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Ainda naquela madrugada quando o menor voltou para o quarto de banho tomado encontrou o paulista dormindo em sua cama apenas de cueca, deitou ao lado dele e o abraçou sentindo a respiração quente contra seu rosto, mas Miguel sequer se moveu.

Quando acordou no dia seguinte percebeu que estava completamente sozinho em seu quarto, olhando ao redor e se dando conta que não havia nenhum vestígio do paulista no cômodo. Encarou o teto de madeira um pouco chateado, suspirando. Vinha fantasiando nos últimos dias qual seria a sensação de acordar ao lado do moreno, porém havia se decepcionado um pouquinho. 

Depois de enrolar bastante ele se levantou da cama, descendo as escadas quase se arrastando e olhando ao redor vendo apenas sua cachorrinha no sofá. A cumprimentou e caminhou até a cozinha vendo que a mesa estava colocada com biscoitinhos dentro de um pequeno pote e pãezinhos recheados, sem contar na jarra de suco e nos copos em cima de uma bandeja pequena. Ouviu um barulho baixo de porta abrindo e olhou para o lado, encarando Miguel que saía do banheiro com roupas diferentes das que usava ontem.

— Bom dia, gatinho. — Falou com um sorriso,  beijando o rosto do menor. — Que carinha é essa?

— Eu pensei que havia ido embora... — Henrique murmurou envergonhado, ouvindo a risada fraca do maior.

— 'Cê loco eu nunca faria isso.

Os dois se sentaram na mesa lado a lado e começaram a tomar o desjejum em silêncio,  Henrique estava pensando em alguma ideia para faltar no trabalho já que estava totalmente indisposto a pegar o plantão, enquanto a mente do paulista viajava no acontecimento da madrugada entre eles dois.

Olhava disfarçadamente para o menor querendo o questionar sobre, mas estava com vergonha e não sabia como abordar o assunto.  Ele se sentiu um pouco mal por não ter ajudado o baiano a se aliviar, imaginou que ele iria lavar apenas o rosto e voltar para continuarem, mas ao ver sua demora acabou dormindo sem sequer perceber devido a fadiga.

— Sobre ontem... — Henrique começou, distraído.

— A-ah sim, ontem... — O paulista resmungou esperando que o outro continuasse.

— O que você achou? Eu percebi que ficou um pouco desconfortável,  mas não consegui pensar em algo melhor.

— Não! Eu gostei, foi legal... — Respondeu um pouco envergonhado, desviando o olhar do rosto do menor e o encarando novamente, totalmente confuso.  — Pensar em algo melhor? Você não gostou?

— Claro que não, sinto que aquilo acabou um pouco o humor da minha noite. — Suspirou desanimado, sentindo vontade de surtar ao relembrar dos curtos minutos que Higor ficou ao lado deles na festa e do quão desconfortável foi ver ele o paulista se encarando em silêncio,  dava para sentir o desconforto de Miguel também.

Miguel o encarou com um pedaço de pão na boca, piscando diversas vezes e encolhendo o corpo na cadeira. O paulista voltou o olhar para o próprio prato e começou a comer em silêncio novamente,  sentindo não apenas constrangimento, mas também certa decepção em ouvir aquilo. Céus, era embaraçoso.

Ele não tinha tanta experiência assim com homens, teve um rápido ''relacionamento'' em São Paulo com um garoto e já ficou com outros dois, porém a grande maioria das pessoas que se relacionava eram mulheres.  Era assumido bi, entretanto se sentia inexperiente - sexualmente falando - com garotos, diferente do baiano que exalava certa experiência.

Henrique estranhou o silêncio repentino e o encarou confuso, tocando com a ponta do dedo a coxa do mais velho que pareceu o ignorar. Miguel estava constrangido, não conseguia olhar o outro por mais que tivesse vontade. 

— Por que está quietinho? — Acabou questionando, vendo-o negar com a cabeça.  — Aconteceu alguma coisa?

Os olhos escuros encararam o rosto preocupado do menor, desviando rapidamente o olhar enquanto negava novamente,  bebericando o suco.

— Não... — Por fim murmurou. — Estava pensando. 

— Em que?

Henrique apoiou os cotovelos na mesa e a cabeça em sua mão, fitando o maior que estava sentando ao seu lado. Mordeu os lábios levemente sentindo uma grande vontade de beijar os lábios cheinhos, repreendendo seus próprios pensamentos ao lembrar que ainda não havia feito sua higiene bucal.

— Nada especial... — Miguel respondeu desanimado, levantando com os talheres que usou e os lavando um pouco apressado. — Eu vou indo.

— Certo, preciso ir trabalhar e estou um pouco atrasado. — Comentou, rindo fraco e se levantando também.  O baiano se aproximou do outro, passando os dedos na clavícula coberta. — Vejo você mais tarde?

— Mais tarde? — Miguel repetiu um pouco confuso, entendendo minutos depois o convite sutil do outro para que ele dormisse consigo de novo. — Ah... Não sei se hoje vai rolar.

— Por quê? — O menor questionou tristemente,  ficando na ponta dos pés somente para entrelaçar os braços no pescoço do outro. — Alguma coisa marcada?

— Prometi a meus amigos passar um pouco de tempo com eles. — Miguel resmungou,  mas não era uma mentira. Realmente havia falado a eles hoje cedo quando foi se banhar que iria tirar um tempo para fazerem algo juntos.

— Poxa... — Henrique resmungou,  concordando.  — Tudo bem então,  vou pensar em algo legal para fazermos amanhã.

O paulista se forçou a sorrir, sentindo os lábios quentes selarem os seus em um rápido selinho. Se afastou do menor sorrindo um tanto que sem graça para ele, acenando antes de praticamente fugir de sua casa. 

Miguel fechou a porta da casa dos amigos apressado, recebendo um olhar questionador de Jorge que estava sentado no sofá com seu notebook no colo. Se arrastou até o quarto e passou e restante do dia deitado, pensando em tudo o que aconteceu e na conversa que teve com o moreno mais cedo.

Sentia que se continuasse pensando no assunto surtaria, porém não consegui parar de relembrar as palavras do baiano. Ele estava se sentindo chateado como se o grande amor da sua vida tivesse destruído em mil pedaços seu coração,  e infelizmente não estava exagerando.

Estava se apegando muito rápido ao baiano e sentia que as coisas entre eles fluíam muito bem, porém agora estava se sentindo totalmente perdido sobre todas aquelas sensações e pensamentos. 


De fato Miguel passou o dia trancado no quarto, acarretou em diversos questionamentos dos amigos sobre o que havia acontecido, mas preferiu não comentar sobre o assunto com ninguém.  Estava próximo das dez horas da noite quando seu celular vibrou diversas vezes,  indicando mais de uma mensagem recebida.

Encarou o contato salvo de Henrique e as cinco mensagens no whatsapp, lendo pela barra de notificações.  O baiano perguntava como havia sido seu dia e questionava se ele realmente não pretendia ir dormir consigo de novo, enviando emojis triste ao não receber nenhuma mensagem com o passar dos minutos. 

Em meio a sua angústia Miguel acabou dormindo, sem ao menos ver o horário que os amigos adentraram o quarto para dormirem também.  Talvez tivesse pensado tanto o dia inteiro que seu corpo apenas desligou, tendo um sono profundo.

Pelourinho [MINSUNG]Onde histórias criam vida. Descubra agora