Capítulo 6

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"Eu não queria ter feito isso, jamais vou me perdoar pelo que eu fiz... Com que cara irei olhar para minha família depois disso? Com que cara irei estar na presença de Deus depois disso? Nem o pior dos seres teria coragem de fazer o que eu fiz..."

Índia, abril de 2012

Rio de Janeiro, abril de 2016

Semanas depois, Arun estava sentado em um ambiente completamente novo. Seu estágio em um dos maiores escritórios de advocacia havia começado e ele estava bastante feliz, só que... ao mesmo tempo que sua felicidade era notória, o vazio em seu coração também. Tempos atrás ele se imaginava vivendo uma vida completamente diferente daquela, nem sequer imaginava que faria uma faculdade. Seu maior sonho quando criança era ser missionário, viajar o mundo pregando o evangelho a toda criatura, viver experiências sobrenaturais com Deus, mas...

Ali estava ele: preste a fazer 26 anos, iniciando seu mestrado em direito penal. O sonho de fazer missões ficara em um passado muito distante, em um Arun que já não existia mais. Sua vida tinha mudado da água para o vinho – e ele sabia que não fora uma mudança boa.

No fundo ele queria um dia ter a coragem de voltar a orar, entrar em uma igreja de novo, voltar a sonhar os sonhos que uma vez sonhara, mas ele não conseguia se perdoar pelo que tinha feito – e tinha certeza de que Deus nunca o perdoaria. Quando pensava na Índia e no que tinha feito, sentia vergonha de si mesmo. Nunca iria se ver em uma igreja novamente, Deus não merecia alguém tão podre como ele em um ambiente com pessoas que o buscava de verdade. Ele definitivamente era o pior dos pecadores. Aquele dia – primeiro de abril – sempre lhe lembraria do dia em que ele conseguiu fazer com que diversas famílias chorassem.

Envolto em seus pensamentos e lembranças dolorosas, ele não percebeu quando seu patrão entrou na sala, falando ao telefone.

– Descobriram alguma coisa sobre o estado da minha filha?

Do outro lado da linha, alguém lhe dava informações sobre sua filha, que os médicos duvidavam que acordaria algum dia.

– E minha neta? – Ele perguntou.

Do outro lado da linha o homem respondeu, sem que Arun pudesse ouvir.

– Parece que tem uma filha.

– Uma filha!? – O homem de cabelos grisalhos parecia furioso. – Que história absurda é essa? – Sem uma resposta do outro lado da linha, ele exigiu: – Descubra quem é o pai, de onde veio, quem é a família dele. Eu quero saber tudo sobre a pessoa que engravidou minha neta!

Da última vez que tivera informações de sua neta, descobrira que a coitada havia decidido cursar moda e que se formaria ao fim desse ano, mas agora, para piorar a situação, ele descobrira que era bisavô – e sua neta nem era casada. Sabia que aquele homem – pai de Noemi – seria um péssimo pai, se ele próprio tivesse criado a garota, hoje ela estaria preste a se tornar uma grande advogada, assim como. Agora ela seria uma simples modista com uma filha fora do casamento nos braços.

Ele percebeu a presença do rapaz, que estava de cabeça baixa, tentando não prestar atenção na conversa de seu patrão.

– Bom dia, Arun – o homem o cumprimentou, tão simpático que não parecia o mesmo homem furioso há segundos. – Chegou bem cedo, não!?

Ele se permitiu levantar a cabeça e olhar nos olhos do patrão.

– Sim, hoje eu não tive aula, por isso decidi vir mais cedo.

– Me perdoa pela cena no telefone. Sabe como as coisas são complicadas quando se envolve família.

Arun sabia bem, pois seus avós sempre lhe tiravam do sério.

Meu romance à moda antiga 1: além das fronteiras (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora