A manhã mal começou e já está cansativa. Theo carrega duas caixas de madeira com certa dificuldade, ambas cheias de "itens que ainda possuem uma utilidade alternativa". Lixo é como normalmente chamam.
O soco ainda dói, ele conseguiu partir meu dente de trás ao meio. Logo um bom, desgraçado. O foda é que eu nem percebi até hoje de manhã. Talvez desse para colar ou algo assim. Talvez eu deva arrancar logo o que pedaço que sobrou, ele já nã...
— Theo? — uma tímida voz o assusta.
Por muito pouco tudo que carrega não vai ao chão.
— O... oi? — sem conseguir ver nada por conta das duas caixas de madeira e estava perdido demais nos próprios pensamentos para identificar a voz.
— Trabalho desde cedo? — ela desfere uma pergunta retórica enquanto pega uma das caixas, assim liberando a visão de Theo.
Agora sabe perfeitamente quem o auxilia, Iaceê. Uma jovem dos grandes cabelos lisos e negros, a pele é de um tom avermelhado e levemente bronzeada e seus olhos são vermelhos como os de Emílio.
— Tá levando pra vender? — ela chacoalha a caixa a fim de ver o que exatamente ela guarda, além de um monte de peças descartáveis.
— Não, vou guardar pra usar depois. Tô tentando construir um rádio — seus olhos dourados sempre brilham ao falar de suas pequenas invenções. — É mais difícil do que parece arranjar as peças.
Ele sempre é tão resplandecente ao falar de suas pequenas criações. O sorriso inocente, a fala acelerada, as mãos inquietas, tudo nele brilha como o Sol. Porém o que mais brilha é sua determinação, como naquele dia que me salvou.
Me sinto bem apenas de estar ao seu lado.
— Mas não tá muito cedo pra ir pra escola? — Theo pontua ao perceber que ela está com uma mochila nas costas. — Ou será que eu perdi a hora?
— Nã...
— E logo hoje que tinha um trabalho pra entregar, tô fudido — as frases preocupadas de Theo abafam a voz de Iaceê.
— Theo....
— O Eduardo já quase me matou mês passado — ele simplesmente não a escuta. — Sabia que tava esquecendo de algo, hoje eu tô fu...
— THEO! — Iaceê deixa escapar um grito e acaba atraindo atenção de todos ao redor.
Sente o rosto queimar de vergonha.
— Tá tudo... bem? — o garoto pergunta em um misto de confusão e ingenuidade.
— E... eu tenho que ir... — tenta inventar logo uma desculpa — ir... ir mais cedo para a escola
— Ma...
— Tchau! — Iaceê praticamente foge do pobre rapaz.
Se culpa por não conseguir falar a verdade ou simplesmente aproveitar o momento. Ele deve tá me achando uma esquisita de novo. Eu só queria ficar um tempo com ele.
Por que sou assim?
Idiota...
Idiota...
Com os curiosos vendo que dá li não sairia nenhum assunto decente pro almoço, se dispersam. Theo não entende bem o que aconteceu, apenas pega a caixa que ela deixou no chão e segue seu caminho.
Tomara que ela esteja bem
No meio do caminho algo interrompe sua caminhada. não uma voz, mas sim um som vindo do estômago.
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Steel of time
General FictionIrbsal é separada por um muro. A nobreza e a plebe. Água e óleo. O Paraíso e o Inferno. O ciclo infinito de retaliação de ambas as partes parece não ter fim. Há somente duas formas de acabar com a dor de todo um povo, pela espada ou pelo coração. O...