A proposta

1.3K 208 50
                                    

POV VALENTINA

O jantar tinha sido bastante agradável, tivemos uma noite legal em família e não faltou assunto durante todo o momento. A tia Lourdes contou que estava com a casa quase toda arrumada e agradeceu aos meus pais por isso, disse que sem a ajuda deles todas as caixas ainda estariam lá para serem desfeitas, realmente a mamãe é muito boa com mudança. Papai e o tio Vicente tomaram a cervejinha de sempre e nós mulheres ficamos no vinho. O jantar estava uma delícia e a sobremesa nem se fala, se quer sobrou um único pedaço. Em resumo, foi tudo muito bom.

O domingo amanheceu e eu acordei ainda era cedo e quando abri meus olhos logo senti que estava com uma dor de cabeça enjoada. Olhei para o lado e a Lu dormia tranquila, sem fazer muito movimento eu levantei, tomei um banho de cabeça e fui até a cozinha em busca de um comprimido. Olhei o relógio na sala e nele marcava 7:13 da manhã. Nós sairíamos para buscar a Júlia no aeroporto às 11h, estava previsto para o voo dela chegar ao meio dia. Coloquei um café pra passar e sentei na mesa de jantar e logo meus pensamentos foram invadidos por um assunto que eu tentava esquecer.

7 anos atrás

Era um final de tarde tranquilo, eu estava na sala esperando o horário da faculdade para poder sair de casa, tinha marcado chegar uns 20 minutos antes para aproveitar um pouquinho com a Lu, estávamos em semana de prova e ela sempre ficava super focada nessa época, o que deixava nossos encontros bem difíceis. O meu telefone tocou e estranhamente apareceu na tela o nome do meu cunhado Gustavo. Nós não tínhamos muito contato, ele tinha um certo olhar preconceituoso e eu sempre procurei evitar ao máximo o contato com ele. A Lu sempre foi muito apaixonada no irmão e ele sempre foi uma referência dentro de casa. Piloto da aeronáutica, extremamente machista, o típico macho escroto que acreditava ser dono do mundo. Ele se casou com a Dani quando ambos fizeram 29 anos, foi o evento da Ilha dos namorados na época, os dois principais nomes de famílias conhecidas selando um relacionamento que começou quando eles ainda tinham 14 anos. Eu fiquei com pena da Dani, era notório o quão submissa ela sempre foi a ele, mas, ela fez a escolha dela.

Atendi o telefone e do outro lado da linha encontrei um Gustavo amistoso, o que era ainda mais estranho, levando em consideração que ele sempre tratou todos ao redor dele com autoridade, exceto a tia Lourdes e a Lu, que sempre colocava a máscara de filho e irmão bonzinho. Estranhei o teatro na ligação mas ouvi o que ele tinha pra falar. A conversa foi curta, Gustavo falou que estava em Aracaju e perguntou se eu podia tomar um café com ele porque tinha um assunto pra tratar comigo. Ok, nesse momento mais nada fazia sentido nisso tudo. Que tipo de assunto o Gustavo teria pra tratar justamente comigo? Perguntei, mas ele apenas afirmou que só poderia falar sobre pessoalmente. Perguntei então se ele estava livre e informei que poderia encontrar com ele em 20 minutos. Ele me passou um endereço, desliguei a ligação e levantei para trocar de roupa.

Em menos de 20 minutos eu estava parada em frente a um galpão numa rua deserta num bairro nobre de Aracaju, era tipo uma rua onde existiam várias fábricas. Assim que parei na porta o Gustavo saiu de uma pequena porta e me convidou para entrar. Eu estava visualmente assustada e foi inevitável ele perceber, ele me olhou com cinismo e sorriu dizendo que eu não precisava ter medo dele, que ele estava ali para me ajudar. Arqueei as sobrancelhas e entrei pela porta observando tudo ao meu redor. Existiam alguns caixotes, umas pessoas mal encaradas trabalhando e ele me conduziu até uma sala no fundo do galpão. Dentro da sala tinha um computador, algumas medalhas de honra que certamente ele recebeu na aeronáutica, uma foto de família num porta retrato sobre a mesa e um outro ao lado com uma foto da Lu com a Laura no colo. A foto era linda e as duas aparentavam estar felizes. Sorri ao observar a imagem a minha frente e ele se aproximou da mesa pegando-a, sentou na cadeira e pediu que eu sentasse a sua frente e assim fiz enquanto observava ele admirar a imagem que estava em sua mão. Gustavo parecia ter certa possessividade no olhar. Após alguns segundos ali, ele voltou o seu olhar pra mim:

RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora