POV LAURA
Se alguém me dissesse que a minha vida mudaria completamente por conta de uma doença um ano e meio atrás, eu facilmente não acreditaria. Acho que de todas as coisas que pensamos que podem acontecer com a gente, dificilmente pensamos em algo tão grave.
Eu quase morri. Sim. Exatamente isso: EU QUASE MORRI.
Pensar sobre isso me deixa apavorada. Pensar que por muito pouco eu poderia não estar aqui me deixa realmente muito apavorada.
Exatamente um mês atrás eu estava recebendo a medula óssea da minha irmã que salvaria a minha vida e nesse mesmo momento também nascia a minha sobrinha, Cecília. Eu sempre ouvi a minha irmã explanar ao mundo o quanto ela ficou feliz com o meu nascimento, o quanto ela se viu apaixonada por mim desde a primeira vez que seus olhos me enxergaram e o quanto a minha existência a salvou, então, confesso que chega a ser um tanto curioso que 16 anos depois a existência dela tenha me salvado.
A Luiza sempre foi a personificação do amor pra mim. De modo geral, quando eu penso em amor, a primeira pessoa que me vem na mente é a minha irmã. Em todos os melhores momentos da minha vida ela esteve lá. Como também esteve em todos os momentos difíceis em que eu precisei de colo, cuidado, proteção e amor. Sempre que eu imaginei que ela não fosse capaz de me mostrar mais sobre esse amor que diz tanto sentir por mim, ela vem e me surpreende. Dessa vez não foi diferente, ela conseguiu de novo me surpreender totalmente.
Minha irmã foi a figura materna que eu escolhi a dedo quando descobri que ela é a minha pessoa favorita no mundo. E não, não fiz essa escolha porque a minha mãe falhou na missão dela como mãe ou algo do tipo, jamais, fiz porque mesmo sem precisar ou que ao mesmo pedissem, tudo que ela sempre me ofereceu foi o amor na sua forma mais pura: zelo.
Quando eu recebi a notícia de que a Lu iria morar fora e que eu teria que aprender a viver a minha vida sem a presença física dela todos os dias como sempre foi desde o dia que eu nasci, eu literalmente adoeci. Foram dias difíceis onde o meu corpo demonstrou o que eu não conseguia dizer em palavras. Eu era apenas uma criança, uma criança totalmente apegada a irmã mais velha e que de repente recebeu umas das notícias mais dolorosas até hoje. Quando finalmente meus pais e ela conversaram e decidiram me mandar junto, meu coração de novo ficou em paz.
Hoje eu acordei mais cedo do que o habitual. Quando a enfermeira veio fazer a primeira visita da manhã eu já estava sentada na cama lendo um livro que eu ganhei da tia Debs.
- Bom dia!!!! Caiu da cama hoje, Laurinha? - a enfermeira perguntou baixinho enquanto retirava cuidadosamente o soro do meu acesso.
- Bom dia! - falei em meio a um bocejo. - Estou um pouco ansiosa, acordei e não consegui mais pegar no sono, então comecei a ler um pouco. - expliquei e ela se aproximou de mim alisando meus cabelos num gesto de carinho.
- Normalmente você acorda quando eu chego, logo estranhei que algo estava errado. Vamos para o provável último banho antes da alta médica? - ela disse animada me arrancado um sorriso.
- Vamos, eu não vejo a hora de voltar pra casa! - respondi enquanto ela me ajudava a levantar da cama - Foram mais de dois meses desde a internação, eu estou prestes a enlouquecer aqui dentro - disse em um tom descontraído mas cheio de sinceridade.
- A ala de psiquiatria nem combina com você, certo? Nada de enlouquecer, demorou mas o dia da alta finalmente chegou! - ela falou rimando e nós duas caímos na risada.
Passava das 9h da manhã quando a tia Debs chegou no hospital, desde o dia que a médica falou sobre a alta eu conversei com a mamãe para que fizéssemos uma surpresa pra mana. Eu sei que ela estava louca pra que eu saísse daqui em sua companhia, mas com certeza chegar em casa sem que ela faça ideia que estou de alta vai deixar ela muito mais feliz.
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Recomeços
FanfictionCiclos. Oportunidades. E quando no meio de tudo, um recomeço refaz a rota do seu coração e te leva a um lugar não tão desconhecido? Até onde você estaria disposta a recomeçar? Depois de 7 anos, Luiza decide recomeçar. Ela sabia que isso te levaria...