Encontro de almas

1.1K 145 98
                                    

POV LUIZA

O desejo de ser mãe sempre foi algo forte e presente em mim. Desde novinha eu sabia que a maternidade faria parte da minha vida. Quando a Laura nasceu eu tive certeza que precisava ter filhos. Exatamente, no plural, filhos.

Eu e a Valentina sempre tivemos o desejo de fazer isso juntas. Desde o início do nosso namoro, ainda na adolescência, o assunto nos fazia imaginar inúmeros cenários onde estávamos casadas e com uma casa cheia de filhos.

Eu sei que a vida foi cruel em alguns aspectos comigo. Sei que as dores que me atingiram deixaram feridas enormes, mas não posso esquecer o quanto de coisa feliz e especial existe dentro da minha trajetória.

Quando eu comecei a me decepcionar com o Gustavo, foram vários os questionamentos que surgiram em minha mente. Eu me questionei quanto a minha capacidade de cuidar, de amar, de proteger. Eu me questionei quanto a fato de poder ser uma boa mãe caso um dia eu viesse a ter filhos. Tudo que o Gustavo fez comigo e com as pessoas que eu amo foi cruel demais. Mas me fazer questionar quanto tudo isso me despedaçou.

A terapia me trouxe de volta em inúmeros aspectos. Eu voltei a confiar no processo de cura e entendi que eu não posso me culpar por ter convivido com um ser humano tão desprezível quanto ele. Eu não tive culpa. Meus pais não tiveram culpa. A Valentina e a Laura não tiveram culpa. O único culpado foi ele. Entender isso me fez validar todo o resto ao meu redor. E o que eu enxergo ao meu redor é a certeza de que eu sempre dei o melhor de mim pra minha família, pra Valentina e principalmente pra Laura. Me culpar pelos erros do Gustavo não faz mais parte de mim.

Passava das 20h quando a Cecília terminou a primeira mamada. Ela dormia tranquilamente no bercinho ao lado da minha cama sendo observada pela Valentina que a olhava encantada. Eu me sentia ansiosa pra o nosso encontro com a Laura, foram tantas as vezes que eu chorei sozinha com medo que esse encontro não acontecesse. O últimos meses me atormentaram, me fizeram questionar tantas coisas. Eu nunca externalizei pra ninguém o quanto tudo que aconteceu me fez sentir incapaz, vulnerável, de mãos atadas. Eu me culpei por não ter enxergado a minha irmã adoecer tão rápido. Me questionei se seria capaz de cuidar da Cecília, então, estar aqui prestes a apresentar a minha filha para minha irmã deixa meu coração finalmente tranquilo.

Fiquei observando a Valentina que já estava sentada na poltrona do quarto com a Cecília nos braços a ninando, seus olhos brilhavam e transbordavam amor. Eu pensei que só eu fosse capaz de arrancar esse olhar apaixonado da minha esposa, mas a Cecília faz isso sem esforço algum.

Eu sentia meus olhos um pouco pesados, meu corpo estava em total exaustão e por mais que eu estivesse tentando ao máximo me manter acordada, me entreguei a um cochilo até que ouvi uma das enfermeiras entrar no quarto.

- Com licença, boa noite! - falou com a voz baixa e suave - Dona Luiza, vamos lá? - perguntou sorridente - A Laura já está pronta pra receber vocês! - informou com um sorriso suave no rosto e meu coração imediatamente acelerou - Ela está um pouquinho sonolenta por conta da anestesia, mas é totalmente normal, certo? - assenti em silêncio e ela continuou - Então não precisa estranhar caso ela fale um pouco mais lenta, é compreensível. - explicou - Eu trouxe duas roupas cirúrgicas para que vocês possam entrar no quarto dela em segurança e consigam aproveitar ao máximo a visita.

- Duas? Como assim? - questionei.

- Sim, duas. - falou sorridente - A liberação inclui a dona Valentina também, claro que seguindo as mesmas recomendações quanto as proteções e contato com a Laura. - informou fazendo eu e Valentina sorrir juntas.

- É sério? Meu Deus! - Valentina falou emocionada - Eu não tinha me preparado pra esse momento, mas me sinto pronta. - disse animada.

- Peço que vocês não retirem a máscara de jeito algum, tudo bem? Sei que o momento é delicado pra vocês mas isso é importante pra Laura, a Dra. liberou que ela pegue a Cecília no colo por alguns momentos, esse é o único contato direto que ela poderá ter, a visita vai durar no máximo 30min e em seguida eu trago vocês de volta. - finalizou e nós agradecemos em meio a sorrisos, pra quem não ia poder se quer vê-la, ter 30 minutos com a minha irmã e minha filha juntas será mais do que maravilhoso.

RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora