Humilhado

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— Lixo de lugar — Jorge resmunga enquanto caminha pelos corredores insalubres da escola.

Agora sou obrigado a ficar aqui até sei lá quando nessa merda de lugar. Pelo menos dá pra andar com certa liberdade. Heike parecia sonolenta e segura o suficiente para eu me afastar um pouco, respirar.

Malditos plebeus

Hoje era para ser um dia protocolar, sem nada de especial. Viríamos até esse bueiro disfarçado de escola somente para nos apresentarmos e iriamos embora logo na sequência.

Até que tudo deu errado

Um maldito terrorista tentou nos matar e uma plebeia, que Heike insiste em dizer que ela não é uma terrorista, consegue nos humilhar ainda mais. E ainda descubro que meus pais querem vir aqui pessoalmente e por isso acharem uma ótima ideia nos deixar esperando por horas.

Vai tomar no cu

Como eu deixei aquele maldito rebelde passar batido? Meu dever era o impedir. Sei que sofrerei punições por conta desse deslize. Sei que falhei.

Mas...

Aqueles dois irmãos plebeus têm uma... aura estranha, não sei exatamente como explicar. É como se eu os identificasse como uma ameaça pelo simples fato de estarem ali.

No fim minha intuição estava correta

A garota revelou uma força extraordinária, capaz de atravessar a habilidade da minha irmã. Dói admitir, mas se não fosse os machucados eu nunca que eu a pararia apenas com sombras.

Certo, eu devo concertar meu erro eliminando as ameaças. Só assim eu vou conseguir ficar tranquilo. Só assim eu vou conseguir me perdoar.

Jorge então se senta em um banco e se concentra. Não estava andando aleatoriamente, estava procurando a enfermaria. Demorou um pouco para mapear mentalmente a escola, mas agora vem a parte fácil.

A escuridão se ergue

As sombras se estendem em direção a enfermaria. Os olhos são escurecidos assim como os sentidos. A visão em meio as sombras se torna embaçada, é quase impossível distinguir uma pedra de um relógio. Em contra partida sua audição se torna mais eficiente e direcionada, podendo até mesmo escutar a fraca respiração dos seus alvos no outro lado da porta.

— Para — uma voz feminina seguida por um voraz tapa interrompe Jorge. — O que você está fazendo?

Jorge mantem a compostura, independente da dor que sentiu. Um dos efeitos negativos de sua habilidade é o aumento do seu tato em níveis anormais. Então um simples tapa é o suficiente para sentir seu rosto queimar como se tivesse sido atacado por água fervente.

— Me responde! — Heike está visivelmente irritada.

Foram poucas as vezes que desafiou seu irmão como agora. Ela até pode ser a herdeira principal da família, mas ele ainda é o primogênito.

O mais velho tem que tomar as rédeas

— Ela é perigosa — Jorge retruca tentando manter a voz baixa. — Precisa ser eliminada. É óbvio. Ela tentou te matar, atravessou sua barreira e só parou porque desmaiou.

Jorge se levanta, precisa se impor. Heike não pode tomar esse tipo de decisão. Ela não tem a mínima noção do mundo e sua crueldade.

É o meu dever protege-la

— Eu vi o olhar sanguinário dela — ele continua. — Você não vê que aqui é um ninho de terroristas, como pode ter pena deles?

A falha em protege-la destruiu seu orgulho. Viu um plebeu disposto a dar a própria vida para salvar Heike, enquanto ele estava estático. Deixou a guarda baixa, agiu como um verdadeiro amador subestimando a plebe revolucionária e terrorista. Com certeza seria executado se fosse um guarda real.

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