Capítulo 12

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Era muito estranho pisar em solo brasileiro de novo. A sensação era um tanto caótica. Foi bom poder sentir o clima característico de seu país, a maresia do mar vindo de encontro a sua pele. Ela finalmente percebeu que estava em casa. Avistou de longe seu pai lhe esperando ao lado de sua atual esposa, Solange. Eles nunca haviam conversado de fato sobre esse relacionamento, mas ela sabia que ele estava feliz, então decidiu parar de implicar, apesar de ainda lhe machucar vê-los juntos. Continuava achando errado o que o pai fez com a mãe dela, mas ela nunca estivera na pele dele para saber como que era.

À medida que ia se aproximando deles tudo ficava mais real para ela. Finalmente estava de volta e, apesar de estar feliz por isso, ela ainda tinha algumas preocupações referentes ao seu passado. Um frio na barriga começou a surgir, fazendo suas mãos soarem frio, apesar do enorme calor que estava fazendo no Rio de Janeiro. Decidiu que era melhor deixar as preocupações de lado, não gostaria que nada atrapalhasse o mover de Deus naquela noite.

Quando alcançou o casal que foi lhe buscar, não demorou muito nos abraços e cumprimentos, pois não queria se atrasar para o congresso. Apesar de sua pregação ser só a noite, ela sentia que precisava ouvir a da tarde. Sabia que provavelmente já deveria ter começado, mas talvez se fossem rápidos conseguiria ouvir o final da ministração.

Para economizar o tempo, ela trocou em uma das Escalas que fizera, em São Paulo, para não precisar ir até sua casa e fazer isso. Sentia a enorme necessidade de tomar um banho, mas teria que deixar isso para mais tarde. Enquanto seguiam caminho para o congresso, ela fez uma breve ligação com a sua filha, que aproveitou para choramingar para o pai, pedindo para ir logo para o Brasil.

Não demorou mais do que meia hora para chegarem ao pequeno estádio, onde estava acontecendo o evento. Essa palavra – estádio – ainda causava arrepios em Noemi. Anos atrás não se imaginava pregando nem em sua igrejinha local quem dirá em um lugar como aquele. O nervosismo fez com que ela quisesse recusar o convite várias vezes, mas sabia que não poderia fazer aquilo. Não era apenas um compromisso com aquelas pessoas, mas acima de tudo com Deus.

Ela estava tão nervosa, com medo de as palavras lhe faltarem ao ver a multidão de pessoas, com medo de acabar dizendo algo que não era da parte de Deus. Ela sabia que se fizesse algo de errado não seria ela a julga – antes fosse –, mas o evangelho. E ela não podia manchar a imagem de algo que Cristo morreu para que fosse anunciado.

"Tende misericórdia da tua serva, Senhor! Não me permita falar nenhuma heresia, ou algo de mim mesma, mas que eu fale somente o que teus servos precisam ouvir de Ti. Seja comigo, pois sem a tua presença serão apenas palavras laçadas ao vento, mas se o Senhor estiver comigo, elas entrarão no coração dos teus filhos".

Quando chegaram ao lugar, não havia espaço sequer para estacionar o carro. Eles tiveram que deixar três quarteirões antes e irem de pé para o lugar, o que os atrasou ainda mais. Noemi, que estava de salto, não se importou de ir descalça até a entrada e lá colocar o salto novamente. Aísha e Jonas estavam esperando-a em uma das entradas, com sua credencial. Já estava atrasada e ainda teve que ficar mais meia hora procurando por eles. Quando enfim se encontraram, foram direcionados para a um lugar exclusivo para os pregadores e seus acompanhantes, na arquibancada. O trajeto até lá foi um tanto caótico, havia muitas pessoas, umas esbarrando nas outras e, para piorar, seus amigos estavam muito estranhos. O tempo todo trocando olhares – e não eram olhares apaixonados. Eles estavam escondendo algo dela.

Ela queria perguntar o que estava acontecendo, mas sabia que dependendo da resposta talvez não conseguisse se concentrar no congresso, então preferiu que nada a atrapalhasse. Depois do evento iria questioná-los.

Aísha parou tão de repente, que fez com que sua amiga trombasse com ela.

– Amiga, eu não ia te contar, mas acho melhor falar logo, antes que você infarte lá dentro! – Aísha soltou, sentindo a respiração ofegante.

Meu romance à moda antiga 1: além das fronteiras (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora