Capítulo 4

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Eloise

Será que o Sir Crane leu aquela carta? E se nunca mais me responder? Eu não o julgaria, apenas uma mulher sem o mínimo de senso ou educação mandaria algo tão pessoal a um estranho. Não paro de pensar nisso, minha mente está realmente perturbada. Nem mesmo a chegada de Colin foi capaz de tirar o assunto da minha cabeça.

Francesca enfim debutará, sinto um alívio por não ser eu, ao mesmo tempo em que fico receosa por ela e por mim também, mais uma temporada, mais bailes, mais expectativas de casamento. Eu não sei até quando vou suportar fingir que me adequo as expectativas sociais ou que sou capaz de me adequar, pois quanto mais o tempo passa, mais percebo minha inabilidade me me encaixar nos padrões.

— Não é engraçado que nos colocam como um prêmio em exposição diante à rainha? — Francesca disse a mim e a olhei curiosa.

— Somos sempre um prêmio em exposição, irmã. O prêmio de algum cavalheiro que também se acha um prêmio. Tudo não passa de um jogo de interesses.

— Tem razão. — Francesca parece preocupada. Segurei o braço dela.

— Não fique assim, você vai se sair muito bem, só faça tudo que eu não fiz e não faça nada que eu tenha feito.

Francesca riu. — Eu vou tentar.

Quando estava saindo, minha criada me chamou.

— A senhorita disse que deveria avisá-la se chegasse alguma carta. — Ela tirou a carta do bolso.

— Por que não me entregou antes?

— Estavam todos conversando na sala, eu não quis interromper.

— Certo, obrigada. — Segurei o envelope com tamanha ansiedade, minhas luvas escorrendo pelo papel em busca do remetente. Sir Crane. Engoli em seco. Quero ler a carta, ao mesmo tempo que temo ler o conteúdo. Sempre achei que não me importava com que os outros pensavam de mim, mas cada dia mais noto que me importo, até mais do que deveria.

Guardei a carta na minha bolsa e fui até a porta, apressada. Queria tanto abri-la, mas estarei na carruagem com a pessoa mais curiosa que conheço, será impossível. Acho que vou corroer de curiosidade. Fomos a caminho do palácio. Não conseguia parar de bater o meu pé, de ansiedade. Estava quase para abrir a carta de uma vez, mas Hyacinth está me olhando e vai fazer questionamentos.

— Parece nervosa como se fosse você quem fosse debutar — ela disse.

— Nem me faça lembrar daquele dia, apenas imagino o nervosismo de Francesca.

— Pois eu não vejo motivos para ficar nervosa, estou ansiosa para quando for minha vez!

Hyacinth certamente vai se sair melhor que eu. Arrumei meu echarpe em meu colo pela quinta vez, tentando amenizar minha inquietação.

— O Sir Crane enviou alguma carta? — minha irmã perguntou e eu quase pulei do banco.

— Por que ele enviaria uma carta? Ele já deu a notícia sobre a Marina, não teria porque mandar cartas  — justifiquei-me, não posso acreditar que ela descobriu que estamos nos correspondendo! 

— Digo isso apenas porque o Colin ainda não sabe sobre a morte da Marina, portanto não o respondeu.

Dei um suspiro de alívio. — Uma hora ou outra ele vai descobrir, vou entregar a carta ao Colin, não se preocupe.

— Ele vai ficar desolado.

Suspirei, se nós que não éramos próximos ficamos abalados, nem quero imaginar o que ele sentirá. Mas depois eu penso nisso. Espero que o debute seja rápido para que eu possa voltar para casa logo. 

Com amor, EloiseOnde histórias criam vida. Descubra agora