Mudança.

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POV LUIZA

Passei os últimos dias resolvendo burocracias que uma mudança de estado requer. Eu não venderia a casa. Os móveis ficariam todos como estavam. Meu pai tentou me convencer a alugar a casa com a mobília mas confesso que sou ciumenta demais com o que é meu pra se quer cogitar a ideia. Não tinha condições disso funcionar. Tinham minhas coisas e as coisas da minha irmã Laura. Sem contar da nossa decoração que é toda do nosso jeitinho, planejamos essa casa e a deixamos pronta especialmente pra gente, impossível colocar vender ou colocar para alugar. Dito isso decidi que a casa ficaria fechada. Judite, uma das poucas amigas que fiz aqui em sampa, se comprometeu em vir uma vez ao mês cuidar da manutenção da piscina e acordamos que acertaria ela mesma, quinzenalmente, com uma faxineira para manter tudo limpo e conservado. Acertaríamos os valores no final de cada mês. Judite era um amor de pessoa e uma ótima amiga, com toda certeza eu sentirei saudades.

Tudo estava organizado. As poucas malas que iam já estavam prontas e conforme combinei com a Laura, ela levaria apenas o que fosse conseguir usar em Aracaju. São Paulo tem esse tempo estranho no decorrer do ano e as roupas são mais quentes, pesadas, teriam pouco uso ou nenhum em Aracaju, logo orientei que a mesma levasse nas malas apenas as roupas leves de verão.

Decidimos sair pra jantar hoje à noite, nosso voo estava marcado para amanhã às 15:45 e sugeri para Laura que juntássemos seus amigos e o pessoal do tribunal para um jantar de despedida num restaurante que adorávamos e que certamente sentiríamos saudades. Chegamos por volta das 20:15h e a mesa que reservei mais cedo já estava quase preenchida com alguns amigos da minha irmã e outros colegas meus do trabalho. A noite foi divertida, embora o clima de despedida deixasse o coração apertado, eu estava feliz em voltar pra casa e esse sentimento sobressaía.

Por volta das 23:40h nós já estávamos de volta em casa, Laura estava com duas amigas que dormiriam com ela e eu avisei que não precisava me esperar porque talvez não dormisse em casa, precisava me despedir de alguém.

Fiz poucas amizades em São Paulo. Conheci mais pessoas importantes do que desejei, pessoas que só se aproximavam por interesse ou por conveniência e isso me fez ser mais seletiva do que eu já costumava ser e com isso, as minhas relações nessa cidade foram bem estreitas.

Conheci a Valquíria numa social na casa de uma colega do fórum e logo de cara nos demos bem e viramos boas amigas. Val sempre tentou estar mais perto de mim do que eu permitia, sempre quis ocupar um lugar que claramente eu nunca mais deixei aberto para alguém, mas depois de 3 anos, em uma noite de pizza e boa conversa, restávamos apenas nós duas na sala da casa dela e quando dei por mim, aconteceu. Não estávamos sob efeito de álcool, não estávamos querendo curar a carência e nem nada que fosse perto disso, acho que nesse dia eu apenas me deixei permitir. Depois disso mantivemos uma relação saudável e honesta demais da minha parte: Valquíria sempre soube que meu coração estava fechado. Que nossa relação não avançaria mais do que encontros casuais.

Passávamos algum tempo juntas, dividíamos momentos especiais, mas nunca me deixei envolver mais do que meu alarme do coração alertava e com isso os nossos dias juntas eram baseados em boas conversas, dividíamos nossas vivências e trocávamos experiências profissionais, já que Valquíria também era juíza numa comarca de São Paulo, muito boa no que fazia inclusive. Renomada e respeitadíssima, isso inclusive me deixava bastante orgulhosa. E sim, Val era uma mulher linda. Quando cheguei em sua casa ela me esperava na sala e bebia um vinho enquanto ouvia uma playlist feita por nós duas e que tínhamos o hábito de ouvir juntas, entrei e sentamos no sofá, Val se aproximou e deixou um beijo suave na minha bochecha:

- Lu, querida, senti saudades, pensei que iríamos conseguir nos ver antes - fez um carinho em meu braço - mas a correria daquele tribunal não me deixou marcar contigo antes - ela disse calma enquanto me abraçava.

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