26.

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Quando entraram na casa de Cristiano o cômodo estava vazio e escuro, aparentemente todos já haviam ido dormir ou queriam aparentar isso. O paulista deixou o menor na sala somente para ir buscar o colchão,  voltando com todas as suas coisas logo depois.

Arrumou o colchão no chão entre os dois sofás, colocando o travesseiro e a coberta enquanto se afastava na direção da cozinha para buscar um copo de água para o moreno. Após beber o líquido e se sentir um pouco mais calmo o baiano se deitou, abraçando o ficante quando ele ocupou o lugar ao seu lado.

Ficaram em silêncio abraçados na escuridão noturna, enquanto Miguel separava os fios escuros do outro em um carinho terno.

— A última vez que eles vieram eu ainda estava namorando com o Higor... — Murmurou baixo, fungando. — Havíamos voltado recentemente e nosso namoro 'tava em uma fase bem melhor, sabe?

— Sei sim. — O outro sussurrou, virando o corpo para o menor. — Aquela fase que você sente que as coisas começaram a caminhar direito.

— Hm, é.  — Henrique resmungou.  — Mas os meus pais apareceram e tudo começou a desandar. Eles nunca aceitaram a minha sexualidade e são extremamente homofóbicos, mas na época acabaram se ''conformando'' já que sempre os enfrentava em defesa ao meu namoro. — Riu desanimado. — Até que chamaram o Higor para um jantar em família na tentativa de conhece-lo melhor...

Miguel se manteve em silêncio enquanto ouvia o desabafo do outro, acariciando a bochecha fria do menor.

— Durante o jantar às piadinhas começaram e as ofensas também,  eles até gostaram do Higor e começou a empurra-lo para Laís a intitulando uma namorado melhor e essas coisas. — Engoliu a seco, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas novamente.  — E ele não fazia ou dizia nada. — Soluçou.  — Ele ouvia a tudo calado e apenas sorria envergonhado com as insinuações, não tentou me defender ou mudar o rumo da conversa e deixou com que mais uma vez meus pais me humilhassem da maneira que bem queriam.

— Ele é um grande idiota. — Miguel não se contentou e comentou.

— Eu fiquei chateado, mas não terminei por isso... — Murmurou.  — Na época meus pais ficaram um mês aqui em casa e depois do jantar, conforme os dias passaram, notei que ele andava muito aqui em casa mesmo quando eu não estava.

— Ei... — Miguel tentou intervir vendo que o outro começaria a chorar novamente. — Você realmente não precisa me falar se isso ainda machuca você.

— Não me machuca. — Fungou, limpando as lágrimas com as mãos. — Ele me traiu com ela, sabe? — Cochichou. — Meus pais sabiam e acobertava tudo, acabei descobrindo porque os peguei no maior clima no meu sofá  um dia que voltei mais cedo do trabalho. 

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, Miguel apertou a cintura do menor com um pouco de força enquanto os pensamentos vagavam sobre aquele acontecimento.  Como alguém pode ser tão filho da pura daquela maneira? É nítido a mágoa ressentida do baiano.

— Eu estou com vontade de esmurrar esse Higor.  — Comentou, ouvindo o riso do menor.

— Não vale a pena. — Acabou murmurando, sonolento. — Eu gosto muito mais de você.

Miguel sorriu e então beijou o rosto do menor, selando os lábios em um rápido selinho.

— Você seria um bom namorado, Miguel... — Cochichou se entregando aos poucos ao sono. — Pena que isso não vai rolar.

O pequeno sorriso no rosto do paulista se abateu, conseguindo ouvir o ressoar baixo do moreno que havia adormecido. Tocou com cuidado o rosto bochechudo em um carinho preguiçoso, sentindo sua boca ficar seca e seus olhos marejarem.

Ele gostava de Henrique, havia se apegado tanto que se arriscaria a dizer que o amava. Não estava mais conseguindo esconder que estava apaixonado pelo baiano, na verdade nunca conseguiu esconder. Ele tinha a impressão que o amou na primeira e intensa troca de olhares daquele domingo.

Estava a todo custo evitando lembrar que um dia precisaria deixa-lo e voltar para São Paulo porque odiava cogitar perde-lo, dentre todas as pessoas que se relacionou, nenhum ocupou em seu coração o espaço especial como Henrique havia ocupado. Seria egoísta querer ficar com ele pelo resto dos seus dias de vida?

Sim, eles tinham a opção de um namoro a distância como seus amigos, mas sabia que não rolaria. Henrique não era esse tipo de pessoa e ele muito menos, odiaria não tê-lo todos os dias em seus braços ou beija-lo quando quisesse.

Aquelas palavras do baiano o machucou no mais profundo de sua alma, passou a noite em claro se martirizando enquanto pensava nas inúmeras formas que o perderia quando precisasse pegar o voo de volta para sua casa.

Casa... 

A sua casa em São Paulo parecia apenas um cômodo de quatro paredes se comparado ao sentimento de lar que sentia quando estava com o baiano em seu braços. Não sabia o que pensar, mas tinha a certeza de que ele estava fodido.


Beirando as dez e meia Henrique abriu os olhos, conseguindo ver as costas nua do paulista que permanecia deitado ao seu lado. O abraçou ainda mais apertado, beijando a pele quente conseguindo vê-la se arrepiar antes de se afastar e se espreguiçar. 

Miguel se virou para ele com os olhos vermelhos e fundos, preocupando o menor que o encarou confuso.

— Você está se sentindo bem? — Questionou baixo, aparentemente os outros ainda estavam em seus respectivos quartos.

O paulista concordou com a cabeça sem conseguir abrir a boca, sentindo a mão quente tocar cada pedacinho do seu rosto com preocupação somente para checar sem ele havia se machucado. 

— Henrique. — O chamou baixinho.  — Eu amo você.

A boca do moreno secou e ele não conseguir se mover ou falar algo, apenas encarou o paulista totalmente surpreso enquanto sentia a mão quente do outro segurar a sua e a retirar com cuidado do rosto pálido.

— Eu não quero te perder. — Sussurrou choroso. — Não consegui dormir pensando nisso, eu acho que estou com medo e-

— Não precisamos pensar nisso agora... — O menor murmurou se sentindo inquieto, enxergando o rosto borrado do outro já que seus olhos se encheram de lágrimas com o assunto repentino.

— Venho falando isso para mim mesmo todos os dias, mas é difícil não lembrar que a cada dia que passa está mais perto. — Resmungou. — Você vai se lembrar de mim?

— Vou. Eu vou pensar em você todos os dias, Miguel. — O baiano sussurrou choroso, beijando os lábios secos do outro. — Eu não posso negar que amo você, amo mais do que deveria.

O paulista sorriu triste ao ouvir aquelas palavras, segurando o rosto do menor com cuidado antes de colar seus lábios em um selinho demorado.

Por mais difícil que fosse a dor da despedida, saber que Henrique se sentia da mesma forma o confortava. Talvez pudessem dar certo, mas se não desse, rezaria para que em uma outra vida o conhecesse novamente e o amasse de novo.

Pelourinho [MINSUNG]Onde histórias criam vida. Descubra agora