Resolução.

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POV LUIZA

Os dias em casa eram tranquilos. As horas passavam quase que num piscar de olhos, tudo era tão calmo que custava acreditar que realmente aquela sensação de paz existia. É, Luiza, você realmente está em casa.
Todas as vezes que vim visitar a minha família, trouxe Laura comigo. Primeiro que eu jamais confiaria de largar aquela adolescente sozinha na cidade de São Paulo e segundo porque era difícil pra mim não ter um instinto de proteção exagerado em relação a minha irmã mais nova. O Luigi sempre foi super protetor, sempre cuidou de nós duas como se cuidasse de duas pedras preciosas. Depois que ele se foi, parece que eu vivo num medo iminente de que algo ruim aconteça com a Laura. Esse pensamento me atormenta mas que qualquer outra coisa. Em todas as nossas visitas nunca passávamos mais que 7 dias, era sempre uma viagem curta, afinal a minha vida em São Paulo é corrida demais para férias mais longas. Dessa vez, Laura me fez um pedido especial: no início de março ela completa 16 anos e me pediu que seu presente de aniversário fosse um jantar em família. Sugeri levar nossos pais para São Paulo, mas o pedido tinha local específico: era um jantar em família, em Sergipe, na Ilha dos Namorados. Com isso, eu aproveitei o feriado de carnaval e prolonguei nossas férias desse ano, por quê não?! Minha irmã sentia mais falta da nossa família junta do que todos nós. Laura foi embora comigo para São Paulo no auge da infância, ficou longe dos seus amigos, da sua rotina, dos seus pais. Eu devia isso a ela. Além do mais, dias depois, no dia 9 de março é o meu aniversário, seria legal estar em família nesse dia depois de tantos anos longe.

Depois de alguns segundos pensando sobre em qual resposta daria para uma Lelê curiosa a minha frente, fui despertada dos meus pensamentos quando a mesma me chacoalhou - tia Lu?? titiaaaaa?! - Lelê puxava pela minha blusa

- Oi meu amor, me desculpa, acabei me distraindo - falei em meio aos pensamentos bagunçados.

- Você não me respondeu tia, por que você não gosta de morar com a gente?! - Lelê repetia curiosa pela resposta.

- Lelê, é claro que a mana Lu gosta de morar aqui com vocês, de onde você tirou essa dia menina?! Só que a vida aconteceu pra ela lá em sampa e ele precisou se mudar, mas isso não significa que ela não goste de morar aqui - Laura respondeu me olhando de canto.

- É, meu amor... A tia Lu gosta muito mais dessa terrinha aqui do que de sampa, só que a vida aconteceu por lá e eu precisei seguir o fluxo, foi só isso - falei tentando me convencer disso também.

Nós ficamos um tempo jogando conversa fora e brincado com a Lelê até que ouvimos a mamãe chamar para o almoço, lavamos as mãos e almoçamos todos juntos no clima leve de sempre.
Após o almoço, já era meio da tarde quando decidi ligar o notebook para checar alguns e-mails. Me dar ao luxo de tirar um mês e meio de férias não era só sombra e água fresca assim, vez ou outra eu precisava dar uma olhada porque alguns processos, embora sob responsabilidade do juiz substituto, precisam do meu aval. Nessa tarde abri o e-mail em busca de um em especial, estávamos no dia 26 de fevereiro e a resposta sobre a minha transferência já era pra ter sido dada desde o última segunda feira passada, só fiz abrir a caixa de entrada e lá estava ele, era real, lá estava a resposta que eu queria, o meu pedido havia sido deferido. A minha transferência teria uma data concreta assim que voltasse para São Paulo e ajustasse o que fosse necessário.

Desci as escadas correndo e encontrei meus pais na varanda de casa, mamãe estava com Lelê no colo e ambas se balançavam na rede, papai e Laura jogavam cartas sentados na batente, parei e fiquei da porta observando a cena, meu coração se encheu por saber que iria testemunhar mais disso de perto, bati palmas para chamar atenção dos quatro para mim e eles me olharam assustados:

- Que susto danado, Lu, parece que quer matar seu pai do coração, menina - meu pai falou e eu sorri.

- Mãe! Pai! Eu quero filé ao molho de queijos no jantar, muuuiita batata frita pra Lau e pra a Lelê e cerveja pra gente comemorar, hoje a noite eu tenho uma novidade pra contar - eu tava que não cabia de felicidade.

- Mas filha, vai deixar a gente esperando curioso até a hora do jantar? Conta logo e a noite a gente só comemora! - minha mãe falou eufórica.

- Conta titia, conta logo e de noite a gente come a batatinha com ketchup - lelê batia palma empolgada.

- Nada disso, a novidade só a noite, agora eu vou subir e continuar revisando uns processos e as 19h desço pra o jantar - falei dando as costas e já subindo as escadas e pude ouvir Laura e Letícia resmungando querendo saber sobre o que se tratava o jantar de comemoração.

Às 19h em ponto Letícia e Laura bateram na porta do meu quarto alegando que já estavam prontas e eu estava atrasada, avisei que desceria em menos de 10min e as duas saíram.

O clima leve se fez presente no jantar, no meio da noite, logo após nos deliciarmos com o meu prato preferido, contei do pedido de transferência e que hoje havia recebido a informação de que o mesmo foi deferido, quando falei que isso significava que voltaria a morar em Sergipe, todos gritaram de felicidade e meu pai se desmanchou em lágrimas, seu Vicente era um grande manteiga derretida.

Os dias que passaram foram pura diversão. Muita praia e muita piscina. Fomos à cachoeira numa cidadezinha próxima. Curtimos várias noites no centro da cidade e muitos momentos em família. No sábado seria o aniversário da Laura e o jantar de comemoração já estava todo combinado. Minha mãe não iria cozinhar, todo o jantar foi encomendado no restaurante da tia Neide, que era amiga próxima da minha mãe e dona de um dos melhores restaurantes da região. Minha mãe encomendou um bolo e alguns doces e tudo estava pronto.
Acordamos no sábado cedo e todos enchemos a Laura de beijos e abraços, descemos, tomamos o café da manhã da mamãe de sempre, nos arrumamos e fomos  todos à praia, o combinado era passarmos o dia por lá.

Estava sentada no sofá com a Lelê que estava um pouco dengosa envolvida no meu abraço quando ouvi distante os passos de alguém descendo as escadas, quando olhei me deparei com a imagem da minha irmã, linda e em passos lentos vindo até nós. Laura vestia um vestido azul claro em tecido solto, tinha seus cabelos semi presos apenas por duas mechas numa presilha delicada de brilhante e o resto solto num caracolado natural, a observei emocionada e senti meu coração transbordar, minha menininha cresceu. Quando fomos para São Paulo a Laura era uma menina de apenas 9 anos, hoje a minha irmã está uma moça linda. Quão feliz e grata eu sou em poder vê-la crescer.

O jantar de Laura foi lindo. Recheado de boas conversas e pessoas especiais. Laura convidou apenas Giovana, Raquel e Pedro. Os quatros eram melhores amigos desde antes de irmos para sampa e a amizade foi conservada até hoje. Rimos. Comemos muito e perto das 1h da manhã, nos despedimos e nos recolhemos.

Meu aniversário não foi muito diferente do da Lau, a única diferença é que convidei apenas a Débora, minha melhor amiga que veio de Aracaju passar meu aniversário comigo. Saímos para jantar e na volta, eu e Debs ficamos até as 4h colocando o papo em dia e fofocando da vida alheia.

Na terça, Débora voltou para cidade e eu e a Laura pegaríamos o voo de volta para São Paulo às 18:30. Desse vez não seria apenas um voo de volta para casa. Estávamos felizes por isso.

Chegamos em São Paulo por volta das 22:45 da noite devido a uma conexão chata que tivemos que pegar. Na quarta cedo eu já estava no tribunal. Minhas férias se encerravam de fato na segunda seguinte, no entanto decidi voltar para adiantar todo processo.
Não existiram obstáculos. Passei 15 dias entregando todos os processos ao juiz que me substituiria, no meio tempo resolvi a transferência da Laura na escola e por ser uma rede de colégios que também tinha sede em Aracaju, o processo foi mais simples do que o esperado. Na nossa última semana em sampa, Laura praticamente não parou em casa. Senti a minha irmã triste em determinado momento mas a mesma me deixou ciente que apenas sentiria saudades dos amigos que construiu aqui, mas que estava doida pra voltar para casa. Isso sem dúvidas deixava meu coração em paz.

Março chegava ao fim. Na segunda, 29, recebi o email com a data exata da minha transferência: 15/04/2022. Liguei para mamãe e papai. Avisei na escola da Laura que esses seriam seus últimos dias de aula. Avisei pra Debs que ficou eufórica e liguei o notebook para comprar nossas passagens. Chegaríamos em Aracaju no dia 16/04 às 15:45 da tarde. Era oficial, chegou a hora de recomeçar.

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