VIII

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Vestiário feminino do Colégio Acadia. Início da tarde.

Aqui estava eu. Me encarando no enorme espelho do vestiário feminino sozinha.

Com um laço de fita azul prendendo o meu cabelo azul e tudo. Zoe tinha me ajudado com isso. Ela tinha me ajudado com tudo na verdade. Desde o cabelo até tentar me acalmar porque eu estava nervosa com o teste. Os meninos também tentaram, não aqui no banheiro, é claro, mas mais cedo. Eles estavam do lado de fora da quadra esperando que o teste acabasse e mandando energias positivas agora. O teste e o os ensaios eram proibidos de serem observados por quem não fazia parte do time. Ordens da assustadora treinadora loira.

Mas não era com o teste em si que eu estava nervosa, e sim como as pessoas iriam me ver com essa roupa. Eu estava com o maior top que eles tinham disponível, por conta dos meus seios, é óbvio. Eles chamariam muita atenção de qualquer forma. E a minha barriga de fora também não é algo que nem eu mesma estou acostumada a ver. Eu sempre acho que poderia ser um pouco mais magra, por isso venho caminhando e correndo cada vez mais. Tenho a sensação de que meu peso nunca será bom o suficiente.

Suspirei profundamente e abaixei a cabeça, segurando com as duas mãos, que eu sentia suadas, o banco grande de mogno que eu estava sentada.

Qual é, Billie, você precisa se acalmar. Vai acabar estragando tudo.

Mas as dúvidas não paravam de surgir e pipocar na minha cabeça. E se o meu tornozelo falhar? E se eu não for boa como antigamente? E se eu cair... tinham tantas coisas que poderia acontecer durante esse teste. Era estranho eu estar aqui agora também, por falar nisso. Eles tinham encerrado os testes semana passada, mas de alguma forma Jo conseguiu que eu tivesse a chance.

Jo...

Eu também estou um pouco preocupada com ela. Faz dois dias que não nos falamos, desde a mensagem que me mandou dizendo para eu me preparar para o teste. De alguma forma ela tinha conseguido isso. Mas desde então, nada. Nem mesmo as minhas mensagens ela tem respondido.

Cheguei até a perguntar para Frances se era verdade a coisa do teste e ela tinha confirmado, disse que Jo conversou com ela e lhe disse para abrir uma exceção para mim. Foi o que eu tinha pensado. Como elas pareciam se conhecer mais, perguntei se ela sabia o que estava acontecendo com Jo, mas Frances apenas disse que não sabia de nada.

Talvez ela estivesse ocupada com alguma coisa séria. Eu só espero que ela esteja bem.

Olhei no meu celular. 2 e 15. Estava na hora.

Me levantei do banco e peguei minha bolsa, comecei a repetir pra mim mesma que eu conseguia fazer isso. Eu tinha essa coisa de imaginar até se tornar realidade, ajudava um pouco.

Olhava para o chão enquanto caminhava e assim que abri a porta e levantei a cabeça, meu corpo colidiu com alguém que entrava.

— Oh... oi, Pirata.

Jo.

Eu não consegui e nem quis disfarçar o enorme sorriso que começou a se formar nos meus lábios assim que eu a vi ali na minha frente, com o seu característico canto da boca erguido num meio sorriso.

— Oi... o que está fazendo aqui?

— Achou mesmo que eu perderia isso? Qual é — ela soltou uma risadinha e encostou o seu punho no meu ombro. — Qual é o problema? Não queria me ver?

— Não! Nada disso — falei e desviei o olhar apertando o meu dedo indicador com o polegar e o indicador da mão esquerda. Jo podia olhar para as coisas com cara de tédio, mas às vezes seus olhos ficavam intensos demais e brilhantes, como agora. — Eu só estou um pouco nervosa.

Renegade (b.e)Onde histórias criam vida. Descubra agora