Iaceê e Emílio se entreolham. Ambos sem reação e com o coração mergulhado em culpa. As pessoas que amam estão sendo carregadas às pressas para a enfermaria.
E eles não moveram um músculo
Talvez se Iaceê tivesse convencido Theo, ele não teria se jogado na explosão. Talvez se Emílio não estivesse tão distante e assustado, Camila não teria lutado contra os nobres.
Há apenas um fato, Theo e Camila estão mortalmente feridos.
O portador dos olhos dourados recebeu uma explosão diretamente nas suas costas, costelas se quebraram e uma queimadura de terceiro grau se alastra nas suas costas. A jovem de força descomunal teve ambos os braços quebrados, os ossos estão parcialmente expostos. Um corte profundo no meio da testa não para de jorrar sangue.
Iaceê e Emilio apenas puderam assisti os professores socorrerem os irmãos. Ambos não conseguiram dizer uma palavra sequer.
Mesmo que o o peito implorasse por perdão
— Ainda bem que o senhor é sempre precavido, diretor — Eduardo, extremamente respeitoso, leva Theo e Camila em duas macas.
— É apenas experiência meu jovem, hora ou outra será sábio também — Leonardo, o velho diretor, responde pausadamente.
Suando frio Ana mantém as mãos sobre a testa de ambos. Consegue sentir onde está cada ferimento como se fosse em seu próprio corpo, sente cada fibra de seu corpo queimar e rasgar.
Se retorce de dor até conseguir ativar sua habilidade
Então, o calor
Não muito quente para se machucar, não muito fraca para não conseguir aquecer todo o corpo. É essa sensação que percorrer os dois irmãos desacordados. Ana pode curar quase todo ferimento apenas com um toque, porém ela tem que sentir toda dor do paciente antes.
— Não se esforce tanto, minha pequena — Leonardo percebe o seu desgaste. — Sente-se e tome um pouco de água.
A enfermeira está ofegante e suando frio, fazia tempo que não utilizava os poderes em machucados mais graves.
— Eles... eles... — ela tem dificuldade em formar frases. — Tem alguma coisa errada, é como se... se eu não conseguisse os curar mais profundamente e... e...
— Respire, vocês jovens já tem tantas preocupações e certezas infundadas — o velho diretor, que já beira os oitenta anos, a tranquiliza. — Tenho certeza que vai conseguir, deve ser só o nervosismo. Não deixe algo assim te abalar.
Ana olha para as próprias mãos, trêmulas e pálidas. Sem qualquer confiança em si.
— Se recorda quando tentou me curar pela primeira vez? — Mesmo com o rosto coberto pelo capuz, é evidente que o velho homem está sorrindo. — Você quase fez meu braço pegar fogo de tamanho era seu nervosismo.
Uma rouca gargalhada toma o ambiente. Ele segura as mãos da jovem a fim de acalma-la.
— Relaxe, apenas pense que tudo vai dar certo — assim como um pai deseja apenas o bem para sua filha, ele a mima acariciando seus longos cabelos ruivos. — Você é a única que consegue fazer isso, eles precisam da sua ajuda.
Mesmo que Leonardo esconda a frágil pele com uma luva de couro, é possível sentir o calor em seu toque. Ainda que sua voz esteja rouca, é perceptível o amor que ela transmite.
— Certo — é possível ver a confiança voltar a dar brilho nos olhos cor de mel. — Eu consigo.
— Apenas não se esqueça de tomar seu remédio, querida — Leonardo a alerta. — Vai te fazer bem.
Ela assente com a cabeça e adentra a enfermaria reluzente.
— Acho que eles se estabilizaram — Eduardo termina de ajeitar o espaço para conseguir acomodar Theo e Camila.
O ambiente como um todo é um grande improviso. Uma enfermaria sem a minima estrutura para acomodar três pessoas confortavelmente.
— Tenho certeza que eles logo logo ficarão bem, afinal são fortes.
Ele tenta parecer calmo, mesmo que a raiva consuma seu interior. Ver seus alunos neste estado sendo que poderia ter impedido, o enfurece. Os nobres sempre achando que estão acima de tudo e todos.
Um bando de...
De repente sente uma mão macia tocar seu rosto. Ana, em um misto de medo e compreensão, tenta o acalmar. O conhece a muito tempo, por isso sabe o que se passa na conturbada mente de Eduardo.
— Ana, eu...
Eduardo, tomado pela insegurança, decide não completar a frase. O conforto momentâneo é o que precisa por agora. Não é merecedor de nada mais do que isso.
— É melhor você descansar um pouco — Ela sugere se afastando lentamente e colocando um surrado jaleco. — Tenho muito trabalho a fazer.
— Tem razão — ele esfrega os olhos tentando afastar os pensamentos nocivos. — Nó... nós nos vemos mais... tarde...?
— Claro... — ela responde após ponderar por longos segundos.
Eduardo sai da sala se sentindo um pouco mais leve, no entanto o vazio interior continua o consumir. Ao menos, por agora, o ódio não se faz tão presente.
Talvez el...
— Roberto, seu inútil, pega logo minha cadeira! — ao sair Eduardo vê o diretor furioso com o zelador. — PARE DE ME ENROLAR, SEU VAGABUNDO!
Roberto, sempre sonolento, se levanta assustado.
— E... eu já vou pegar, pa... diretor — ele procura a cadeira de rodas aos tropeços.
— Já não tenho mais idade para isso — Leonardo balança a cabeça em desaprovação.
A escola já está praticamente vazia. Os alunos fugiram o mais rápido possível. Por um milagre apenas um rebelde mostrou as garras. Talvez por verem a violência em primeira mão, tenham desistido da idea de se submeterem a tal sofrimento.
No fim tudo ocorreu bem, admito ter imaginado cenários bem piores na minha cabeça
— Eu vou ligar para a mãe del...
— Aguarde até eles melhorarem — o diretor subitamente o interrompe. — Não vamos trazer mais comoção e tristeza para a escola.
— Mas...
— Ana irá cuidar deles, pode ter certeza.
Relutante, Eduardo não questiona. Não quer estragar essa boa sensação que Ana deixou em seu peito com preocupações fúteis.
Cadê, cadê, cadê?
O clima leve ficou apenas do lado de fora. Dentro da enfermaria, Ana procura incessantemente seu remédio. Precisa deles. Quer eles.
Aqui!
No momento que os encontra vira o pequeno pote, uma dezena de comprimidos de uma vez é o suficiente para se acalmar.
O efeito age rapidamente
Sente-se um pouco letárgica, leve como uma pena. O uso da sua habilidade é muito desgastante, as dores nunca cessam de imediato. São semanas ou meses para conseguir se livrar da constante agonia. Sem os remédio enlouqueceria.
Foco
Com a porta trancada é possível escutar apenas a respiração pesada de Ana e o pequeno cintilar de sua habilidade.
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Steel of time
General FictionIrbsal é separada por um muro. A nobreza e a plebe. Água e óleo. O Paraíso e o Inferno. O ciclo infinito de retaliação de ambas as partes parece não ter fim. Há somente duas formas de acabar com a dor de todo um povo, pela espada ou pelo coração. O...