Capítulo 8

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"Você é bom nisso"

Vanessa Ortega

"Cacete" grito comigo mesma, Lisa é muito boa sendo ajudante, ela disse pra mim que foi ajudante da mãe a vida toda. Hoje é quarta-feira, o dia em Nicolás almoça em casa e eu almoço com a minha família, já tenho tudo pronto, ensaiei algumas receitas, pratos originais para a feira, e vou levar para eles, até hoje só Lisa provou alguns desses pratos, e ninguém mais.

"Eu cheguei" sua voz soa pela casa toda, eu ainda quero descobrir porquê ele grita isso sempre que chega à casa, Nicolás está esperando que alguém corra até seus braços e se jogue neles?

"Eu estou saindo, até depois" atravesso a cozinha e vou até a porta, eu acho que ele está habituado a isso, assim como eu.

"Mande um Oi para o Pablo" parte meu coração, ver o quanto ele se apegou ao Pablito.

"Olha, eu acho" começo, mas me rectifico, "aliás eu não acho, eu tenho certeza de que irei me arrepender disso, mas quer ir comigo até lá?" Pergunto e ele lança um sorriso torto, coloca as mãos nos bolsos e molha seus lábios.

"Claro, porquê não?" Ele aceita. E saímos juntos, Nicolás me arranca a cesta e mete no banco traseiro do carro, "está com um cheiro bom, o que tem aqui?" Pergunta ele assim que liga o motor.

"Receitas originais, alguns doces, alguns pratos novos" ele faz uma expressão facial como se estivesse dizendo que está ofendido.

"Você tem receitas originais e eu não sabia?" Pergunta ele na estrada, merda. Por essa simples pergunta estamos discutindo o trajeto todo, até que.

"Só não esqueça que aqui nós somos o casal perfeito" minhas palavras fazem ele sorrir outra vez, "o que foi?" Pergunto.

"Você precisa de mim" seu sorriso porra.

"Não preciso nada" respondo dando de ombros, ele continua com os olhos fixados na rua, mas dessa vez ele está sério.

"Só aceito te ajudar se você prometer fazer todas as suas receitas originais exclusivamente pra mim, uma por uma" como esse cara ama comida.

"Combinado" digo. Nicolás dirige mais um pouco e já consigo ver a casa da minha tia.

"Cheguei" grito assim que abro a porta com a minha própria chave, oiço passos rápidos vindos até nós enquanto dou espaço a Nicolás, para que ele entre com a cesta. Quando presto atenção vejo, mamadeiras, fraldas descartáveis, um poof, um berço, "eu já estou indo embora" grito de novo e Nicolás faz cara de confuso, "vamos fugir enquanto ainda há tempo" sussurro.

"Tarde demais" tia Helena. Ela vem com um bebê no colo, aquele bebê. E ela já está chorando, "ainda bem que você chegou, eu preciso ir ao mercado" diz ela, e assim Nicolás entra na sala, seu sorriso brilha ainda mais, ela corre até ele.

"Nicolás, como está? Olha essa é a Jéssica, minha neta, ela veio passar a tarde comigo" ela mostra o bebê para Nicolás. Tia Helena passa pra mim, "por favor, dêem a mamadeira pra ela" e sai, quando a porta bate ela já começa a chorar.

"Mas que merda, eu detesto dias como esses" reclamo e Nicolás está sentado no sofá, me remexo um pouco enquanto carrego o bebê no colo, tem uma grande bola fofa ao seu lado, penso em deixar o bebê ali até tia Helena voltar mas eu não sou tão insensível.

"Calma, é só um bebê, não um monstro, Ness" ele debocha sorrindo. Ele se levanta e se aproxima, "é só ficar calma, ela consegue sentir o medo em ti" ele debocha outra vez.

"Quer segurar? Segura, eu não aguento tanto choro" digo entregando o bebê pra ele, quando eu penso que ele não vai aguentar, ele sabe exatamente onde colocar o braço, onde colocar a cabeça e até como segurar o rabinho do bebê, "Como você sabe fazer isso?" Pergunto e ele sorri ainda mais, seus olhos não deixam a bebê nem por um segundo e ela só consegue chorar.

A Ruiva que me pertenceOnde histórias criam vida. Descubra agora