Como de costume, cheguei cedo no hospital. Logo dou de cara com a surpresa de Valentina já estar presente e, para o meu espanto, conversando baixo demais com Duda. Eu acabara de começar o meu novo estágio de nervoso. Não gostava da forma como as duas se olhavam e riam logo depois. Será que ela tinha contado que eu tinha comentado sobre os meus sonhos? Eu matava ela. Fui o mais silenciosa possível, com a intenção de me tornar invisível naquele momento.
- Lu - ela sorriu baixo para mim e veio em minha direção. Me deu um abraço, deixando um beijo em minha festa.
- Qual era o assunto? - Duda sorriu de um jeito que eu não gostei, dando uma piscadela para Valentina - que foi Duda? - indaguei, preocupada.
- Nada, ué! Eu ein.
- Eu vou na sala da Dra. Solange, depois eu volto - Valentina se despediu e eu fiquei olhando para ela até ela sumir.
- Me fala o que você disse pra ela, Eduarda!
- Que psicopata, Luiza. Vai lá seguir a sua namorada que você ganha mais.
- Você só pode ter dito alguma besteira.
- Só perguntei se ela tinha reparado no jeito que você olha pra boca dela - meus dedos gelaram.
- Você não fez isso.
- Ela me confessou que gosta de você.
- Cala a boca - eu disse, revirando os olhos e sorrindo incrédula e cínica. Fui saindo de perto dela na intenção de ir para o pátio esvair minha irritação.
- Foge mesmo, sua medrosa. Deixa aquela mulher de bobeira pra cê ver que tem cem na fila querendo.
- Aproveita e fica na fila também.
- Se eu fosse ela já tinha te dado uns pegas pra deixar de ser arrogante.
Respirei fundo e resolvi não dizer mais nada. Sentei em um banco aleatório no canto do pátio e fiquei esperando os vinte minutos até o primeiro médico professor entrar para ministrar a primeira palestra da semana. Ouvi a risada dela a poucos metros reunida com mais duas meninas, e a ruiva do campeonato estava lá ao lado dela. A ardência subiu em meu corpo como da primeira vez. Um rapaz tirou minha atenção delas quando elogiou minha apresentação que tinha feito há tanto tempo que nem conseguia me lembrar mais. Ele dizia ser um amante de neuropediatria. Quando ele finalmente saiu da minha presença, ela não estava mais com as outras meninas, a ruiva ainda estava lá. Pelo menos não tinham saído juntas. Meu corpo se assustou quando ela se abaixou à minha esquerda
para falar comigo. Estendeu o polegar e o indicador da mão direita, segurando uma flor amarela.- Sabe que flor é essa? - neguei com q cabeça - Dente-de-leão. Na idade média, era associada a Cristo. Significa liberdade, esperança, otimismo.
- Ela é linda.
- Cuidado, as folhas vão embora com muita facilidade.
- Obrigada - olhei-a com ternura. Os olhos contrastavam em um oscilante verde, o queixo parecia sempre uma ponta prestes a me tocar. Ela estava agachada com as mãos apoiadas nas minhas.
- Se você soprar e o vento trouxer de volta, seu pedido sobre o amor vai ser atendido.
Uma das coisas mais estranhas era como eu esquecia de todo o resto lá fora quando ela me fitava daquela maneira. Nem por um instante me atentei que estava no meio do pátio enquanto a luz do dia foi encarando minha melhor amiga.
- Quem é aquela garota ruiva? - mostrei a ruiva seca com o olhar.
- Uma amiga, por quê?
- Acho que ela gosta de você - finalizei.

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A Harmonia
FanfictionVocê acredita em akai ito? A premissa do fio vermelho que conecta duas almas, fora dos limites que o senso comum acredita que a vida possui. Acreditar nisso é a base para essa história. Luiza Campos e Valentina Albuquerque são estudantes de medicin...