𝟎𝟎𝟏.

7.7K 642 1K
                                    

7 DE ABRIL DE 2023.

Walker e eu estávamos assistindo televisão na sala da minha casa. Era sempre assim. Nos dias de sexta-feira, depois da escola, o Walker ia para a minha casa e esperava sua mãe ir busca-lo, na minoria das vezes ele acabava passando a noite lá.

Tínhamos feito pipoca de microondas pelo simples fato de acharmos mais prático. Minha mãe ainda não havia chegado do trabalho e meu pai tinha ido viajar a negócios. Walker havia escolhido um filme muito estranho que eu dei todas as opiniões possíveis para não asisstirmos, mas nada adiantou. Eu estava contra até poucos minutos atrás, porque o filme começou a ficar bastante interessante para mim e muito tedioso para Walker.

O filme começava com ação. Eu gostava de filmes de ação mas o enredo daquele negócio não me cativava muito, mas nos minutos do meio, os protagonistas começaram a perceber a típica paixonite um pelo outro e vamos confessar, quem não ama um romance?

O Walker. A cada declaração e falas bonitas, ele fazia questão de fazer uma expressão de nojo em seu rosto. Eu não desgrudava meus olhos daquela televisão, é nessas horas que queremos saber o que vai acontecer no final.

Subitamente, senti alguma coisa acertar minha cabeça. Olhei para o lado, era Walker, me olhando com o cenho franzido e com as mãos dentro do balde de pipoca do Homem-Aranha.

— O que foi? — Franzi o cenho também — E por que jogou pipoca em mim? Quer morrer?

Sim, pra quem achou meu comentário bruto demais, é melhor ficar sabendo que eu e Walker temos uma relação de amor e ódio um pelo outro, ou melhor... tínhamos.

Ele deu aquela típica risada, falando:

— Agora o filme está ficando interessante pra você, né?

Foi minha vez de enfiar a mão no balde de pipoca e jogar umas cinco na cabeça dele.

— Cala a boca. — Revirei os olhos — Quem mandou colocar esse filme? A culpa é toda sua.

Dei de ombros e voltei a focar na televisão, mas não demorou muito para a peste jogar mais pipoca em mim.

— Fala sério, Walker! — Pausei o filme, impaciente — O que você quer, hein?

Ele riu mais uma vez. Eu juro que estava para esmurrar aquela carinha dele.

— Você fica horrorosa quando tá irritada.

Bufei.

— Que saco, hein. Me deixa ver o filme.

Des pausei a televisão, me concentrando novamente no filme. Virei a cabeça para o lado para apenas me certificar de que Walker não estaria com mais uma pipoca em sua mão, mas ele também tinha posto sua atenção no filme.

Fiquei observando o meu melhor amigo e pensei comigo mesma o quanto eu era sortuda por tê-lo em minha vida. Eu não era uma pessoa muito sociável e poderia dizer facilmente que Walker era meu único amigo. Ele riu de uma cena que passou pela televisão, mas agora eu não ligava mais para o filme.

Walker subitamente se virou para mim, me encarando da mesma forma que fez quando me perguntou sobre meu interesse no filme.

— Por que está me olhando assim? — Sorriu sarcasticamente.

Acordei de meu transe, meio chocada com o que havia acabado de acontecer. Meus olhos vagavam de Walker para meu balde de pipoca, e de meu balde de pipoca para Walker sem parar.

— Ah... — Gaguejei — Nada. Eu não estava olhando pra você.

— Ah, estava sim.

Ele me olhou por mais alguns segundos e disse:

— Mas não importa, eu sei que eu sou lindo mesmo.

E se virou para frente, novamente fitando a televisão com um sorriso convencido no rosto. Eu ainda estava muito perplexa, mas peguei uma almofada e atirei na cabeça dele.

— Você é muito convencido. — Resmunguei — Acho melhor procurar o seu lugar.

Cruzei os braços e voltei a assistir ao filme, como se nada tivesse acontecido.

NOW.

Eu me encontrava sentada em minha carteira na sala de aula, escutando uma música da banda Cigarettes After Sex em meus fones de ouvido, balançando meus pés no ritmo da música. Tomei um susto quando minha amiga do segundo ano entrou correndo em minha sala e bateu em minha mesa.

Retirei meus fones com cuidado e arqueei uma sobrancelha.

— Momo? O que você tá fazendo aqui? — Perguntei.

— Eu preciso falar com você, urgentemente!

Me levantei da minha cadeira devagar e deixei Momona me puxar pelo braço e correr desesperada pelos corredores da escola. Para quem me viu dizer que Walker era meu único amigo, finjam que nunca leram isso na vida de vocês.

Momona e eu paramos em frente aos armários da escola. Minha testa suava da pequena corrida que fizemos, eu não era muito boa de esportes.

— Fala... — Eu respirava ofegante — E pra que essa corrida toda?

— Você não sabe o que eu vi! — Enquanto ela falava, gesticulava com as mãos — Eu acho que o Walker e a Heather estão namorando!

Hesitei por um momento mas voltei ao normal logo em seguida.

— E? — Cruzei os braços, fingindo estar desinteressada.

— Como assim e, Hillary? — Arregalou seus olhos — Vocês eram melhores amigos!

— Falou certo, éramos — A olhei com desinteresse — Continua, e daí? O que eu tenho haver com isso?

— Hillary — Momona me lançou um olhar debochado e colocou suas mãos em sua cintura — Convenhamos, eu sei que você tinha uma queda por ele.

— Eu? — Apontei para mim mesma e ri sarcasticamente — Momona, eu acho que você não entendeu. Eu nunca senti nada pelo Walker e nunca vou sentir, eu nunca gostei dele.

— Aham, com toda a certeza do mundo! — Ironizou.

— Ai, fica quieta, tá? Eu sei do que eu 'tô falando. E aliás, eu tenho que ir para a aula agora.

— Tá — deu de ombros — Você que sabe.

Saí de lá o mais rápido possível. Eu odiava com todas as minhas forças quando Momona me chamava apenas para falar do Walker como se minha vida se baseasse nisso.

Quando entrei na sala, percebi uma multidão nos fundos. Parei para reparar e vi o que realmente estava acontecendo. Heather e Walker estavam juntos, causando aquele alvoroço todo. Walker estava com um braço ao redor dos ombros de Heather.

Enquanto eu os observava de longe, Heather me lançava alguns olhares atravessados e de vez em quando, sorria. Eu entendia muito bem o que ela queria dizer com aquilo.

Resolvi parar com aquela baboseira toda. Eles nem importavam mais para mim. Nunca importaram. Tentei me convencer, mas eu sabia que só estava enganando a mim mesma.

𝐇𝐄𝐀𝐓𝐇𝐄𝐑, walker scobell.Onde histórias criam vida. Descubra agora