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Miguel estava na frente do prédio com Thiago e Jorge, eles estavam limpando o carro há minutos atrás e ao acabarem permaneceram por lá enquanto conversavam casualmente.

Depois do incidente dos pais do baiano chegarem de repente o paulista não o viu mais, conversavam por mensagem e Henrique estava sempre reclamando de algo que acontecia em sua casa ou de sua prima folgada falando que não aguentava mais e queria que eles fossem embora logo. Para Miguel era um pouco estranho ler aquele tipo de mensagem já que sempre teve um ótimo relacionamento com sua família, mas aparentemente esse não era o caso do seu ficante.

Estava distraído rindo do que Thiago contava sobre a queda que Felipe tomou bêbado quando foi subir na garupa da moto quando percebeu a aproximação de Henrique, sentindo seu coração palpitar mais rápido enquanto o olhava atentamente.

Estava tão focado em fitar o rostinho do mais novo que sequer percebeu que ele estava acompanhado de duas mulheres, desviando o olhar ao ouvir as vozes femininas junto a de Thiago que as cumprimentavam.

Thiago conversou com a mãe do amigo animadamente, enquanto o baiano permanecia em silêncio ao lado da mulher com um olhar baixo que preocupou o paulista. Os olhos de Miguel desviaram por um segundo para o rosto jovial da garota que havia falado consigo, encarando ela um pouco confuso já que não prestou atenção no que ela havia falado.

Conseguiu a ver rir fracamente, jogando com uma mão o cabelo para o lado enquanto o olhava com um sorrisinho.

- E vocês também são amigos do meu primo? Nunca os vi por aqui. - Ela perguntou para ele e Jorge, apesar dos olhos verdes estarem fixos em Miguel.

- Sim, mas não moramos aqui. - Jorge quem respondeu, sorrindo simpático.

- Interessante. É um prazer conhecer vocês. - Falou, mordendo levemente o dedo sem desviar os olhos do paulista que se sentiu um pouco desconfortável com toda aquela atenção em si.

Henrique encarou a prima perplexo, engolindo todos os xingamentos que teve vontade de direcionar a ela. Cumprimentou rapidamente os outros falando que iria subir porque estava carregando as compras pesadas, praticamente correndo para dentro do prédio.

Não demorou tanto para que as mulheres se despedissem e o seguisse, deixando os outros três sozinhos novamente.

O baiano terminou de jantar, encarando em silêncio os pais em sua frente que não paravam de falar sobre o quão "desleixado" ele estava, começando a o comparar com seu irmão e logo depois com sua prima que agora era como uma filha para eles.

A sua tia havia morrido alguns anos atrás e agora a garota morava no interior com seus pais, tornando-se filha de consideração deles com o passar do tempo e da convivência.

Henrique mais uma vez desligou a mente e tentou focar em qualquer outra coisa, havia adquirido aquele costume sempre que seus pais reapareciam em sua vida para insultar o modo que vivia e suas escolhas. Se ele não ignorasse poderia surtar, então preferia fingir nem ouvir.

Retirou a mesa sozinho e lavou a louça, desviando dos pais que estavam assistindo televisão na sala enquanto caminhava na direção da porta. Estava em sua casa, mas ultimamente não se sentia em casa.

- Onde vai, garoto? - Seu pai questionou com certa rigidez.

- Na casa dos meus amigos, temos um programa marcado e mal os vi esses dias. - Respondeu desanimado. - Até mais tarde.

E então saiu rapidamente, fechando a porta apressado para evitar mais questionamentos. Estava abrindo a porta da casa dos amigos quando viu sua prima o seguir, encarando ela com a sobrancelha arqueada.

- O que quer, porra?

- Minha tia mandou eu ir com você, ela disse que é bom passar um tempo com pessoas de nossa idade. - Ela respondeu e deu de ombros. - Fora que vai ser legal conhecer seus amigos melhor.

A garota sequer deu tempo para que ele respondesse, apenas abriu a porta e adentrou a casa como se fosse uma velha conhecida e melhor amiga deles. Henrique fechou a porta ao adentrar o cômodo, percebendo que todos já estavam reunidos e o filme estava pausado.

Caminhou na direção do sofá onde Miguel estava, sem conseguir sentar ao lado dele já que sua prima chegou primeiro e se sentou no lugar livre. Encarou o paulista que o olhou, passando por ele direto e se sentando do outro lado da sala.

- Vocês sempre fazem isso? - A garota perguntou, cruzando as pernas e fazendo com que a saia curta subisse um pouco mais.

- Sim, quase toda sexta. - Felipe respondeu. - É um dos poucos momentos que conseguimos nos reunir em casa.

- Bem legal. - Ela continuou, sorrindo. - Ah que gatinho fofo!

Henrique rezava em silêncio para que a poltrona o engolisse, encarando os outros dois que ocupavam o sofá pequeno. Observou a prima inclinar o corpo na direção do paulista ficando bem próxima, sentindo um incômodo estranho ao perceber que ele não a afastou.

- É seu? - Ela continuou, ignorando as conversas paralelas dos outros ou a movimentação de Thiago e Felipe que iam e viam da cozinha para a sala com os lanches que iriam comer durante o filme.

- Sim, eu tenho três. - O paulista respondeu distraído, encarando o papel de parede do celular com um sorriso triste. - Sinto falta dos meus filhos.

- Oh, fofo. - Ela apertou suas bochechas antes de se afastar. - Eu também tenho um, aqui está o Nico.

Miguel olhou a foto que lhe foi mostrada atentamente, elogiando o gatinho da garota que não parava de sorrir. Os olhos pequenos de Henrique estavam fixos nos outros dois e ele sequer piscava, Samuel e Jorge o olhavam preocupados sentindo o incômodo dele com a situação.

Acabou se assustando quando de repente alguém tropeçou em seu pé, encarando meio desnorteado Cristiano que havia caído em sua frente.

- Olha onde coloca o pé, Henrique. - O mais velho reclamou.

- Foi mal cara. - O baiano se limitou a responder.

Thiago e Felipe se aproximaram e se sentaram no chão lado a lado, iriam finalmente iniciar o filme, mas o maromba lembrou que havia esquecido algumas pipocas na cozinha.

- Aí eu já fui muitas vezes, trás lá Henrique. - Thiago pediu.

O baiano suspirou e então levantou da poltrona onde estava, adentrando a cozinha enquanto via algumas vasilhas com pipoca dentro. Jogou um pouco de leite condensado em um dos potes cheios que seria o seu, estava pegando os diversos recipientes quando percebeu uma outra presença no cômodo.

Encarou Miguel que o olhava, desviando dele ao perceber que ele iria se aproximar de si.

- O que foi? - O paulista cochichou, espiando os outros na sala.

- Qual é a tua? - O baiano respondeu no mesmo tom. - Vai mesmo ficar correspondendo os flertes baratos da nojenta da minha prima em minha frente, porra?

- Mas eu não-

Henrique o olhou e negou com a cabeça, deixando ele sozinho na cozinha logo depois. Entregou as vasilhas para alguns dos outros, sentando em seu lugar e começando a comer a sua em silêncio. Quando o pauliata voltou o filme finalmente foi iniciado.

Pelourinho [MINSUNG]Onde histórias criam vida. Descubra agora