Capítulo 15

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Eloise

Andamos um ao lado do outro enquanto olhávamos a propriedade, Phillip parece saber o nome de todas as árvores, o que me impressiona.

— Achei que gostasse apenas das flores — eu disse.

— Não, tudo me encanta. Na natureza nada existe só, tanto os animais quanto as plantas dependem um dos outros para sobreviverem, assim como nós dependemos deles também.

— Faz sentido, eu confesso que nunca fui de passear despreocupadamente pelo jardim observando as plantas. Minha mente sempre me leva a algum lugar diferente.

Eu penso demais e estou totalmente consciente disso. Se não estou lendo, estou falando ou fazendo alguma coisa, parar e apreciar não é muito do meu feitio. Ele tornou a atenção a mim.

— Aliás, esqueci de lhe perguntar, mas seu tornozelo parece bem melhor.

— Ah, sim! — Mexi meu pé direito. — Tinha razão antes, o que passou na minha pele junto do descanso fez muito efeito, acordei sentindo quase nada de dor.

Ele sorriu. — Fico feliz, não gosto de vê-la sofrendo.

— Phillip, uma dor no pé é o de menos, existem sofrimentos maiores.

Dei um sorriso leve, não vou dizer a ele que o nosso futuro casamento está me causando sofrimento de certa forma, ele não merece ouvir isso. Continuamos andando enquanto Phillip me nomeava toda planta que via. A culpa é minha, eu o desafiei.

— O que é aquilo? — Ele apontou para o memorial do meu pai.

— É um memorial, para o meu pai. — Olhei para baixo. — Aubrey Hall era seu lugar favorito, então achamos justo que houvesse uma lembrança dele aqui.

— Sente muita falta dele?

Fiz que sim com a cabeça, não é um assunto que eu gosto de falar, geralmente eu evito assuntos emocionais demais. Senti minha garganta seca e respirei fundo.

— Ele era um homem incrível. Um excelente pai, um excelente marido.

— Mas sente raiva dele.

— O quê? — Olhei para Phillip, confusa. Eu não sei do que ele fala.

— Eu não sei, senti no seu tom de voz, eu... eu não quero dizer que não gosta do seu pai, mas às vezes nos revolta quando as pessoas se vão cedo demais. Sabemos que não é culpa delas, mas fica uma mágoa. Ele podia ter vivido mais, ele tinha tanto para fazer.

As palavras dele estão carregadas de sentimento, Phillip perdeu toda a família, não imagino a dor. Eu ainda tenho meus irmãos, minha mãe, ele só tem os filhos. Porém, ele tem razão, como ignoro meus sentimentos nunca parei para pensar, mas a morte de meu pai me causou muita revolta.

— Sim, eu senti revolta, se quer saber — admiti. — Sou humana. Achava injusto que Anthony e Benedict tenham tido tantos anos com ele e eu só sete. Tanta coisa que poderíamos ter feito, que ele poderia ter me ensinado. E por causa de uma abelha, de uma simples abelhinha eu não o tenho mais comigo. — Meus olhos lacrimejaram, mas segurei as lágrimas e olhei para os jacintos que decoram o memorial.

— Sinto muito, Eloise.

— Não se preocupe, já faz tanto tempo. É que... eu não costumo falar do assunto.

— Ele foi picado por uma abelha?

— Sim, havia saído para caçar com Anthony, eu estava na janela o esperando porque ele sempre brincava comigo, queria contar a ele alguma ideia que tive, o vi pegando flores, de repente caiu, mamãe correu até ele, todos saíram a porta, confusos... Eu tentei me aproximar, mas não me deixaram, Daphne me segurou nos braços, eu não parava de chorar. Foi assim por dias. Mamãe estava grávida de Hyacinth. — Olhei para Phillip que me ouve atentamente. — Ela mudou tanto, a mulher feliz que eu admirava se tornou triste, ausente. Uma vez fui ao seu quarto à noite, depois de um pesadelo, mas o pesadelo foi o que vi, ela gritava, gritava como se estivesse sentindo uma dor agonizante e dizia que queria ir embora também, que queria morrer. Eu senti tanto medo de perdê-la, minha mãe sempre foi tudo para mim. Talvez nesse momento eu tenha sentido revolta por meu pai ter nos deixado assim, ao mesmo tempo que eu sei que as coisas são como tem que ser, não há como evitar a morte. 

Com amor, EloiseOnde histórias criam vida. Descubra agora