Dois passos do paraíso

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Autora: não me matem, logo logo elas ficam juntinhas. Vamos desenvolver essa relação com calma que fica mais gostoso, tem muita coisa pra rolar ainda ❤️

Pedi ao meu pai que me levasse até a casa de Valentina no sábado à tarde. Cheguei uns 30 minutos mais cedo do que havíamos combinado com o grupo. O pai dela não estava em casa, Leandro estava de plantão e sua mãe, Catarina, estava no seu escritório trabalhando em alguma defesa de caso. Descobri recentemente que ela era advogada. Ao fundo, ouvia-se a melodia de uma música de ritmo semelhante a playlist que escutávamos no dia que fomos ver o pôr do sol. A casa tinha detalhes de madeira, revestida por móveis luxuosos e modernos e alguns rústicos e inúmeras peças de decoração. Podia-se observar alguns porta-retratos, mas não tantos. No quarto de Valentina, eu podia ver que tinham inúmeros filtros de sonhos. Ela me recebeu e em seguida foi para a cozinha terminar de fazer algo. Na sala tinha um sofá branco, com diversas almofadas de estampas neutras jogadas por cima.

- Amei sua casa.

- Minha mãe decorou a maior parte.

Um cheiro invadiu a sala e eu pude decifrar que ela estava fazendo brigadeiro. Fiquei tão feliz ao saber.

- Sua mãe parece muito séria.

- Ela é. Mas o meu pai não, você vai adorar conhecê-lo quando ele chegar - ela disse enquanto sujava suas mãos com a colher que usava para mexer a panela com o brigadeiro quase pronto.

- Você quer ajuda?

- Vem ver a varanda aqui fora.

Ela apontou para a porta da cozinha e eu timidamente segui até lá. Vi que aquele lugar era imenso. Tinha duas redes armadas, um espaço com mesas e cadeiras para sentar, área para fazer churrasco, piscina, um playground com pula pula e escorrega bunda. A imensidão era preenchida por árvores e mais árvores, a ventania carregava as folhas para longe, podíamos ouvir o som dos pássaros cantando, como se aquele lugar fosse uma espécie de paraíso. Ouvi seus passos se aproximando de mim e senti tamanha proximidade quando sua respiração bateu na minha nuca e eu soube que Valentina estava a centímetros de mim, com seu corpo quase colado ao meu. Uma sensação boa me invadia, tamanha que eu afirmo nunca ter vivenciado algo parecido um dia.

- Perfeito, não é? - concordei com q cabeça, quase me virando para me encontrar de frente para ela - quero te mostrar outro lugar legal que tem aqui dentro.

Ela tomou a frente e eu a segui. Parou no balcão somente para pegar o prato com o brigadeiro com duas colheres dentro. Ela vestia uma blusa folgada preta e um short curto de tecido. Foi aí que eu tive a certeza que ela era mais branca do que eu podia imaginar. Alva como a neve.

- Tá rindo do que? - ela notou meus lábios contraídos relutando para não rir.

- Nada.

Valentina tinha amarrado o cabelo, deixando sua nuca e pescoço a mostra. Seu cabelo era tão lindo e parecia ser muito macio. Ela abriu a porta da cozinha e senti a sensação de que eu estava desbravando um novo mundo, e a sensação de tranquilidade permeou em meus passos. No seu quintal havia uma espécie de colina com uma escadaria, repleto de árvores e algumas plantas que pareciam ter sido recém plantadas. Quando eu vejo, está em destaque um carvalho, não tão grande quanto o que vimos lá no alto, mas tão lindo e exuberante quanto o outro. Nessa árvore, diferentemente da outra, havia uma casa. Era linda, rústica, com luzes penduradas de diferentes cores de uma ponta a outra, por volta de todo aquele espaço lindo. A casa também era repleta de símbolos, alguns espaços com fotos de Valentina, uma escrivaninha e uma pequena cama.

- Sua paixão por símbolos está cada vez mais evidente.

- Eu sou apaixonada mesmo - ela me disse sorrindo, enfiando uma colher cheia de chocolate na boca e me dando a minha.

- Meu pai me ensinou a fazê-los e a plantar também. A maioria que tem aqui e as plantas que você viu recém plantadas fui eu que fiz com a ajuda dele. É algo que nos conecta, assim como a dança pra você e sua mãe.

- São perfeitos.

Continuei passeando pelo pequeno cômodo, tantos objetos decorativos. Notei um quadro de fotografias de paisagens, me aproximei e olhei foto por foto, e algumas continham Valentina com um sorriso de orelha a orelha. Grande parte ela usava trajes escuros, seu rosto com muita maquiagem, um estilo totalmente voltado para o rock. Dava para notar em seu rosto que já fazia um tempo, as marcas de expressão de agora já se faziam um pouco presentes. Nas fotos, os traços da adolescência estavam nas maçãs do seu rosto e no corpo não totalmente desenvolvido.

- Meu jeito punk-rock - ela deu uma leve risada, tímida e eu a olhei com carinho, a mudança era notável. Havia, em uma das fotos, uma pessoa na qual ela estava abraçada de forma diferente. Logo supus que era um namorado, ou ex, sei lá.

- É seu namorado? - apontei para a foto.

- Namorada, ex, na verdade - arregalei os olhos. Eu jurava que era um homem na foto e agora paguei o maior mico.

- Não sabia que era mulher, desculpa - fiquei totalmente sem jeito. A aceleração tinha voltado. Então, ela era lésbica. O que isso significava afinal? Então, quando fomos à árvore, seu toque em mim era muito mais que um toque e o que ela sentiu também era muito mais do que eu imaginava? Seu ciúmes de Bruno também era algo de segundas intenções? Meu deus, minha cabeça começava a girar e girar sem parar.

- O que foi?

- Você não me disse que era lésbica.

- Isso é relevante porque?

- Não sei.

- Eu gosto de almas e conexões. De espírito, encontros de vida. Eu quero encontros reais, cheios de vida, de verdade, com doses de amor. Isso vem daqui - ela apontou para o próprio coração.

O barulho de palmas se estrondou lá fora e seriam as outras pessoas do grupo. Pensei comigo mesma que não tinha hora mais propícia para chegarem. Agradeci em meu íntimo. Ela foi recebê-los e eu senti algo sufocando em mim.

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