Promessa

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POV LUIZA

Voltamos para a sala com um sorriso diferente no rosto, eu estava um pouco sem graça, a Valentina estava em completo estado de felicidade evidente, nos juntamos aos outros e pegamos o embalo do papo.

Volta e meia percebia os olhares da Valentina pra mim mas estava ao máximo tentando disfarçar, tomamos mais algumas cervejas e logo após a mamãe avisou que o jantar seria servido em menos de 10 minutos e solicitou que todos lavassem as mãos e sentassem na mesa da sala de jantar e novamente o lugar que sobrou para mim foi ao lado da Valentina, estava começando a ficar até engraçado, sorri com a minha própria constatação.

Em meio a tantos assuntos que surgiram durante a noite, chegamos no momento de falarmos sobre a viagem da Valentina para Europa, naturalmente me senti incomodada mas tentei expulsar esse sentimento que inevitavelmente se formou aqui dentro, não seria delicado da minha parte demonstrar que tal assunto me deixava extremamente desconfortável, não ali na presença de todos. Vi a Debs me olhar pra tentar arrancar de mim se estava tudo bem e eu apenas sorri assentindo para minha amiga que estava tudo certo, embora por dentro eu desejasse pra que logo o assunto mudasse. Forcei um sorriso em meu rosto e apenas observei ela contar sobre a sua experiência estudando fora e sobre como tudo foi de mera importância pra sua vida profissional e pessoal e graças a Deus o assunto logo se encerrou e começamos a falar sobre dela estúdio em Aracaju, pelo que pude pegar da conversa, logo depois de se formar a Valentina voltou e começou a vida na fotografia com seu próprio estúdio, não pude deixar de me sentir orgulhosa em saber que ela tinha conquistado um dos seus maiores sonhos, seus olhos brilhavam quando falava sobre isso, senti um quentinho no coração, apesar de tudo era de grande valia para mim enxergar que ela conseguiu conquistar o que desejava, parece que suas escolhas valeram a pena.

A noite estava quente e logo após a sobremesa papai nos convidou para varanda, o Miguel e ele colocaram algumas cervejas no cooler e sentamos ao redor da mesinha que existia ali, era incrível como a Ilha dos namorados nos fazia sentir em paz, em casa. Esse lugar foi o meu lar durante vários anos, foram tantas descobertas aqui, me peguei pensando em como eu fui feliz em todos os anos que vivi aqui e me questionei como fui capaz de passar tanto tempo distante.
Eu observei todos ali e me dei conta que cada um era parte da pessoa que tornei e naquele momento me permiti sentir apenas a felicidade de estar rodeada daquelas  pessoas que tanto eram importantes pra mim.

O restante da noite foi desse jeito, muita cerveja e boa conversa. Passava de 1h da manhã quando a Lelê finalmente se rendeu e se entregou ao sono no meu colo, pedi licença a todos e subi para colocar minha sobrinha na cama, devo ter demorado no máximo uns 20 minutos lá em cima, quando desci e estava quase na ponta da escada me deparei com a Valentina parada me olhando, apenas sorri ao vê-la ali, aquela cena me lembrou milhares de coisas.

- Eu estava esperando você descer pra me despedir - ela falou se aproximando de mim e todo meu corpo gelou - Acho que já vou indo nessa - concluiu

- Por que você já vai? - perguntei e ela arqueou as sobrancelhas com um sorrisinho sacana no rosto - Tá todo mundo bebendo e conversando ainda, por isso perguntei - pigarreei e tentei justificar

- Você quer que eu fique, Lu? - ela falou me olhando nos olhos e me deixando sem graça - Se quiser eu posso ficar um pouco mais - disse me encarando

- Ah! - suspirei - Você que sabe - conclui e ela sorriu novamente, que ódio desse sorriso vitorioso

- Tudo bem, eu fico um pouco mais, vem, vamos para varanda - ela falou pegando na minha mão e me puxando pra fora de casa, aquele simples toque fez de novo o meu corpo gelar, como pode?! - respirei fundo -

O pessoal não sossegou até tomar todas as cervejas que estavam no cooler, quando todos se despediram para se recolher, olhei o relógio e faltavam 14 minutos para as 4h da manhã, eu sabia que no dia seguinte iria me arrepender quando a ressaca e o cansaço surgissem em mim.

Minha mãe foi a última a se despedir da Valentina e subir, nos deixando a sós naquela velha varanda, Valentina me olhava um pouco receosa, como se não soubesse muito bem como agir ou o que falar, ela se aproximou de mim e a percebi esperar uns segundos para ver qual seria a minha reação, eu apenas fiquei imóvel, meu corpo simplesmente não sabia reagir a ela tão próximo, ela colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e me deu um beijo no canto da boca, eu apenas fechei os olhos aproveitando tudo daquele contato

- Você sabe que pode me mandar parar se quiser, não sabe? - perguntou com a boca encostada na minha e me olhando nos olhos

- S-sim, eu sei - minha voz saiu falhada - Mas você também sabe que eu não vou conseguir te mandar parar, não sabe? - perguntei de volta sem quebrar nossa troca de olhares

Valentina não me respondeu, eu senti quando delicadamente ela me puxou pela cintura e colou os nossos lábios, dessa vez o beijo era calmo e eu pude sentir ela aproveitar cada centímetro da minha boca e da minha língua, como quem degustasse algo que a muito tempo não provava, eu sorri dentro do beijo ao constatar que ela sentiu tanta saudade disso quanto eu, quando o ar nos faltou ela afastou um pouco sua boca da minha e me olhou com ternura e paixão, eu pude enxergar a naquele olhar a garotinha pela qual eu me apaixonei, eu pude sentir que de algum jeito ainda era a minha Valentina de sempre ali, ela sorriu e em seguida me deu vários pequenos beijinhos até que enterrou o rosto no meu pescoço me entregando um abraço apertado

- Me diz que isso não é um sonho e que você realmente está aqui comigo, Lu! - sua respiração tava ofegante, parecia estar chorando, emocionada talvez - Se for um sonho eu não quero acordar - concluiu respirando fundo

- Valen... - falei tirando-a do meu abraço para que pudesse a olhar nos olhos e tive a certeza que ela chorava - Não chora, por favor, olha pra mim - pedi carinhosa levantando seu rosto pelo queixo - Isso aqui é real, tá? Nós somos reais, isso tudo que a gente sente é real - falei com os olhos cheios - Eu posso ter as minhas mágoas, os meus receios, mas eu não posso dizer pra você que não quero ter você de novo na minha vida - nesse momento uma lágrima escapou dos meus olhos - Parece um sonho, né?! - ela soltou um sorrisinho - Mas não é.. - respirei fundo - Parece que acontecemos de novo - eu suspirei e deixei um selinho demorado nos seus lábios - Só te peço pra ter um pouco de paciência, tá tudo muito confuso pra mim, tem uma mistura de sentimentos aqui dentro e eu preciso de um tempo pra tentar processar isso tudo, você consegue me entender? - a olhei

- Sim, Lu! Mas como te falei mais cedo, só não se afasta de mim, por favor! - ela pediu novamente

- Eu não vou - falei puxando ela de volta para o abraço - Vem cá, vem! - ela se aconchegou em mim

- Promete mesmo? - perguntou baixinho

- Sim, Valen, eu prometo! - percebi que Valentina sorriu e então acariciei seus cabelos num gesto de carinho e cuidado.

Nós ficamos mais uns 20 minutos conversando sobre a vida e trocando beijos e cariciais até que Valentina anunciou que precisava realmente ir, nos despedimos com mais alguns qbeijos e a promessa de mantermos contato, eu pedi que ela anotasse meu número mas ela me falou que não precisava pois já tinha, nesse momento senti um aperto no peito ao lembrar do quanto eu esperei por qualquer mensagem ou ligação dela, Valentina percebeu minha mudança repentina e perguntou se tinha dito algo de errado, eu apenas disfarcei que estava cansada e que precisava dormir, ela não acreditou muito, mas também não insistiu no assunto, me deu um beijo na bochecha e um abraço apertado e se foi.

Vê-la indo embora trouxe uma sensação que eu já conhecia, aquela angústia por saber da distância e não tê-la por perto, o sentimento que fez parte de mim por todos esses anos, eu não sabia como seria conviver com ela novamente, eu sequer fazia ideia se eu conseguiria conviver com ela novamente, mas nessa madrugada eu demorei para dormir sentindo o cheiro da mulher que eu amo que ficou grudado em mim e lembrado do gosto e de tudo que aquele beijo foi capaz de acender novamente em mim. Eu sabia que seria difícil, mas eu estava disposta a tentar mantê-la de novo na minha vida.

Já estava quase cochilando quando vi o celular vibrar na mesinha ao lado da cama, era uma mensagem de um contato desconhecido:

"Oi Lu! Obrigada por hoje, feliz em saber que te tenho aqui, de novo! Bons sonhos e boa noite! Beijos, sua Valen."

Meu coração errou as batidas ao ler o final da mensagem, meu Deus, essa mulher vai me deixar louca.

Bloqueei o celular e me obriguei a dormir. Não vou lidar com isso hoje. Deixa pra amanhã.

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