𝖮𝖽𝖾𝗂𝗈 𝗍𝖾 𝗈𝖽𝗂𝖺𝗋 ☆ 𝖭． 𝖱𝗂𝗄𝗂， 𝖾𝗇𝗁𝗒𝗉𝖾𝗇．♡︎

~ Frango

Antes achava que a expressão "queixo caído" era meio exagerada, mas agora, eu sei exatamente o que é estar de queixo caído, já que o meu tá quase batendo no chão.

Isso que eu chamo de salão de festas, um salão grande, chique, cheio de pessoas chamativas. E eu achando que meu vestido era bonitinho.

Era claro que havia ficado meio insegura, afinal, como não ficar? Eu obviamente me senti como um patinho feio no meio de vários cisnes graciosos e charmosos, quem sou eu perto deles?

O local tinha uma mesa incrivelmente enorme de comida, uma pista de dança, dj, tudo de bom.

Enquanto eu apreciava o local, senti alguém puxar minha mão, e essa pessoa era Sunghoon.

_ Vai ficar aí de boca aberta ou vai sentar na mesa com a gente? - O mais velho perguntou, nesse momento percebi que estava parada no caminho, impedindo várias pessoas de passar com facilidade. - Não se preocupe, você está linda.

_ Obrigada, Hoon. - Dei um sorriso meigo, ainda deixando o mesmo me puxar até a mesa.

Não demorou muito ate chegar la, ocasionalmente esbarramos em algumas pessoas, mas isso não nos impediu de chegar ate a mesa redonda onde nossos amigos estavam.

Confesso que fiquei surpresa ao ver não apenas Sunoo e Minji, mas também Jay e Heeseung, os garotos do time de futebol. Não imaginava que estariam aqui, mas aí parei para pensar que eles também seriam amigos da tia já que muitas vezes estão em sua casa.

Dei um pequeno oi para todos e me sentei ao lado de Minji, que me deu um olhar sarcástico com aquele sorrisinho meio psicótico dela.

_ O que foi? Vai me matar? - Susurrei para minha amiga, ela negou com a cabeça e deu uma olhadinha para Jay.

_ Daqui a pouco ele te desidrata do tanto que te olha. - Rolei meus olhos, a garota começou a  me dar mil e tres motivos do porque Jay está a fim de mim.

Aproveitei o fato de Sunoo estar se levantando para me levantar junto e ir pra sei lá onde ele vai, só pra me livrar dessa situação.

Não diria que a situação era desconfortável, afinal, não ficava desconfortável com as paranoias de Minji. Só queria escapar daquela situação por conta da vergonha que eu senti quando derrubei um pingo de suco de laranja em meu vestido, cujo era claro.

Sempre fui muito desastrada, e agora que estou com esse geso, parece que fiquei ainda mais. Fui com Sunoo até o buffet, pois lá ficava perto do banheiro, assim poderia lavar.

Normalmente eu não me importaria com esse pinguinho, ele não era super visível. Mas todo mundo aqui está tão bem arrumado, que me fez ter vontade de mostrar que eu também consigo ficar arrumada.

Pode até ser ridículo, eu me sinto meio ridícula em ligar tanto pra isso, mas é a  pressão do momento.

Limpei rapidamente meu vestido, e o coloquei abaixo do secador de mãos, rezando com todos meu ser para ninguém entrar nesse banheiro.

Vestido limpo e seco, sai do banheiro e vi Sunoo ainda na fila do buffet, peguei um prato e fiquei ao seu lado.

Eu já estou vendo que vou ter que pegar comida da área de criança, porque eu posso até limpar meu vestido para me enturmar, mas nunca nessa vida que eu vou comer caranguejo e olho de lula, nem se eu estiver morrendo de fome.

Sunoo aparentou perceber minha indignação ao ver a comida de lá, e então riu da minha cara e me disse para esperar o mesmo acabar, assim iríamos à área infantil.

E o mesmo fez como prometido, me levou lá com meus plenos 17 anos na cara para a area de 11 e menos. Antes de eu começar a me servir, Sunoo voltou à mesa apenas para colocar seu prato lá. Não demorou muito para eu começar a encher meu prato. Eu faço muito isso, me lembro quando sai para comer com Minji e minhas tias, e fui a única a pedir spaghetti com almôndegas, enquanto todas elas comiam calamari e camarão ao molho não sei do quê - só sei que era verde, e isso era o suficiente pra mim não gostar.

Vendo todas as opções com bastante animação, finalmente vi o pedaço de frango que estava procurando para acompanhar meu arroz e batata frita, no momento em que peguei o pegador e segurei o frango, alguém chega e enfia o garfo nele.

Olho para cima confusa, e claramente visivelmente irritada. Quem é o marmanjo que tem coragem de encostar no meu frango, o frango que eu tava rezando pra ter, meu frango?

Tá pensando assim parece meio possessiva, mas eu o vi primeiro, então, pela regra, ele é meu frango.

_ Você deve estar zoando com a minha cara.

_ Prazer em te ver também, colombiana.

Olhei o japonês com sangue nos olhos, me segurando para não voar na garganta dele, e olha que hoje eu decidi ficar em paz.

_ Que merda que você está fazendo aqui, Nishimura?! - Ditei puxando o frango para mais perto de mim, o mais alto me olha desafiador.

_ Aparentemente brigando por um frango - O mesmo puxou o frango para si, e eu fiz o mesmo.

_ Nishimura me dá um tempo, você só existe pra me irritar, não me deixa em paz. Porque você só não me esquece logo de uma vez? - Ainda mais nervosa, puxei o frango para mim novamente, vendo o garoto dar aquele famoso sorriso ladino. Eu vou arrancar esse sorriso da cara desse moleque. - E me entrega a merda desse frango!

_ Se liga Kim, o frango é meu, eu vi primeiro.

_  Mas eu o peguei primeiro, me dá Nishimura.

_ Para de birra.

_ Pra que a gente ta brigando por um frango? Voce eh rico, pode ir la comprar mais uma quarenta e dois desses, me da esse daqui vei.

_ Eu não vou entregar frango nenhum, se você quiser um, pede pra sua mamãe cozinhar, já que isso eh tudo que vocês colombianos sabem fazer. - Eu senti, eu senti a raiva do garoto no seu tom de voz, agora, não entendi o porquê da raiva se quem estava no direito de ficar nervosa sou eu. E, ah, como eu estou furiosa agora.

Diria furiosa o suficiente para jogar o prato na cara dele.

Olhos semicerrados, dentes rangendo, uma sensação de que o prédio acabara de cair em cima de mim. Parabéns Nishimura, você realmente me tirou do sério.

_ Fala da minha mãe mais uma vez pra ver se você não sai daqui com os dois olhos roxos e quatro dentes faltando. - Puxei o frango novamente, e ao mesmo tempo me aproximei da cara do japonês. Se eu pudesse dar um soco nele...

_ Voce colombiana, não é forte como diz ser. Eu sei disso. Te conheço bem, conheço cada uma das suas fraquezas, tudo sobre você. Sei o que te faz chorar, sei o que te faz ficar irritada, o que te faz feliz, tudo. Então se eu quiser falar sobre a puta da filha da sua mãe, eu vou, pois sei que você não irá fazer absolutamente nada, a não ser chorar.

Eu o olhei incrédula, e de repente aquela sensação do prédio ainda acima de mim ficou mais intensa, eu sentia como se eu estivesse sendo... Destruída... completamente inteiramente destruída. E para piorar, destruída por ele novamente.

Eu não sabia o que dizer, digo, havia várias palavras que poderiam sair dos meus lábios, mas a única coisa que fiz foi soltar o ar que havia prendido dentro de mim. Senti uma vontade de chorar imensa, mas eu não queria fazer isso na frente dele.

_ Voce não conhece nada sobre mim. - Disse com a voz meio tremula, eu estava me segurando o máximo. Só vi o garoto chegar mais perto de mim, perto o suficiente para sentir sua respiração no pé da orelha. O garoto sussurrou.

_ Não se engane, você continua sendo a garotinha escrota e ingênua que conheci dez anos atrás. - Eu sabia que ele sorria, e tinha certeza que o mesmo estava ciente do meu estado emocional ao ver o mesmo ficando de frente a mim, se abaixando para me encarar nos olhos. - Chora Kim, afinal, eu já sabia que iria. - O mesmo se afastou, eu fiquei parada, a lágrima que lutava para não cair, finalmente caiu. Uma única lágrima solitária. Direcionei meu olhar para o chão, envergonhada.

Ele não apenas levou o frango com ele, ele também havia levado minha dignidade, minha reputação, tudo de mim, ele havia acabado de levar para aquela mesa. E a única coisa que vi ele fazendo foi comer tranquilo o frango e rindo com seus amigos.

Ele ria de mim, e pela primeira vez em muito tempo, eu chorei por sua conta no chao do banheiro feminino.