Sentado na calçada em frente à entrada da casa, observo o céu noturno. É sempre estranho olhar fixamente os pontos brilhantes no céu e o vazio sem fim, inalcançável. De certa forma, as casas miúdas e amontoadas daqui de baixo se parecem com as brilhantes estrelas lá de cima. Cada uma tem um brilho quase imperceptível, porém emitem uma luz poderosa quando juntas.
Um farol para as almas.
É sempre belo observar esse emaranhado de estrelas. Me faz esquecer de tudo, a paz me preenche por instantes.
Amo essa calmaria
- Theo! - uma voz conhecida me chama, ofegante.
Meu breve devaneio é interrompido. Vejo um jovem garoto lutando para se manter de pé. Tento imaginar o porquê dele estar aqui. É estranho ele vir sozinho nesse horário e, principalmente, vir aqui sozinho.
Eu moro perto do topo do morro, um lugar reservado para a "escória" do Inferno. Criminosos, doentes e pessoas odiadas no geral moram aqui. Ele mora bem perto da base do morro, é uma puta caminhada até aqui.
- Antônio, já tá tarde pra ficar na rua - ele não tá se aguentando de pé. - Tua mãe vai te bater se ver você aqui, pivete. Nem o rabo de seta dá conta daquele tamanco, vai antes que fique mais tarde.
- A... a Cami... la... ela... ela...
Não preciso esperar o pequeno garoto completar a frase ou dar mais informações para entender a situação. Francamente, sei exatamente o que irei encontrar: minha irmã desmaiada e com inúmeros hematomas pelo corpo. Toda semana isso acontece, então todos os dias eu a espero chegar para entrar em casa. Preciso garantir que ela esteja bem para conseguir dormir. Normalmente não é nada sério.
Mas eu não posso arriscar
Nunca consegui a impedir de lutar nesses torneios clandestinos, faz pelo menos cinco anos que a vejo arriscar a vida por trocados. Desde o dia em que arrancaram nossa liberdade e nos marcaram.
O dia que cortaram nossas asas
Eu entendo que as coisas se tornaram complexas. Nossa mãe quase não aparece em casa, ela vem trabalhando cada vez mais e mais. Tendo vezes que não volta para casa durante dias seguidos. Tudo isso para termos uma roupa decente, um punhado de lápis e papel, um pouco de comida na mesa, um pouco de dignidade.
O descanso se tornou um luxo
Talvez as coisas poderiam ser diferentes. Talvez eu pudesse fazer algo. Talvez poderíamos ser a felizes. Talvez...
DrogaChega de remoer o passado
Preciso ficar focado em ver como está Camila
Corro por vielas mal iluminadas desviando de drogados e bêbados perambulando no meio da rua. A cada esquina tem algo acontecendo, seja um enquadro ou um comércio ilegal. Um velho ditado dita nosso cotidiano "Quem fica parado morre de fome".
Quase lá
O morro é extremamente íngreme, o que não impediu a construção de centenas de casas, então não é difícil pegar velocidade ao descer dele. Porém para subir requer o triplo do esforço.
Ali
Mas no fim da escuridão posso finalmente ver duas silhuetas familiares. Por algum milagre os postes ainda estão com lâmpadas e funcionando, graças a essa sorte que eu consigo me esquivar dos sacos de lixo tacados na rua.
- Camila! - tento chamar sua atenção.
Não tenho muito resposta, apenas uma bufada exausta. Somente ao me aproximar pude entender a situação.
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Steel of time
General FictionIrbsal é separada por um muro. A nobreza e a plebe. Água e óleo. O Paraíso e o Inferno. O ciclo infinito de retaliação de ambas as partes parece não ter fim. Há somente duas formas de acabar com a dor de todo um povo, pela espada ou pelo coração. O...