O ambiente se torna mais denso, é difícil de respirar. Sob os ombros de cada um parece ter uma tonelada, olhar para cima é uma tarefa difícil e arriscada. Talvez os nobres não gostem e mandem executar algum deles ou marquem ali mesmo a pele de todos como se fossem gado.
Mas Camila não se importa
Não, não é isso. Talvez ela se importe demais com a presença deles. Seus olhos roxos exalam confiança e ódio. Não pode se curvar, isso seria admitir ser inferior a lixo como eles.
— Por favor, se apresentem para o restante da turma — Eduardo, o professor, diz aos nobres
— Eu sou o primogênito da família César, Jorge César — seu olhar esverdeado é encharcado de arrogância. — Como faço parte da família que administra esse... local, exijo o mínimo de respeito.
Camila sente o nobre dos cabelos dourados a fintar. A postura de ambos revela algo.
O ódio é igualmente mútuo
— Eu sou Heike César, herdeira da família César — ela se curva em demonstração de respeito. — Espero ter uma boa relação com todos.
Muitos alunos sequer notaram o gesto. É possível os escutar rezando para as mais diferentes entidades. Outros balbuciam planos absurdos para fugir do local.
Mas Theo está calmo
Não sabe explicar o motivo de tal tranquilidade, porém ver os profundos olhos de tom esmeralda o acalma. Os ondulados cabelos loiros o hipnotizam. Quando notou estava de queixo caído.
Os irmãos com reações completamente antagônicas a chegada dos nobres, sentem um frio na espinha.
— Porra, merda, caralho — Theo escuta o ódio e preocupação transbordar de Camila.
O que está acontecendo?
A sensação de paz do jovem garoto durou poucos segundos. O ar se tornou rarefeito e a morte parece rondar o local. O rosto pálido e os braços de sua irmã são preenchidos por linhas escuras das mais diferentes espessuras. Elas constantemente mudam de tamanho lembrando uma ilusão de ótica.
Em situações tensas como essa as habilidades tendem a saltar para fora de uma só vez.
É instintivo
Todos os alunos estão prestes ou se segurando o máximo possível para não liberarem suas habilidades.
Chega a ser torturante
Emilio está tremendo tanto que sequer notar que se afastou de Camila, está completamente desnorteado. Agora está escorado em uma parede com os olhos fixos nos nobres e a mente distante. O suor escorre sobre sua pele negra, a pupila dilatada esconde sua íris rubra. Até mesmo as lágrimas custam a sair, como se até elas estivessem receosas.
Uma pequena moeda
Apenas esse pequeno objeto consegue o manter sua mente sadia. A moeda rodopia em sua mão ao mesmo tempo em que sua forma distorcida inúmeras vezes. Pequenas faíscas esbranquiçadas rodeiam seu corpo, a manifestação física da sua habilidade. Ele futilmente tenta as esconder enfiando os braços dentro da mochila.
Grande parte dos alunos apresenta o mesmo medo e estresse, afinal os tão temidos e poderosos nobres estão bem aqui. Os considerados livres, que tem comida sempre a mesa, que tem poder de escolher quem vive e quem morre, de quem passará ou não fome estão a poucos metros de nós.
Essas pessoas tem tudo e não valorizam. O simples ato de ter de roupas limpas e de primeira mão por toda a semana é um luxo para muitos aqui. A maioria usa roupas de parentes falecidos, que perderam conforme cresceram ou, em raros casos, simplesmente não queriam mais. Nobres como eles veem todos aqui como lixo. Nada mais, nada menos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Steel of time
General FictionIrbsal é separada por um muro. A nobreza e a plebe. Água e óleo. O Paraíso e o Inferno. O ciclo infinito de retaliação de ambas as partes parece não ter fim. Há somente duas formas de acabar com a dor de todo um povo, pela espada ou pelo coração. O...