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Quando resolveram o pequeno mal entendido ficaram no corredor do prédio trocando beijinhos no lugar de pouca luz, conversando sobre inseguranças que já sentiram em um papo profundo já que Miguel estava chapado e admirando a lua crescente pela janela.

Entraram em casa durante a madrugada e foi bem mais difícil do que o imaginado se despedir, Henrique queria muito o convidar para dormir consigo novamente, mas não era o momento apropriado.

Logo cedo no dia seguinte Miguel acordou atordoado por causa da música alta, tapando os ouvidos enquanto xingava. Esperou alguns minutos deitado enquanto rezava para que alguém abaixasse o volume, mas vendo que a música da Anitta pareceu soar um pouco mais alto ele se forçou a levantar e sair do quarto.

Encarou Felipe com uma cara de poucos amigos ao vê-lo dançando de pijama com uma vassoura na mão, olhando ao redor e percebendo que os amigos pareciam faxinar a casa. Miguel chegou na caixa de som e abaixou todo o volume, ouvindo as reclamações se iniciarem.

— Ah, qual é! — O loirinho foi o primeiro a reclamar. — Aumenta o volume, mano.

— Velho quem foi o idiota que teve a ideia de ligar o som nessas alturas a essas horas? — O moreno respondeu. — Eu estava dormindo tio!

— Estava. Não está mais. — Samuel retrucou, indo até a caixa de som. — Se não quiser ouvir a música ou ajudar na faxina pode ir procurar outra coisa 'pra fazer bem longe daqui.

— Impressão minha ou estou sendo expulso? — Questionou ao ver Jorge saindo do quarto.

— Bem vindo ao clube, amigo. — O menor respondeu, bufando. — Vou dar um 'rolê por aí.

Miguel observou um pouco atordoado o amigo saindo de casa, voltando a se assustar com o barulho do som sendo aumentado novamente. Acabou saindo do transe ao ser empurrado para fora da sala por Samuel, enquanto o outro irmão arrastava com um pouco de dificuldade o sofá pesado.

Acabou se trancando no banheiro para fazer sua higiene, saindo cerca de dez minutos depois e olhando na direção que os amigos estavam, encarando o mais baixo que estava em cima de cadeiras empilhadas enquanto tentava tirar as cortinas. Negou com a cabeça e pegou o celular e sua carteira, saindo do lugar barulhento logo depois.

Desceu as escadas praticamente correndo, sendo abraçado pelo sol quente quando saiu do prédio. Uma das coisas que ainda não havia se acostumado na Bahia era o calor sufocante e o sol de rachar. Não se lembrava de precisar depender de protetor solar como ultimamente dependia, era até cômico.

Encarou a rua movimentada e então caminhou pela calçada, cumprimentando algumas pessoas que direcionavam cordiais "bom dia" para ele. Foi até o bar restaurante da famosa Neusão, primeiro lugar que conheceu ao chegar no Pelourinho, adentrando o lugar pouco movimentado.

Para a sua infelicidade não era a mulher quem estava atrás do balcão cuidando do bar, mas sim o famoso e nada simpático Higor. Assim como era de se esperar ele fez uma expressão de poucos amigos ao reconhecer o paulista, cruzando os braços na frente do peito enquanto mantinha o olhar desdenhoso.

— Bom dia, tem alguma comida saindo? — Miguel perguntou tentando ser educado, mesmo não gostando do cara ele era uma pessoa civilizada.

— Bom dia, turista. — O mais alto respondeu o olhando nos olhos, sorrindo irônico. — Não, apenas depois do meio-dia.

O paulista o olhou não muito convencido com a resposta, mas preferiu se limitar a agradecer e se afastar. Desbloqueou o celular somente para procurar no google maps algum lugar por perto que poderia lhe proporcionar um bom café da manhã, após isso ele iria até alguma concessionária para tentar alugar algum veículo.

Pensou bastante nos últimos dias e se fosse pegar o transporte público para chegar aos lugares ou então pagar uber a viagem sairia mais cara do que havia separado em seu orçamento, então começou a cogitar na ideia de alugar um carro e o utilizar em suas saídas. Havia feito uma pequena lista se organizando, agora precisava apenas ir atrás do seu atual objetivo. Após o café iria colocar a mão na massa, ou melhor, no volante.

Depois de algumas horas fora ele voltar com o carro alugado, deixando o veículo na frente do prédio já que não havia nenhum estacionamento por perto. Subiu as escadas pulando alguns degraus, desistindo de voltar para casa ao ouvir o barulho do som alto que ecoava de dentro do lugar.

Miguel sempre foi do tipo de pessoa que não gostava de festas ou ambientes barulhentos, ele prezava por lugares silenciosos e tranquilos,  normalmente quando ia à festas era porque algum dos amigos o obrigava ou algo do tipo. Sem ter muito o que fazer ele decidiu bater na porta vizinha, esperando por alguma resposta.

Novamente bateu na porta e ela se abriu, encarando o baiano que usava uma bermuda fina e uma regata branca, enxergando os fios ondulados bagunçados. Henrique o puxou pela mão para dentro de sua casa, sorrindo minimamente.

— Estava me perguntando se você não apareceria nunca. — Comentou, apoiando o queixo no peito do mais velho enquanto o olhava.

— Isso tudo é saudade? Se não chapei tanto, lembro que estávamos juntos ontem a noite.

Henrique riu abertamente, dando de ombros enquanto mordia levemente a ponta da língua sem saber o que falar. A cachorrinha se aproximou da visita e então cheirou seus pés, abanando o rabo enquanto erguia o corpo pequeno como se pedisse por colo.

O paulista se curvou e fez um rápido carinho nela, sentando no sofá enquanto largava suas coisas no assento ao lado. Miguel olhou para a televisão, rindo ao perceber que o menor assistia The Walking Dead.

— Essa série é tão antiga. — Comentou, vendo o menor se aproximar mais de si e se sentar em seu colo.

— Sim, mas não deixa de ser boa. — Henrique respondeu e o olhou. — É bom ver você.

— Que bicho te mordeu? Está todo dengoso. — Murmurou, beijando a bochecha do baiano enquanto abraçava com cuidado o corpo pequeno em cima do seu.

Henrique sorriu minimamente e então abaixou a cabeça, despertando curiosidade no mais velho que não estava entendendo muito àquele comportamento. O paulista alisou a coxa do menor, juntando suas bocas em um beijo calmo, sendo extremamente carinhoso com seus toques sutis.

Abraçou ainda mais o corpo pequeno, sentindo os braços do baiano lhe abraçarem de volta e os dedos curtos acariciarem sua nuca. Separaram os lábios somente para recuperarem um pouco de oxigênio, juntando as bocas em um novo beijo, mantendo a mesma sintonia de antes.

Assim como os beijinhos trocados ontem a noite, aqueles dois beijos estavam carregados de saudades.

E ali com Henrique em seus braços um pensamento intrusivo tomou conta da cabeça do paulista. Ele precisaria voltar para sua vida em São Paulo dentro de algumas semanas, como iriam lidar com isso?

Ele gostava do baiano apesar de não namorarem, talvez estivessem ficando a sério apesar de ninguém rotular o que estava acontecendo entre eles, mas de certa forma ele sentia que Salvador lhe proporcionou conhecer não apenas uma nova cidade com belas paisagens, mas também conhecer o amor de sua vida.

Pelourinho [MINSUNG]Onde histórias criam vida. Descubra agora