O caminho até a casa dele estava sendo extremamente constrangedor. Talvez fosse porque o trajeto era muito familiar, e cada passo me trazia memórias vívidas de todas as vezes que fui até lá. Eu lembrava com clareza de todos os momentos que passamos juntos, mesmo tentando em vão apagar essas lembranças da minha mente.
Nem ele, nem eu fazíamos qualquer esforço para iniciar uma conversa. Eu não queria interagir com ele de maneira alguma.
Confesso que, às vezes, sentia saudades dele. Ele era meu melhor amigo, então era natural sentir falta. Eu não gostava do Niki de agora, mas adorava o de antes.
Senti seu olhar em mim, então o encarei de volta. Passei a língua sobre meus lábios e suspirei.
— O que foi? — perguntei, sem desviar o olhar.
Nishimura olhou para frente e colocou as mãos no bolso.
— Nada. Só acho estranho você vir à minha casa. — Rolei os olhos e encarei a faixa de pedestre, esperando o sinal abrir para podermos atravessar.
— Finalmente concordamos em algo. — Ouvi sua risada leve, e ele olhou para mim novamente. O sinal finalmente abriu, e em um piscar de olhos, estávamos na porta da casa dele.
Digo, na porta de sua mansão.
— Ah, tem um pequeno detalhe. — Ele disse, virando-se para mim. Olhei para ele de baixo para cima, claramente confusa. — Minha família está em casa.
Como assim? A família que me odeia está a poucos passos de mim?
— Ah, legal. Você me trouxe direto para a minha execução? — Coloquei as mãos na cintura, olhando para ele incrédula.
— Eu esqueci que eles estavam aqui, ok? E mesmo que eu adore a ideia de ver você se dar mal, isso pode me prejudicar também, e você sabe disso.
Rolei os olhos novamente. Eu nem deveria estar surpresa, isso era bem a cara dele.
— É só eu ficar do lado de fora, pronto, resolvido.
Ele parecia um tanto nervoso, como se algo não estivesse dando certo.
— Não vai dar. Tem câmeras aqui, e se você ficar aqui fora sozinha por muito tempo, vai me dar ainda mais trabalho para apagar as imagens do celular da minha mãe.
— Ah, então você quer que eu entre com você. — Cruzei os braços.
— Querer é uma palavra muito forte, Kim. — O japonês me lançou um sorriso ladino, e então abriu a porta levemente para checar se não havia ninguém na sala. — Vamos.
Entramos em sua casa, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Olhamos em volta umas três vezes antes de chegarmos à escada.
— Por que não pegamos o elevador? — Sussurrei para ele.
— Porque ele faz muito barulho, e é mais fácil subir a escada. Não seja preguiçosa, colombiana.
— Preguiçosa é a sua avó. Eu hein.
Começamos a subir cautelosamente até chegarmos ao segundo andar.
— Por favor, me diz que você consertou a porta. — Ele negou com a cabeça. Olhei para o chão, totalmente decepcionada.
Obstáculo: abrir a porta barulhenta sem que ninguém escute.
Ele colocou a mão na porta e a abriu lentamente. O rangido da porta era consideravelmente alto, e isso nos complicou.
Quando a porta estava aberta o suficiente para conseguirmos entrar, passamos por ela e começamos a procurar sua carteira.
Eu estava ocupada percebendo o quanto aquele lugar não tinha mudado nada, mesmo depois de um ano. A pequena pulseira que compramos quando éramos mais novos ainda estava posicionada sobre sua bancada branca, junto com seus papéis e cadernos de escola.
— Para de ficar olhando pro nada e começa a procurar. — Sussurrou.
— A carteira é sua, você que devia saber onde ela está. — Respondi no mesmo tom, acordando do meu transe e começando a procurar direito. — Achei! — Falei ao pegar a carteira cinza do mais velho.
Niki deu um pequeno sorriso e veio em minha direção para pegar a carteira. Mas então, ouvimos algo.
Passos.
Sons de salto alto.
Ou seja, sua mãe.
— Filho? Está em casa? — E a cada passo que ela dava, o som ficava mais alto.
— Nishimura? — Disse, meio preocupada.
Ele me olhou, também preocupado, e quando ouvimos a porta sendo aberta, ele pegou minha mão e me levou até o guarda-roupa, fechando a porta. Estávamos completamente no escuro, mas estávamos próximos, pois eu sentia sua respiração batendo contra o topo da minha cabeça.
Eu estava arrepiada.
Não sabia que o toque dele teria esse efeito em mim. Sinceramente, não era para ter. Mas, mesmo assim, nossas mãos continuavam juntas, e ele a apertava como nunca.
Eu deveria ter reclamado, mas por algum motivo, parecia que não havia nada para eu reclamar. Mesmo odiando a ideia de ter Nishimura Riki a milímetros de distância de mim, sua mão ainda se encaixava na minha como antigamente.
Escutamos sua mãe chamando seu nome, como se estivesse o procurando. Olhamos um para o outro com os olhos arregalados. Tenho certeza que pensamos na mesma coisa: esse é o nosso fim.
Talvez fosse mesmo o nosso fim, e nossas mãos estavam entrelaçadas dessa maneira.
Esse poderia ser o nosso fim, e por um segundo, senti como se tivéssemos voltado no tempo. Ele estava me olhando nos olhos, mesmo que não conseguisse enxergá-los.
Ele me olhava. Sem nojo.
Ele me olhava novamente.
E eu o olhava. Nem um pouco de ódio em mim.
Eu apenas o olhava.
Então, a porta foi fechada e os sons de salto alto ficaram mais distantes. Ambos respiramos fundo, sem quebrar o contato visual. Ele apoiou a mão na parede atrás de mim. Eu sabia que ele sorria, aliviado.
— Você deve estar adorando a atenção que estou te dando, carino. — Eu continuava olhando para ele, e dei um leve empurrão em seu peito, afastando-o de mim.
— Vai achando. — Disse, abrindo a porta do armário. — Vamos logo pegar esse sorvete?
O japonês cruzou os braços e se apoiou no armário. Ele me encarava com um sorriso sarcástico.
Sarcástico...?
— Claro. — Então, ele abriu a janela e olhou para mim. — Você sabe o que fazer, certo?
— Óbvio. — Dei um sorriso genuíno, eu adorava sair pela janela dele.
Não me levem a mal, era muito divertido, pois ele montou uma pequena tirolesa para que seus pais não soubessem que ele estava saindo de casa. Peguei na pequena cordinha e não hesitei ao pular de sua janela.
Não sei o que estava rolando hoje.
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𝖮𝖽𝖾𝗂𝗈 𝗍𝖾 𝗈𝖽𝗂𝖺𝗋 ☆ 𝖭. 𝖱𝗂𝗄𝗂, 𝖾𝗇𝗁𝗒𝗉𝖾𝗇.♡︎
Fanfiction"porque você me odeia tanto, Nishimura? Nunca te fiz nada!" "você não entende, Kim, eu preciso te odiar.." _______🥟______ Maria Katharina Kim e Niki eram melhores amigos por nove anos. Compartilhavam um amor puro e inocente, isso ate Niki mudar com...