Ambulância

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O céu azul pode ser o mesmo que cobre sua casa todos os dias, mas vendo daqui é mais... vivo, brilhante, divino.

Uma onda de sensações novas invade os sentidos

- Consegue ser pior do que pensei - Camila fala enjoada. - Fede a nobreza.

Apenas consegue notar os ventos carregados de poluição incomodando o olfato. Os inúmeros sons caóticos disputando espaço na mente e estremecendo os tímpanos. Chega a ser impossível distinguir tantos sons. Enquanto as cores fortes machucam os olhos.

- Incrível - Theo diz maravilhado. - É mais bonito que imaginei.

O ar parece mais vivo e as pessoas mais felizes. É possível escutar diferentes músicas ao fundo, todas tocando simultaneamente como uma orquestra. A mente de Theo transita nas novas formas e objetos da cidade, é um mundo novo se abrindo pra ele.

Os irmãos se encaram julgando a resposta do outro.

Como ele pode gostar desse lixo de lugar cheio de pessoas ainda piores?

Como ela não consegue ver tamanha beleza e liberdade?

- Chegaram - Mahara rouba a atenção apontando para o horizonte.

Em meio a tanto caos algo se destacou assim que adentrou a visão de todos. Uma grande van branca com faixas vermelhas, luzes estonteantes e emitindo sons ensurdecedores. Por um segundo, Theo e Camila congelaram.

Seria essa a van imperial?

O veículo de tortura?

Camila cerra os dentes, sabia que não era paranóia. Pode correr ou lutar, a primeira opção parece mais viável por sua mãe já estar nos seus braços.

- Espera, aquela é a ambulância? - Theo pergunta impedindo Camila de fazer qualquer loucura.

Ele percebeu as palavras escritas no capô: "Nenhuma alma para trás".

- Sim, estejam preparados para subir - Mahara alerta. - Sem enrolar. Quanto mais rápido entrarmos, mais rápido a mãe de vocês irá se recuperar.

Os olhos dourados resplandecem de entusiasmo e alívio. Nunca viu mais do que três modelos de carro durante toda sua vida. A única ambulância presente em seu cotidiano é um pequeno carro redondo, apertado e pouco confiável. Porém é o que os separa da morte em muitos casos. Logo ver um veículo tão robusto e bem cuidado servindo exclusivamente para ajudar as pessoas é como estar em uma fantasia utópica.

- Aqui é o paraíso de verdade - sussurra sorridente pra si.

Camila suspira decepcionada

Um trio desce do veículo no instante que ele para. Em segundos a maca foi preparada. Camila é obrigada a deixar Simone em cima da maca.

- Que Yuhiwohi nos proteja - odeia ter que deixar essas pessoas estranhas a tocarem.

Não demora para um dos enfermeiros terminar de configurar a maca e diversas garras cúbicas, feitas de um metal avermelhado, envolverem a mulher formando uma espécie de domo redor do corpo.

- Vamos logo - Mahara puxa Theo para dentro da ambulância.

O interior do veículo é confortável e branco como uma nuvem. Há inúmeros aparelhos pendurados nas paredes metálicas que ocupam a maior parte do espaço interno, um jovem enfermeiro está conectando vários desses aparelhos em Simone. As telas apresentam diferentes informações, complexas demais para dois jovens ignorantes.

- O efeito da maca é semelhante ao campo anulador da minha mestra, assim a mãe de vocês terá a angústia significativamente reduzida até o hospital - Mahara pontua. - Então não se preocupem, ela não sofrerá mais.

Steel of timeOnde histórias criam vida. Descubra agora