VI

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Jo estava sentada no chão em um dos seus pontos escondidos da escola. Ela precisava terminar uma lição pendente, mas tinha se esquecido dela.

No geral, a garota fazia as suas tarefas. Era uma aluna mediana. Mas poderia, e tinha capacidade, para ser uma aluna com melhor desempenho se se esforçasse um pouco mais. Ela sabia disso, mas não o fazia simplesmente por não querer.

Ela poderia muito bem terminar a tarefa no conforto da biblioteca da escola, mas não poderia fumar no lugar como fazia agora, então escolheu estar onde estava agora.

E geometria não era o seu forte também... e ela usava, além de outras razões, o poder da nicotina em seu cérebro para conseguir se concentrar, achava que a ajudava.

Isso era tão verdade, que ela nem mesmo reparou nos passos de alguém se aproximando.

Era Frances.

Olhando não duas, mas três vezes ao seu redor só para se certificar que nenhum funcionário da escola, ou a sua própria mãe, estava a observando ir para aqueles cantos da escola. Segurando os livros na frente do seu peito e uma alça da mochila no ombro direito, ela encontrou Jo sentada não muito distante de uma lata de lixo verde enorme. O lugar não fedia, no entanto. Logo ali na entrada daquela espécie de viela entre duas edificações da enorme escola.

— E o prêmio de melhor aluna vai para...

Jo levantou a cabeça para olhar a garota que lhe sorria e voltou a atenção para a sua folha de caderno quase toda preenchida. Se as respostas estavam certas, já era outra história. Aliás, história. Essa sim era uma das matérias que interessavam Jo. Não essa falta de nexo de letras e números e figuras tudo misturado.

Parecia uma porra de sopa de letrinhas na cabeça dela.

— O que você quer, Frances? — ela resmungou com o cigarro pendendo a boca.

A outra se abaixou até ficar da altura de Jo. Tirou da sua mochila, então, uma case metálica especial para guardar os cigarros e tirou um de lá. Ela o levou a boca e se aproximou de Jo para poder aproveitar a chama fraca que saía das cinzas do cigarro dela e ascender o seu. Deu umas baforadas antes de tirar o cigarro da boca e soltar a fumaça. Frances estava agachada com o cigarro na mão esquerda, apontado pra cima, observando Jo. Que estava com a atenção voltada para o caderno ainda. Aquilo estava começando a incomodar Frances.

— Você não tem me ligado ultimamente — Frances enrolou a ponta dos fios de cabelo de Jo com o seu indicador livre e depois iniciou um carinho na bochecha dela, mas Jo desviou do contato.

— Estive ocupada.

— Senti sua falta — Frances confessou com um suspiro. Aproveitando e baforando a fumaça também, para baixo, para não pegar com tudo no rosto de Jo.

— Passou pela sua cabeça que eu não quisesse falar com você, Frances? — Jo a olhou com tédio agora. Frances estava atrapalhando a sua paz e o seu raciocínio.

— Se está assim por causa do lance do jantar, eu já disse que não sabia que a sua mãe ia aparecer lá, Jo. E isso foi há, tipo, séculos atrás. Pensei que já tivesse esquecido isso.

— Não é por causa disso. Não é nada, na verdade. Eu só estive ocupada, ok?

— Então estamos bem? — quando Jo assentiu, Frances soltou um riso de canto e jogou o seu cigarro para o lado, no chão. Ela se livrou do de Jo também. Que não teve nem tempo de reagir porque Frances segurou os lados do seu rosto e a atacou num beijo lascivo, cheio de vontade. Pelo menos de uma parte.

— Vai pra minha casa hoje depois da escola — Frances afastou o caderno do colo de Jo, tomando o lugar do mesmo segundo depois.

— Frances... espera... — Jo tentou se afastar e pegar seu material sem sucesso, as mãos de Frances colocaram as dela em sua própria cintura.

Renegade (b.e)Onde histórias criam vida. Descubra agora