XXIII

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— Eu só estou dizendo, Joe estava completamente errado, cara. A culpa daquele rolê todo foi dele.

Eu revirei os olhos com a resposta de Dylan. Eu, ele, a namorada dele e Zoe estávamos sentados na mesa do refeitório. Jesse e Devon saíram para se pegarem em algum canto da escola.

— Claro que não, Dylan. Merda, ok, me diga, você ama alguém? Tipo, pra caralho?

— Claro que sim! Minha família, minha namorada — ele olhou pra ela e deram as mãos. — Meus amigos...

— Então você faria tudo o que tivesse ao seu alcance para proteger eles, não é?

— Sim... mas não acha que é meio demais matar meio mundo, e estamos falando num mundo pós-apocalíptico onde tinham poucos humanos, e inclusive um médico que poderia encontrar a cura para a infecção?

— Mas ele iria perder Ellie. Ele não podia perder a filha duas vezes, cara. O cara não ia ter motivos mais pra viver, então, qual é o ponto de qualquer forma?

— Então você acha que ele foi o herói do jogo? É isso?

— Claro que não. Não existe essa coisa de herói, cara. Ninguém nessa vida presta, ok? — eu suspirei e apontei para a mesa com o indicador. — Mas esse não é o ponto é: ele fez tudo isso por amor, beleza? Eu faria a mesma coisa sem precisar pensar muito.

— Eu acho que isso é um maldito discurso de um anti-herói — Dylan balançou a cabeça. — Sacrificar o mundo por causa de 1 pessoa? É egoísmo, isso sim. Ele não estava pensando direito. E se pensou era um fodido egoísta.

— Eu não me importo — dei de ombros. Ficaríamos nesse impasse eterno. Peguei minha maçã verde e mordi. — Eu faria o mesmo.

— E quer saber do que mais? — Dylan recomeçou. — Ele ferrou com tudo. Cavou a própria morte na sequência, foi bem feito, alías...

— Como você ousa dizer isso, mano? — minha boca estava semiaberta por uns segundos. Voltei a mastigar a maça enquanto olhava o rapaz, agora com cabelo azul, e balançando a cabeça. — Você não jogou a porra do jogo, não é possível. Você é insensível, cara. Merda. Joe só...

— Ah, não — Zoe falou e a gente olhou pra ela agora. — Vocês não vão voltar a falar desse... jogo de novo. Mudem o assunto ou calem a boca, eu não quero mais ouvir vocês discutirem por mais meia hora sobre alguma coisa que eu não faço ideia do que é.

Ok, caramba, Zoe.

Nós mudamos o assunto pra várias outras coisas pequenas. O jogo de futebol ontem à noite, sobre os planos para férias de verão, de como o bigode do professor Truman já tinha desenvolvido consciência própria há anos. Eu juro, o Truman é que habita naquele bigode, cara. Quase não dá pra ver o rosto dele mais. Acho que precisaria de um aparador de grama pra cortar aquilo. Eu ri um pouco enquanto conversa com os amigos de Billie, eles não eram tão horríveis assim quanto eu imaginava.

Billie não vem à escola há dois dias, mas estará de volta depois de amanhã. Ainda vai ter que usar muletas e a bota por mais uns dias. Ela tá se recuperando bem, pelo menos.

— Psst — Lydia chamou minha atenção e apontou com a cabeça para algum lugar atrás de mim.

Frances se aproximava da nossa mesa com os livros na frente do peito.

— Jo, precisamos conversar.

— Não tenho nada pra falar com você — me virei para frente outra vez. Mesmo assim a garota puxou uma cadeira de outra mesa e puxou pra perto de mim, sentando em seguida.

— A gente tá de saída, Jo — Zoe falou se levantando junto com os outros. — De repente o clima pesou.

— Até mais — Dylan falou comigo e tocou meu ombro, Lydia me ofereceu um sorriso de despedida.

Renegade (b.e)Onde histórias criam vida. Descubra agora