto isolada, o que mais eu poderia fazer? Mas eu não conseguia evitar a culpa. Por mais que soubesse que estávamos presos pelo destino, eu ainda me sentia culpado por não ser capaz de fazer nada para ajudá-la.
Até que aconteceu. Era fim de inverno. O vento gelado arranhava minha face quando tarde da noite eu voltava para casa. Eu nunca olhava em direção ao lago, mesmo ficando tão próximo. Mas naquele dia eu olhei. E o que vi me encheu de desespero. Marina andava em linha reta em direção ao lago, continuei observando, ninguém em sã consciência nadaria à noite no inverno. Só se desejasse morrer.
Quando vi seu corpo submergindo dentro da água minha única reação foi correr o máximo que minhas pernas permitiam. Quando me aproximei do lago, não havia sinal nenhum dela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Com amor, Eloise
RomanceDepois de romper sua amizade com Penelope, Eloise Bridgerton se vê solitária e entediada. Até que uma carta enviada pelo Sir Phillip Crane muda essa situação. Os dois passam a trocar correspondências e se tornam cada vez mais próximos, mesmo sem nun...