Túnel

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A viajem, observando de longe, está bem calma. Alguns poderiam falar que eles são uma grande família tirando férias ou algo do gênero. No entanto, dentro da espaçosa van habita apenas a tensão.

Heike se limita a deixar Simone, ainda desmaiada, o mais confortável possível. Troca os panos úmidos sobre a testa regularmente e limpa o sangue que escapa do nariz ou das orelhas. Ainda dói o olhar de desprezo dele e...

Não

Não quer pensar no irmão por hora

Vanessa se utiliza de apoio para Simone enquanto acaricia seus cabelos. Vez ou outra instrui Heike sobre como cuidar de alguém em estado crítico. Na maior parte do tempo se mantém em silêncio controlando a respiração.

Precisa conservar o máximo de energia

Theo e Camila observam silenciosamente as nobres cuidarem de Simone, ambos têm reações antagônicas ao gesto.

As mãos de Camila tremem ao vê-las tocando sua mãe, se recorda perfeitamente quando invadiram seu lar e marcaram sua pele com ferro encandecido. Destruíam qualquer sonho e futuro que poderiam ter. Nada, com exceção da vingança, restou em sua mente.

Eu vou matar todos eles, cada maldita víbora

Em contra partida Theo se maravilha com tal ato. É uma prova que seu avô e pai estavam certos, bem e mal não dependem do lugar de nascença e sim do indivíduo. É uma escolha que fazemos todos os dias antes de acordarmos, é algo inconsciente que dita nossas vidas até o último suspiro.

Pequenas ações mudam o mundo

Os nobres apenas levaram desgraça a nossas vidas, mas não vou ser cegado pela raiva, isso decepcionaria eles. Meu pai sempre teve jeito em consertar equipamentos quebrados, então decidiu ajudar todos na comunidade sem receber nada em troca. Ficava horas em uma oficina improvida ajeitando televisões e rádios. Meu avô era um carpinteiro, raramente cobrava pelo que fazia. Era facilmente um dos melhores, com trabalhos que poderiam estar no paraíso. Ambos faziam o bem sorrindo, sem se importar em receber algo troca.

Eu quero ser alguém como eles

- Querem ficar junto dela? - Vanessa estende a mão, ela já não veste mais as longas luvas revelando inúmeras cicatrizes ao longo de ambos os braços. - Não precisam ter medo, não mordo.

A máscara, totalmente branca onde o único detalhe são os olhos vermelhos de Vanessa, parece transparecer sinceridade para Theo. Como se algo falasse que ela é confiável, talvez o apreço que sente por Heike esteja afetando sua percepção. Porém, até ele sabe que há uma incógnita sobre suas motivações. O tom calmo pode muito bem ser uma armadilha.

- O que vocês querem com a gente? - Camila impede seu irmão de se levantar segurando-o pelo ombro - Não temos nada a oferecer.

Camila não consegue, não pode e não vai confiar em alguém como ela. Uma nobre. Sua raiva aflora cada vez mais, o simples gesto de olha-la a faz lembrar do maldito dia em que perdeu tudo.

- Eu não quero nada de vocês, minha intenção é apenas ajudar - seu tom é suave, sedutor. - Nada mais

As linhas de sua habilidade surgem nos seus dedos, pequenas listras opacas

- É por causa do que aconteceu mais cedo? Só para você saber, que se não fosse o Theo sua filhinha tinha morrido - as listras começam a se alastrar pelo corpo. - Não devemos nada e não queremos nada de vocês, nos deixe em paz.

- Para - Theo segura a mão de Camila, ela precisa se acalmar.

Vanessa suspira, acaricia um pouco mais o cabelo de Simone. A mente está um pouco distante para prestar atenção nas queixas da jovem. Está com sentimentos contrastantes no momento, frustração e curiosidade.

Steel of timeOnde histórias criam vida. Descubra agora