Oportunidade

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Hoje completa uma semana desde o ataque terrorista, todos os habitantes do país estão em quarentena. Os jornais não param de repetir o quão importante é denunciar suspeitos e não sair de casa. Todos estão presos nas suas residências ou, como Theo, em um hospital. As únicas exceções são funcionários essenciais, por assim dizer. Pessoas cujo os trabalhos mantêm o país funcionando, como quem trabalha em hospitais ou hidrelétricas. Então um toque de recolher também foi feito.

Os mais ricos não devem ter grandes problemas. Eles têm grandes estoques de comida e ainda podem pedir para entregarem a domicílio se precisar. Sem contar o conforto que cada um tem em casa, é praticamente férias para eles.

O problema é o outro lado

Sem grandes estoques, sem conseguir pedir comida e sem dinheiro por não estarem trabalhando os mais necessitados ficaram entre a cruz e a espada. Em poucos dias o toque de recolher e a quarentena já estavam sendo burlados e, como baratas, os mais pobres foram pegos. Seus destinos variavam de uma bronca até a morte, dependia muito do humor do guarda.

Mas, retornando ao hospital que reside Theo e sua família, outro problema está a plena vista. Theo preferiria estar na varanda refletindo sobre tudo que está acontecendo com o país ou o que realmente sente em relação a Heike ou até como sobreviver na próxima vez que encontrar Jorge, porém não pode se dar esse luxo.

Esse desgraçado

Ele conseguiu conquistar todo mundo. As enfermeiras são mais simpáticas quando ele está aqui, trazendo até alguns petiscos e lembrancinhas. Os médicos nunca tem notícias ruins ou mau humor, sempre boas novas e piadas sem graça. Até a Camila está de bom humor.

Ele é a porra de um nobre e ela está feliz na sua presença

A cada dia que passa Zabaell está mais popular, mais confortável. Por que só eu não confio nele?

Acho que sou eu o errado, o estranho na história

O que eu faço?

— Então Theo, parece que você está um tanto desligado hoje — ele não vai conseguir arrancar minha simpatia, muito menos minha atenção. — Estás bem de saúde ou...

— Eu tô ótimo, melhor impossível — ranjo os dentes. — Só estava prestando atenção na... — meus olhos buscam desculpa — na televisão.

O aparelho não para de mostrar a destruição dos terroristas ou Purgatório ou pelo menos foi assim que eles se autoproclamaram para o país inteiro ontem. O muro tem uma parte considerável faltando, somente a estrutura de Nullium permaneceu intacta. Obviamente, uma habilidade poderosa foi usada.

Há alguém que possa rivalizar com a rainha em poder bruto

Cinquenta e três polícias, vinte e cinco enfermeiros e vinte e dois bombeiros. Todos foram mortos. Cem famílias desamparadas. Um massacre que todo o programa faz esforço para mostrar as mais detalhadas imagens dos corpos cremados.

Tantas vidas reduzidos a nada

— Pare de ver tragédias, isso só faz mal para sua mente — Zabaell desliga a TV, a única coisa que me impedia de me atirar da janela. — Tenha apenas Yuhiwohi em seu coração e nada vai lhe faltar, esqueça todo esse ódio.

Sou obrigado a ter minha total atenção direcionada para os dois... dois... pom... pombinhos... de novo. Tenho vontade de enfiar uma faca no meio da minha testa a cada vez que me lembro deste fato. Camila não tem um bom histórico de relacionamentos, a maioria acabou rápido demais.

Mas esse cara é... diferente

O fato de eu não achar nada de errado com ele me irrita, na verdade eu não sei quase nada sobre ele. Só sei que ele é um enfermeiro e é extremamente religioso, ou só um insuportável que não consegue ficar sem dar um sermão a cada três frases sobre como aceitar Yuhiwohi irá melhorar minha vida.

Steel of timeOnde histórias criam vida. Descubra agora