Maio de 2019
Oito semanas haviam se passado – ou melhor, dois meses – desde o pedido de namoro/casamento. A família de ambos estava em completa animação com a notícia, foi o assunto da vez durante todo aquele tempo. Ayra acabou revelando que sempre orou para que eles ficassem juntos, o que fez ambos agradecerem a mulher, já que claramente Deus havia se atentado ao clamor dela. Não é nem preciso mencionar a empolgação que foi para Valentina ao saber da notícia, agora ela teria dois pais – segundo a própria menina. Ela ficou tão feliz, que providenciou logo um 10 em todas as provas para que pudesse voltar para o Brasil um mês antes do fim do ano letivo.
Foi em seu closet que Noemi não parava de fitar o vestido que tinha feito tanto tempo atrás, enfim se dando conta de que teria alguém mais que especial para usá-lo. Será que ele também tinha sido obra do Senhor? Ter feito ela sonhar e confeccionar o próprio vestido de noiva sem nem saber? Ela sorriu, percebendo que Deus costumava agir de maneiras muito engraçadas nas vidas dos seus filhos.
Ela ouviu duas batidinhas na porta e permitiu que a pessoa entrasse, sabendo ser Aísha. Sua amiga ficou parada logo atrás dela, olhando para o mesmo vestido pela primeira vez.
– Ele é tão lindo! – Ela exclamou. – É de quem?
Ainda de costas para a amiga, com os olhos brilhando, Noemi falou:
– Meu. – Então ela se virou e se deparou com o sorriso bobo da cunhada. – Você acredita que eu sonhei com ele quando ainda nem pensava em ser estilista e o fiz antes de voltar para o Brasil, sem nem imaginar que seria pedida em casamento três meses depois de chegar aqui?!
– Como não acreditar? É Deus quem faz essas coisas. – Elas viraram em direção a porta.
– Se até seu vestido já está pronto – Aísha começou sua indagação –, por que você está enrolando para marcar a data do casamento? Arun me falou que vocês só não marcaram porque você nunca acha uma data boa.
Noemi secou as mãos que começaram a soar. Ela sabia do desejo dele de se casarem antes de irem para o Nordeste, para poderem ter alguns meses de adaptação como marido e mulher antes de viajarem em missões, mas ela não queria marcar ainda. Não antes de contar a verdade para ele. Ela pretendia contar na mesma semana do pedido, mas aí Aísha revelou a gravidez para a família e ela não teve coragem de contar para ele. A empolgação dele era tão grande, pelo sobrinho – ou sobrinha – que viria, que ela não teve coragem de dizer que ele nunca viveria aquilo. Era por isso que todas as vezes que ele iniciava a conversa sobre a data do casório ela fugia do assunto. A primeira desculpa que deu foi sobre o noivado rápido demais que eles teriam, mas isso não fazia sentindo – não se tratando dela, que sempre deixou claro que não era fã de namoros/noivados longos. Depois que ele falou para ela que o curto tempo não era uma desculpa ela começou a implicar com as datas. Disse que não se casaria antes da filha voltar, mas aí a menina conseguiu convencer os próprios professores a liberarem um mês antes, aí ela foi colocando mais e mais desculpas, que já estavam fazendo Arun se questionar do porquê. Mas a real é que ela não tinha coragem nem de contar a verdade, muito menos de casar-se sem contar.
– Eu ainda não tive coragem de contar para ele.
Aísha não precisou perguntar o que para saber do que se tratava. Ela se sentia mau pela amiga, sabia que aquele era um sonho tão almejado por ambas. Sentir que ela estava realizando esse sonho e sua amiga não era doloroso demais. Noemi percebeu que Aísha havia ficado triste e logo falou:
– Pode mudando esse semblante aí. Hoje é um dia muito especial, vamos saber o sexo dos seus filhos! Não quero você triste por causa de mim.
Ela tentou soar o mais positiva possível, mesmo que por dentro fosse difícil. Ela não podia negar que a gravidez de Aísha mexeu um pouco com seu emocional, principalmente vendo o quanto Arun estava animado com a chegada das crianças na família. Ela chegou até mesmo a fazer algo que jamais imaginara fazer desde que descobriu seu diagnostico, questionar a Deus. Mas em uma das vezes que acordou durante a madrugada para orar perguntou a Deus porque tamanho castigo, em meio a lágrimas. No dia seguinte pediu perdão a Ele por isso. Já tinha tempos que ela vinha se conformando com a notícia, mas jamais imaginava que ver uma pessoa tão próxima de si vivendo os sonhos que ela queria estar vivendo fosse lhe afetar tanto. Entretanto, acima de qualquer coisa, ela sabia que os planos de Deus são maiores que os dela. Se Ele havia permitido aquilo em sua vida, então era o certo a acontecer. Ela podia não entender naquele momento, mas um dia entenderia.
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Meu romance à moda antiga 1: além das fronteiras (COMPLETO)
RomanceAté seus 18 anos, Arun era um jovem dedicado à obra de Deus, com o sonho de viajar o mundo em missões e pregar o evangelho a todos que quisessem ouvir. No entanto, sua vida mudou drasticamente após uma viagem para sua terra natal, na Índia. Retornan...