Capítulo 4

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"E se, hipoteticamente"

Vanessa Ortega

Passam dias e dias que Nicolás não fala comigo, ele sempre se levanta, come, vai ao trabalho e só volta muitas horas depois, Lisa leva o almoço dele até lá, eu ja pedi pra que me deixasse ir, mas segundo ela, o senhor Nicolás não quer me ver, e eu não o culpo eu disse coisas horríveis pra ele, o que não suporto é que ele também já disse esse tipo de coisas pra mim.

Como daquela vez, "vim ter certeza que a minha mercadoria não se foi embora durante a noite" aquelas palavras ainda me ferem até hoje, será que é assim que ele se sente, espere, se ele me feriu primeiro porquê eu tenho que engolir o orgulho primeiro? Ele deveria fazer isso, então assim será, eu não farei mais nada, ele que me procure.

***

Mas alguns dias se passaram e a situação não mudou, levantou, comeu e foi-se, hoje decido esperar por ele, para ver mais ou menos quanto tempo ele demora no trabalho, estou na sala de cinema, desde que nessa casa cheguei, só consigo ficar aqui, ou conversar com as criadas, elas tem muito para contar, sempre. Estou vendo, Romeu e Julieta, felizes mesmo são aqueles que se querem e se tem, minha mente provoca e assim vejo o filme, eles parecem tão felizes juntos, mas tão preocupados que alguém os descubra, em uma das cenas oiço uma voz vindo da sala, suavemente rígida, é ele, a tanto tempo que não o vejo, nem o oiço, sinto sua voz se aproximar, ele está caminhando pra cá, será que ele vai engolir seu orgulho e finalmente pedir desculpas?

"É isso, eu já disse que são cinquenta sacos de O+ e vinte de A-, pare de me ligar pra me perguntar coisas que você já deveria saber porra" ele grita, merda, ele parece estar bem chateado, finjo estar dormindo, como fiz da última vez, "Cacete Nessa, porquê você insiste em assistir sabendo que te deixa aborrecida" ele me chamou de Nessa, sinto borboletas no estômago, ou como eu prefiro chamar, efeito borboleta, "eu vou deixar você aí, assim você aprende a não dormir na sala de cinema", o quê? Mas que.. "merda, eu não consigo deixar você aqui, assim, só pra constar eu ainda te odeio" sinto ele me agarrar e me ter em seus braços, ele bebeu, whiskey, o mesmo de sempre, hortelã, ele chupou uma bala de hortelã pra disfarçar o cheiro.
Ele sobe as escadas e eu aproveito esse momento, abraço ele e depois oiço ele rosnar, sorrio escondida e assim ele continua, ele tem alguma dificuldade em abrir a porta mas consegue no final, assim que ele me deixa na cama, ele simplesmente sai sem dizer nem uma palavra. Merda, parece que não será hoje.

***

Nesses últimos dias, percebi o quanto Nicolás está puto comigo, eu sei que fiz merda, ele também fez mas não é pra tanto. Hoje é quarta-feira então ele vem almoçar em casa, eu almoçaria na minha casa, mas minha tia está ocupada, então irei amanhã, por isso almoçarei no meu quarto. As vezes Lisa almoça comigo e a gente conversa sobre o quanto Nicolás me detesta.

"Cheguei" ouço a voz mas excitante de toda Colômbia vindo da sala. Minutos depois tia Carmen vem até meu quarto.

"Vanessa querida" como ela ama me chamar assim, "vem almoçar com a gente, por favor" ela começa assim que entra, "você sempre come nesse quarto o tempo todo, todos os dias" tento recusar algumas vezes, mas ela nem sequer deixa eu terminar minhas mentiras, então sou obrigada a aceitar.

"Vanessa, ainda bem que desceu pra almoçar" diz o senhor Villaruel e eu sorrio em resposta, nesse momento Nico atravessa a porta, olha directamente em meus olhos, assim que ele me vê e dá a volta e eu o sigo.

"Nicolás volta aqui, pare com isso" corro atrás dele, "Nicolás espere".

"Pra quê?" ele grita parando repentinamente e isso me deixa assustada, "pra você rir comigo hoje e surtar comigo amanhã?" Ouch! "Não bebecita, nenhuma mulher brincou comigo" ele se aproxima, "e você não é ninguém pra fazer isso acontecer" ele sussurra em meu ouvido e sai andando.

A Ruiva que me pertenceOnde histórias criam vida. Descubra agora